Organizador
Ezequiel Redin
Editora Poisson
Ezequiel Redin
(Organizador)
Agroecologia em Foco
Volume 5
12 Edição
Belo Horizonte
Poisson
2020
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade
Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza — Universidade Federal de Minas Gerais
Ms. Davilson Eduardo Andrade
Dra. Elizângela de Jesus Oliveira — Universidade Federal do Amazonas
Msc. Fabiane dos Santos
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes — Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves — Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima — Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho — Faculdades Kennedy
Ms. Valdiney Alves de Oliveira — Universidade Federal de Uberlândia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
A281
Agroecologia em Foco - Volume 5/Organização:
Ezequiel Redin - Belo Horizonte - MG:
Poisson, 2020
Formato: PDF
ISBN: 97/8-65-5866-035-4
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
1. Agroecologia 2. Ecologia. 3. REDIN,
Ezequiel I. Título
CDD-577
Sônia Márcia Soares de Moura - CRB 6/1896
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de
responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.
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contato(Dpoisson.com.br
Capítulo 1: A importância da Agroecologia como ferramenta de experimentação
didatica na CStensao UNESA NIA sapato nisi sa aaa Era Ge 07
Eduardo Teles Barbosa Mendes, Joyce Aparecida Tavares de Miranda, Aline Pirola Rossetto, Raissa Dias
Theberge, Sebastião Soares Junior
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.01
Capítulo 2: A agrofloresta como ferramenta pedagógica: Uma análise de duas
experiências de Educação Ambiental em escolas públicas do Distrito Federal............. 14
Ana Braga Dorneles, Ana Tereza Reis da Silva
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.02
Capítulo 3: Atividades educativas com base na cartilha Plantando o Amanhã em escola
rural do municipio dé Lagoa Seca-PB auaasa adiciona apa saite 18
Mariana Coelho Bezerra, Shirleyde Alves dos Santos, Maria do Socorro Alves Bezerra Xavier, Ana Maria
Coelho Bezerra, Ailsa Cristiane Arcanjo Soares
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.03
Capítulo 4: Capacitação como educação continuada: Perspectivas de conversão
agroecológica em produtores de hortaliças... meets Za
Antonio Wagner Pereira Lopes, Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante, César Giordano Gêmero, Cesar Augusto
Feliciano
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.04
Capítulo 5: Metodologias de ATER para mulheres rurais através de capacitação com
abordagem agroecológica para inclusão e desenvolvimento .................. 27
Antonia Julliana Sarafim Bezerra, Jaiane da Silva Barbosa Evangelista, Marcivânia Mascarenhas Oliveira,
Ana Lucia Monteiro de Sousa, Ailton Cezar Alves da Silva, André Luiz Teles Aguiar
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.05
Capítulo 6: A problematização do conceito de camponês e o seu uso na rede Sementes
da PAO a ie 30
Jonatta Sousa Paulino
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.06
Capítulo 7: Transição agroecológica no Assentamento Chico Mendes III - PE.............. 35
Jorge Luiz Schirmer de Mattos, Jorge Roberto Tavares de Lima, José Nunes da Silva, Gustavo Silva Carreiro
de Souza, Flávio Duarte da Fonseca
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.07
Capítulo 8: Dinâmica espaço-temporal da agropecuária no Município de Primavera,
Estado do Pará: Subsídios para a transição agroecológica.............mmmeamameeaaams 45
Caio Cezar Ferreira de Souza, Marcos Antônio Souza dos Santos, Fabrício Khoury Rebello, Cyntia Meireles
Martins, Maria Lúcia Bahia Lopes, Antônia do Socorro Aleixo Barbosa
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.08
Capítulo 9: Transição agroecológica, potenciais e desafios: Caso do Sítio Brejo Queimado
= [UAreiro do NONE Chao is Ea ag E ira 54
Raquel Barros Justino, Maria Adriana Alves Dantas, Deiziane Lima Cavalcante, Manoele Magda de Sousa
Silva, Geraldo Barros Justino
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.09
Capítulo 10: Pronatec Campo: Produção de alimentos de base agroecológica em
Assentamento de Reforma Agrária de Andradina (SP)... messes 60
Rosilva Brito Rodrigues, Fernando Christiano Morelli, Karem Cristine Pirola Narimatsu
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.10
Capítulo 11: Vulnerabilidade social e ambiental, ações em busca de soluções ............ 64
Simone Ceccon, Wéliton Perez da Silva Matos, Juliana Cristina Ribeiro
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.11
Capítulo 12: O processo de aquisição de alimentos praticado pelo Programa Nacional de
Alimentação Escolar no Município de Marapanim, Pará... mma 70
Tahnity Haarad Moura Chaves, Amanda Rayana da Silva Santos, Rosana Quaresma Maneschy, Wagner Luiz
Ramos Barbosa
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.12
Capítulo 13: Hereditariedade do uso das plantas medicinais. Que caminho estas
informações trilham até os dias atuais? Estudo de caso no Povoado Juá, município de
Falo onso Bs de Ds DSG 85
Ana Elisabeth Cavalcanti Santa Rita, Caroline Cruvinel de Souza, Lara Izabel Pires Cândido, David
Fernandes Lima, Márcia Bento Moreira, Carlos Henrique Brandão Gomes
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.13
Capítulo 14: Cultivo de plantas medicinais em Arari, Maranhão... 89
Renata da Silva Bomfim Gomes, João Flávio Bomfim Gomes, José dos Santos Benício
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.14
Capítulo 15: Atributos microbiológicos do solo em área de pastagem degradada e em
áreas reabilitadas sob manejo agroecológico.............. mea 92
Vicente Paulo da Costa Neto, Delânio Brasil de Siqueira, Cyro Henrique Lima dos Santos, Lucas Alexandre
Ribeiro Carvalho, Valdinar Bezerra dos Santos, Flávio Luiz Simões Crespo
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.15
Capítulo 16: Morfoanatomia de Mentha x villosa Huds. em diferentes sistemas de
(Sib 0/50 pao RPPN NENE ME RIDE CRER TR CEDER IR E EU ODDS SE RO PR 102
Ana Carolina Bezerra, Luana da Silva Barbosa, José Flávio Cardoso Zuza, Adjair José da Silva, Kaline Lígia
do Nascimento, Camila Firmino de Azevedo
DOI: 10.36229/978-65-5866-035-4.CAP.16
Capítulo 1
A importância da Agroecologia como ferramenta de
experimentação didática na extensão universitária
Eduardo Teles Barbosa Mendes
Joyce Aparecida Tavares de Miranda
Aline Pirola Rossetto
Raissa Dias Theberge
Sebastião Soares Junior
Resumo: A Ilha do Fundão, onde se situam a Ocupação Verde no campus da UFRJ, e a
Escola Municipal Tenente Antônio João, foi construída por aterramento. O arquipélago
original era formado por nove ilhas e o aterro desencadeou processos de transformação
ambiental diversos, incluindo prejuízos para o ciclo de águas da Baía de Guanabara e
modificações sócio-espaciais contínuas. O objetivo do presente trabalho foi realizar uma
vivência agroecológica na Ocupação Verde com estudantes de 4º ano do ensino
fundamental da Escola Municipal, evidenciando transformações sofridas no local. Foram
também apresentados conceitos sobre composteira, minhocário, espiral de ervas e
realizada a prática de plantio de mudas pela técnica de cultivo em pseudocaule de
bananeira. Ao final do trabalho foi feita uma avaliação da vivência em roda de
encerramento com as crianças. À atividade foi enriquecedora a todos que participaram e
propiciou ideias que aperfeiçoaram vivências posteriores. Destacamos a relevância da
agroecologia como ferramenta didática em atividades de extensão universitária, tanto
do ponto de vista da experimentação didática que faz parte da formação pedagógica dos
graduandos em curso, quanto para a manutenção de diálogos entre o ambiente
acadêmico e a sociedade que o financia.
Palavras Chave: Educação ambiental; Conhecimento agroecológico; Vivência
agroecológica; Extensão universitária
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
“Parto do princípio que educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve
e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as
múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e
na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a
adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para
destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se
refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as
dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não-
dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social;
sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc.”
(LOUREIRO, 2004).
O Projeto de Extensão em Agroecologia Capim Limão foi formado em 2006, no Instituto de Biologia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (IB-UFRJ), situado à Ilha do Fundão, por estudantes do curso de
Ciências Biológicas. Através deste projeto são realizados experimentos voltados à restauração ambiental
de aterro com base em princípios e práticas agroecológicas em uma área de aproximadamente 3.500 m? a
qual denominam “Ocupação Verde”. A Ocupação Verde foi oficializada desde 2010 como “Campo
Experimental de Recuperação de Áreas Degradadas com Sistema Agroflorestal”, pertencente ao IB-UFR],
onde também são realizadas aulas práticas, como na cadeira de Ecologia Aplicada (ÁZARA, TUBENCHLAK
& LIMA, 2018).
Desde 2015, o Projeto Capim Limão está inserido na Rede de Agroecologia da UFR], cuja função é articular
as atividades individuais e coletivas dos dezessete projetos de extensão em agroecologia atualmente
existentes na UFRJ, bem com fortalecer a divulgação e o contato entre as redes de agroecologia existentes
por todo país, facilitando assim as ações que propõem sistemas e formas de produção agrícola que sejam
ambientalmente saudáveis e socialmente mais justas (BRITO et. al.2018).
A Ilha do Fundão foi construída por aterro utilizando areia dragada da Baía de Guanabara e solos oriundos
da Colina do Fundão (SANTOS, AGARES & NORONHA, 2000). O arquipélago original era formado por nove
ilhas: Ilha das Cabras, do Baiacu, do Catalão, do Fundão, Pindaí do Ferreira, Pindaí do França, Bom Jesus,
Sapucaia e dos Macacos. Esse aterramento desencadeou processos de transformação ambiental diversos, e
modificações sócio-espaciais contínuas (AMARAL, 2006). Reconhecendo a importância de se divulgar os
processos de restauração ambiental através de práticas agroecológicas, bem como difundir a
permacultura e agroecologia, desde 2014 o Projeto Capim Limão tem voltado suas ações também para
experimentação didática. O Projeto trabalha em parceria com outros coletivos de agroecologia, além de
agricultores de regiões próximas à Universidade. Um Projeto de extensão parceiro do Capim-Limão, o
Projeto Mutirão de Agroecologia (MUDA), foi que iniciou o trabalho com educação ambiental, ministrado a
turmas do 4º ano do Ensino Fundamental, da Escola Municipal Tenente Antônio João, também situada à
Ilha do Fundão. Buscando complementar essas ações e tornar a Ocupação Verde acessível também à
população local, a partir deste contato, surgiu a oportunidade de receber esses alunos para uma vivência
agroecológica. A maioria desses estudantes reside nas comunidades localizadas ao entorno do campus da
Universidade, como no Complexo da Maré e Vila Residencial, fato que concordou com o interesse dessa
vivência, em realizar uma troca de saberes com os alunos participantes. Esses locais citados são
apresentados na Figura 1.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Figura 1 - Representação da Ilha do Fundão (Campus Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro),
situada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. À esquerda: carta que ilustrando a região do Complexo da Maré
e Ilha do Fundão, presente no material didático “Ilha do Fundão e Maré: entendendo o passado para
pensar o futuro diferentes tempos históricos da região” (ROSSETTO, 2016). À direita: imagem extraída do
Google Earth, circundado em amarelo está a Ilha do Fundão. Pontos de destaque em vermelho: A -
Ocupação Verde; B - Escola Municipal Tenente Antônio João; € - Vila Residêncial; D - Complexo da Maré.
O objetivo do presente trabalho, foi realizar uma vivência na Ocupação Verde com alunos do 4º ano da
Escola Municipal Tenente Antônio João, evidenciando as transformações sofridas e trazendo à tona a
memória histórico-familiar e cultural do local. Além disso, buscamos introduzir conceitos de agroecologia
e permacultura, como técnicas de gestão de resíduos orgânicos, otimização de cultivos e relacionando
hábitos alimentares às práticas de agricultura. Também exploramos a percepção sensorial através dos
elementos presentes no ambiente.
2. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
A atividade foi realizada em 24 de novembro de 2014 e iniciou com uma roda de apresentação onde 20
alunos da Escola Municipal, 7 facilitadores pertencentes ao Projeto Capim Limão e a professora da turma
disseram nome, idade, onde moram e o que mais gostavam de comer. Ainda em roda, foi abordado o tema
sobre o aterramento da Ilha e questionado se tinham conhecimento de seus familiares viverem à época na
região. A abertura da vivência é apresentada na Figura 2.
Figura 2 - Roda de abertura e apresentação da vivência Agroecológica com a turma do então quarto ano
da Escola Municipal Tenente Antônio João, localizada na Ilha do Fundão, na cidade do Rio de Janeiro.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Após as apresentações, foi proposto ao grupo participante uma questão sobre a definição da palavra
“mutirão”, a qual diversos alunos discutiram suas respostas e ideias com os demais. Posteriormente, foi
entoada uma cantiga tradicional.
“Pega a cabaça, espalha a
semente e planta do lado que o Sol
nasceu (2x) /Tapinderê, Tapinderê/
Esse é o caboclo Tapinderê (2x)”.
Dando sequência, os alunos iniciaram uma trilha guiada, onde foi apresentada a composteira e o
minhocário, com breve orientação sobre seus funcionamentos. Ao longo da atividade foi proposta a troca
de conhecimento sobre plantas, animais e fungos do local. Foram apontadas algumas árvores nativas
presentes, como a Embaúba (Schefflera arboricola), o Guapuruvu (Schizolobium parahyba), Pau-brasil
(Caesalpinia echinata) e Ipê (Tabebuia chrysantha), destacando também relações ecológicas animal-planta.
Em outro ponto da trilha, foi mostrado o espiral de ervas, acompanhado de explicação sobre as plantas
medicinais, aromáticas e Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Na atividade seguinte, foi
realizada a técnica do plantio de hortaliças em cavidades feitas em pseudocaule de bananeira. Este método
é ideal para ambientes com solos empobrecidos de nutrientes e restrita oferta de água, visto que o
pseudocaule é um rico reservatório de ambos os recursos. A técnica consiste em produzir orifícios,
semelhantes a copos, ao longo do pseudocaule, com 7 cm de largura e 5 cm de profundidade, espaçadas
em 15 cm, onde as mudas são plantadas. Realizado isso, enterra-se o pseudocaule, deixando apenas as
mudas expostas. Com o tempo, o pseudocaule passará pelo processo de decomposição, disponibilizando os
recursos necessários para o melhor desenvolvimento das mudas. Na ocasião da atividade, diversas mudas
foram transplantadas, como poejo (Mentha pulegium), limão (Citrus limonum), capim-limão (Cymbopogon
citratus), erva cidreira (Melissa officinalis), graviola (Annona muricate) e orégano (Origanum vulgare).
Ao término do plantio, uma nova roda de conversa foi formada e uma breve avaliação foi realizada entre
os participantes, perguntando o que eles mais e menos haviam gostado. Após a conversa, foi entoada uma
segunda cantiga, agora de encerramento, ainda relacionada ao tema da agricultura:
“Brota, brota, semente de Deus (2x)/
Refresca da chuva, deita na terra (2x)/
Respira, respira, vamos respirar (2x)”.
O encerramento foi feito agradecendo à professora e aos alunos pela visita e convidando-os a retornarem
para vivências futuras.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante a apresentação diversos alunos manifestaram o gosto por alimentos de origem vegetal, como
goiaba, maçã, carambola e jiló, e alguns ainda citaram o chocolate, strogonoff e macarrão ao molho branco.
No decorrer da conversa sobre a construção da Cidade Universitária, cinco alunos sabiam que ali existiam
outras ilhas e, uma das alunas relatou histórias do avô, já falecido, que vivera ali. Os alunos participaram
com entusiasmo das atividades de cantiga e dança, demonstrando menos timidez do que durante a
apresentação pessoal. Ao questioná-los sobre o significado da palavra “mutirão”, um aluno a definiu
precisamente: “é um grupo de pessoas trabalhando juntas por um objetivo em comum”, e a professora da
turma aproveitou a oportunidade para exemplificar, recordando-os das práticas de manejo em horta que a
turma realiza semanalmente na escola.
Os visitantes foram participativos durante o reconhecimento da Ocupação Verde, questionando sobre as
espécies que ali vivem, e muitos demonstraram familiaridade com os temas propostos como plantio,
compostagem e identificação de algumas plantas, e não se intimidaram em degustar de frutos obtidos do
espaço, como a pitanga, a acerola e a flor de hibisco, esta considerada uma PANC (KINUPP & LORENZI,
2014).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Durante a avaliação foram relatadas como experiências positivas a ampla participação e envolvimento de
todos, a oportunidade de se conhecer diversas espécies plantas, a orientação sobre compostagem, a
oportunidade de se falar sobre árvores, e alguns alunos disseram ter gostado de tudo o que viram. Um dos
participantes relatou ter gostado dos cactos e das tocas nas rochas onde vivem os preás (Cavia aperea),
animais comuns na Ocupação Verde.
Como experiências negativas, foram citados por mais de um participante a presença de muitos insetos e as
conversas paralelas entre alguns estudantes, que atrapalharam as atividades. Aspectos negativos citados
por um participante: pouco tempo para as atividades, o tempo de caminhada considerado longo e o fato de
poucas frutas estarem maduras, em especial amora e goiaba. Um dos participantes não gostou das
cantigas, enquanto outro disse não ter gostado do espiral de ervas e da atividade de plantio. Uma das
alunas relatou não ter gostado da história sobre o aterramento da Ilha, e esse fato gerou como
desdobramento a produção - por duas autoras deste trabalho e outros colaboradores - de um material
didático contando a história da Ilha, para o projeto Fundão, que é uma iniciativa de extensão da UFRJ com
foco na formação continuada de professores e na melhoria do ensino de ciências e Biologia nas escolas.
(ROSSETTO et al., 2016).
Os relatos da vivência foram apresentados no IX Congresso Brasileiro de Agroecologia, realizado na cidade
de Belém do Pará, o que gerou uma publicação no periódico Cadernos de Agroecologia (MENDES et al.
2016). A apresentação no evento caracterizou-se de uma roda de conversa entre os integrantes deste
trabalho com autores de trabalhos afim, e uma mediadora. Foi uma interessante troca de experiências,
onde pode-se ouvir relatos de profissionais da educação, contando sobre os desafios de sua atuação em
diferentes partes do Brasil, como no estado de Roraima e Espírito Santo, ao mesmo tempo que
comentamos nossas experiências no Rio de Janeiro. A Figura 3 ilustra essa dinâmica, e o banner que foi
apresentado na ocasião do evento. Optamos pelo design manufaturado, pois acreditamos que este modelo
poderia retratar melhor um trabalho o realizado coletivamente naquele momento.
Figura 3 - A esquerda se observa a roda de conversas e apresentação da vivência durante o IX Congresso
Brasileiro de Agroecologia, na cidade de Belém do Pará, Brasil. A esquerda se vê o banner apresentado
pelos autores deste trabalho.
De maneira geral, todas as crianças demonstraram grande satisfação na realização das atividades,
empenhadas até o término da vivência, em que mesmo exaustas pelo gasto energético, calor e o tempo
demandado para práticas, participaram da avaliação relatando aspectos que influenciaram no
aperfeiçoamento de outras vivências. Foi dada grande importância para a avaliação de uma das crianças
que relatou não gostar de ouvir a história do local. Isso chamou atenção, devido à história ser diretamente
relacionada ao contexto em que sua própria escola foi construída. Visto que a Escola Municipal Tenente
Antônio João se situa no interior do campus universitário e atende à um público diretamente envolvido
nos desdobramentos históricos que se sucederam na região, consideramos essas reflexões históricas de
caráter imprescindível. Essa avaliação oportunizou as reflexões que culminaram na criação de um material
didático com objetivo de construir uma solução lúdica para introduzir aspectos que consideramos cruciais
para práticas de educação socioambiental: o acesso e valorização da história que constrói a memória
biocultural dos povos locais (TOLEDO & BARRERA-BASSOLS, 2015); a reflexão sobre processos histórico-
culturais da região através da exploração de temáticas socioambientais.
Agroecologia em Foco - Volume 5
O envolvimento das crianças e avaliações caminham no sentido de reforçar a importância da
aprendizagem vivencial como parte fundamental do processo pedagógico, já discutida por diversos
autores (CARBONELL, 2002; LOPES & PONTUSCHKA, 2009; MENDONÇA, 2015).
4. CONCLUSÃO
Nesse local de aprendizagem privilegiado que é a natureza, constatamos que as crianças vieram a
expressar livremente suas sensações e emoções em resposta aos estímulos oferecidos. Em geral, lidaram
de forma harmoniosa com os possíveis desconfortos e desafios que surgiram a partir do contato com o
ambiente natural. Dessa forma, entendemos que atividades ao ar livre e de contato direto com a natureza,
como foi essa vivência, são fundamentais para o desenvolvimento de habilidades motoras, afetivas e
cognitivas, principalmente na fase da infância. Além disso, percebemos que com atividades como essa
permite-se abrir espaço para que floresça o encantamento pela natureza e terrenos férteis para o
estabelecimento de vínculos de respeito e afinidade individuais com o meio ambiente.
Por último, destacamos a relevância da agroecologia como ferramenta didática em atividades de extensão.
Destacamos essa importância, tanto para a experimentação didática que faz parte da formação pedagógica
dos graduandos em curso, quanto para a manutenção de diálogos entre a sociedade que o financia. Tais
atividades permitem uma aproximação e troca tanto dos conhecimentos que são gerados dentro da
Universidade, quanto dos conhecimentos populares que existem fora desta, gerando resultados benéficos
para ambos os lados. Isso permite a construção de uma sociedade mais unida e inclusiva, onde a solução
de nossas questões sociais se dê de maneira mais coletiva e com a participação dos diferentes grupos
sociais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Instituto de Biologia da UFRJ pelo incondicional apoio ao Projeto de Extensão
Capim Limão ao longo dos anos. Aos integrantes e ex-integrantes do Projeto: Chico, Lorena Monteiro, Anna
Landim, Érico Freitas, Letícia Telles, Vitor Kellermann, Luisa Ferrer, Thállita Sanches, Matheus Plumm, e
muitos outros colegas que com muita vontade, amor e por acreditarem em uma relação indivíduo-
natureza mais harmônica, têm trabalhado para a continuidade do Capim Limão e pela difusão dos saberes
agroecológicos. Ao projeto de extensão parceiro MUDA pelo contato com o colégio, e à E. M. Tenente
Antônio João pela oportunidade concedida de realizar este trabalho com seus estudantes.
REFERÊNCIAS
[1] AMARAL L.C. P. (2006). Degradação Ambiental e Perspectivas de Saúde: Um Olhar Retrospectivo Sob a Sub-
bacia Hidrográfica do Canal do Cunha. Fiocruz. Rio de Janeiro-RJ.
[2] ÁZARA, L. R.; TUBENCHLAK, F.; LIMA, ].G.S. (2018). Cadernos de Agroecologia - ISSN 2236-7934 - Anais do
VICLAA, X CBA e V SEMDE - Vol. 13, Nº 1.
[3] BRITO, P. F. D.; HESTER, W. J.; LIMA, T. D. A.; SANTOS, L. M. D.; PINHEIRO, L. A. F.; BARROS, J. H. D.S. D.
(2018). Projeto CASA UFRJ-Comunidade Acadêmica que dá Suporte à Agricultura: uma experiência de aproximação
entre produtores e consumidores na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cadernos de Agroecologia, 13(1).
[4] CARBONELL, J. (2002). A aventura de inovar: a mudança na escola. Porto Alegre: Artmed. (Coleção Inovação
Pedagógica).
[5] KINUPP, V. F.; LORENZI, H. (2014). Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo:
IPEF.
[6] LOPES, €. S.; PONTUSCHKA, N. N. (2009). Estudo do meio: teoria e prática. Geografia (Londrina) v. 18, n.2.
[7] LOUREIRO, C. F. B. (2004). Educação ambiental transformadora. Identidades da educação ambiental
brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, p. 65- 84.
[8] MENDES, E. T. B.; ROSSETTO, A. P.; MIRANDA, J. A. T.; THEBERGE, R. D.; SOARES JUNIOR, S. (2016). Vivência
Agroecológica com Alunos de 4º ano na Ocupação Verde do Capim-Limão. Cadernos Agroecológicos, v. 10, p. 1.
[9] MENDONÇA, R. (2015). Atividades em áreas naturais. São Paulo: Ecofuturo.
[10] ROSSETTO, A. P.; THEBERGE, R. D.; ALBUQUERQUE, V. M. L. D.; SAMPAIO, V. L. G; ALBUQUERQUE, V. M. L. D.;
FERREIRA, M. S. (2016). Ilha do Fundão e Maré - entendendo o passado para pensar o futuro: reflexões sobre a
Agroecologia em Foco - Volume 5
produção e uso de materiais didáticos na extensão universitária. Revista de Ensino de Biologia da Associação
Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio), v. 9, p. 3615-3625.
[11] SANTOS R. D. AGARES F, NORONHA F. (2000). Projeto Parque Frei Veloso: Levantamento Detalhado dos
Solos Campus da Ilha do Fundão UFRJ. Embrapa Solos. Boletim de Pesquisa n. 19 p. 69. Rio de Janeiro-RJ.
[12] TOLEDO, V. M. & BARRERA-BASSOLS, N. A memória biocultural. A importância ecológica das sabedorias
tradicionais. São Paulo:Editora Expressão Popular, 2015.
Capítulo 2
A agrofloresta como ferramenta pedagógica: Uma
análise de duas experiências de Educação Ambiental
em escolas públicas do Distrito Federal
Ana Braga Dorneles
Ana Tereza Reis da Silva
Resumo: O objetivo do trabalho foi analisar em que medida e de que forma os SAFs são
acionados em escolas públicas no Distrito Federal (DF). A pesquisa apresenta
alternativas metodológicas para o campo da agroecologia em escolas urbanas. Após o
mapeamento das experiências agroflorestais, duas escolas foram selecionadas. Foram
realizadas observações, registro em diário de campo e entrevistas semi-estruturadas
com os professores envolvidos nas atividades. As experiências se desenharam
diferentemente nas escolas, na primeira o SAF contribuiu de forma transformadora na
relação da comunidade escolar e na segunda escola a dimensão ambiental foi percebida,
porém de forma muito reducionista e comportamentalista, características que ainda se
mostram hegemônicas nas práticas de educação ambiental. Uma abordagem
agroecológica permite acesso a conhecimentos invisibilizados dentro da escola e do
meio urbano, contribuindo para processos educativos mais humanizados e sensíveis aos
problemas contemporâneos.
Palavra-chave: Diálogo de saberes; Sistemas Agroflorestais; experiências educacionais.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
Dentre as ferramentas acionadas pelas escolas em processos de educação ambiental, os sistemas
agroflorestais são usados como ambientes de vivência e troca de saberes devido a sua grande capacidade
geradora de espaços de reconexão com a natureza de forma interdisciplinar. As agroflorestas em sua base
são sistemas de produção alimentar que tem suas raízes no cultivo de pequenos produtores rurais ou
comunidades tradicionais aplicando princípios ecológicos. A exploração de seu potencial educativo é o que
vem sendo realizado em instituições formais e não-formais de educação e essas práticas agroecológicas
carecem de ser investigadas.
A presente pesquisa analisou dois projetos de educação ambiental que utilizam a agrofloresta como
ferramenta pedagógica. O estudo buscou responder, no sentido amplo, as seguintes questões: de que
forma os sistemas agroflorestais (SAFs) são acionados em práticas de educação ambiental? E em que
medida experiências de educação ambiental que acionam SAFs, fornecem elementos que corroboram o
potencial pedagógico desse tipo de ferramenta?
A agroecologia trata mais do que simplesmente do manejo ecologicamente responsável dos recursos
naturais, se constitui em um campo de conhecimento científico com enfoque holístico e sistêmico e que
possui como um de seus princípios a questão da ética, da relação do ser humano e meio ambiente
(Caporal, 2006). Nesse sentido o trabalho contribui com novas possibilidades metodológicas no campo da
agroecologia e se soma a outros estudos que buscam alternativas metodológicas para o campo da
educação ambiental e procuram demonstrar através de estudos empíricos que os sistemas agroflorestais
possuem um potencial muito além da produtividade.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Para mapear a frequência com que o tema tem sido tratado pela academia foi realizada uma pesquisa
bibliográfica de teses e dissertações com foco na relação entre sistemas agroflorestais e práticas de
educação ambiental no DF. O procedimento metodológico utilizado foi a busca por Palavra-chaves:
educação ambiental, Agroecologia, Agrofloresta e permacultura para estudos publicados no período de
2005 ao ano de 2016.
Em um segundo momento foram identificadas 9 escolas no Distrito Federal com experiências
agroflorestais, onde realizamos visitas, sendo 2 escolas foram selecionadas para serem detalhadamente
acompanhadas e analisadas, a saber: o Centro de ensino especial 02 (CEE 02) e o Centro de ensino do Lago
Norte (CEDLAN).
Os procedimentos utilizados para levantamento de dados foram: 1) Observação e registro em diário de
campo, para registro dos enfoques metodológicos e temas discutidos durante as atividades e 2)
Entrevistas semi-estruturadas com os professores envolvidos nas atividades, sobre os aspectos positivos e
limitações no uso dos SAFs.
Na escola CEE 02, o projeto é coordenado por um professor que recebe outros professores-mediadores e
suas turmas de alunos para participar das atividades. Na escola CEDLAN, o professor-coordenador recebe
os alunos do turno integral no turno contrário da aula, e as atividades ligadas a Agrofloresta são realizadas
sem professores-mediadores. Neste caso foi aplicada a entrevista apenas com o professor-coordenador.
Após a fase empírica, procedemos à tabulação e à análise dos dados tendo em conta as especificidades de
cada experiência, seus pontos em comum e, ainda, as limitações e dificuldades identificadas nesses
Contextos. Esse procedimento possibilitou uma análise crítica a partir da qual foi possível propor
caminhos alternativos para a utilização dos sistemas agroflorestais como ferramenta pedagógica.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Constatou-se na pesquisa bibliográfica que dos 444 documentos consultados, apenas 13 documentos
trataram de experiências agroflorestais em escolas, sendo somente 3 deles de experiências no DF,
demonstrando a existência de poucos estudos sobre experiências de educação ambiental com sistemas
agroflorestais.
Como foram observados projetos que se inserem de diferentes formas dentro das realidades escolares, as
experiências foram analisadas separadamente, evidenciando suas riquezas e desafios e, num segundo
momento analisamos seus pontos de convergência e divergência.
Agroecologia em Foco - Volume 5
O projeto Germinar realizado no Centro de Ensino Especial 02 (CEE 02), localizado no centro de Brasília,
surgiu com uma horta no ano de 2010 e em 2014 dois professores começaram a dar os primeiros passos
para implementar a agrofloresta no terreno atrás do espaço físico da escola, que na época nem cercado
era. A área hoje que a agrofloresta ocupa é de 6700 m2. O espaço da horta tem um grande fluxo de pessoas
e se faz presente na rotina de algumas crianças e professores. Alguns visitantes e vizinhos da escola
ajudam doando sementes e contribuindo com trabalho braçal.
A partir das observações podemos inferir algumas características marcantes dessa prática agroflorestal na
escola e a principal é a forte relação construída entre os sujeitos que participaram das práticas. De fato, o
pequeno grupo de crianças construiu uma grande conexão, sempre perguntando sobre áqueles que não
vieram para a atividade e criando uma forte relação. Logo, observou-se que a agrofloresta é acionada como
um espaço mais central nas relações entre crianças e professores e que possibilita uma convivência e
interação com a comunidade.
É nítido o potencial transformador que a agrofloresta propicia à escola, ao ambiente físico e a influência
direta na transformação das relações entre as pessoas, tornando o processo educativo mais humano. O
maior desafio apontado pelo professor é a mudança de mentalidade: nos hábitos alimentares e na
comodidade de estar na sala de aula.
Outra contribuição é na colaboração com alimentos saudáveis na merenda escolar. A abundância de
produção permite que sejam vendidos na portaria da escola alguns legumes orgânicos para a comunidade,
possibilitando que essa alimentação saudável não se restrinja a escola, ela chega na casa dos servidores e
das crianças.
Quando falamos das atividades, constatou-se que não eram estritamente planejadas sendo os elementos
disponíveis na agrofloresta, junto a criatividade do professor, o que constituiu a dinâmica das atividades.
Observou-se um ambiente aberto para perguntas e discussão de temas interessantes, principalmente
entre os professores e outros sujeitos participantes das atividades. As crianças ficam bem à vontade e
mesmo que muitos diálogos não as envolvam diretamente, elas estão fazendo parte do processo de alguma
forma, principalmente na relação com os elementos do ambiente (vivos e não vivos), com os quais ganham
intimidade a cada nova vivência.
O Centro De ensino do Lago Norte (CEDLAN) é uma escola pública de ensino fundamental e médio, situado
próximo ao centro de Brasília, na região administrativa do Lago norte. A agrofloresta, onde foram
realizadas as observações, é fruto de um projeto implementado por uma ONG.
O que se observou é que, nesse Contexto escolar, a agrofloresta não é o foco das atividades de educação
ambiental, sendo acionada para trabalhos manuais. Quando utilizada, existe pouco espaço dialógico para
tratar de temáticas ecológicas, políticas e sociais e quase nenhuma conexão com o currículo e os
conhecimentos tratados em sala de aula. Observou-se também que a comunidade escolar não está
presente na construção do espaço agroflorestal, nem os servidores, nem os professores e nem a
comunidade do entorno.
A falta de interesse vai além, é um possível resultado da relação estabelecida com o meio, geralmente
compreendido em sua forma biológica física (Carvalho, 2004) que por não ser percebido em suas diversas
dimensões, não pode ser reconceituado, interpretado e logo, sua transformação não gera interesse algum.
Nessa direção, apontamos a própria dinâmica de como o projeto veio parar na escola como um dos pontos
chaves para começar a aclarar esses questionamentos. O projeto não foi construído organicamente com a
comunidade escolar, foi proposto pela ONG onde alguns alunos e professores se mobilizaram para trazê-lo
para a escola.
A dimensão ambiental é percebida, porém não se inscreve em uma prática pedagógica transformadora
(Sato, 2001). Essa verificação nos permite avaliar na realidade observada, não havendo modificações
curriculares, na própria rotina da escola, como na forma de organizar os processos de uso do espaço, a
autonomia da escola sobre o projeto não garante que ele seja realmente incorporado pela comunidade
escolar.
É preciso se discutir em que medida a organização curricular da escola, pautada na fragmentação dos
saberes e na binaridade entre homem natureza, se impõe na forma como tratamos epistemologicamente o
campo da educação ambiental dentro das práticas escolares. Até os problemas socioambientais são
tomados como objetos específicos de uma determinada ciência, e por isso mesmo são tratados
isoladamente pelas ciências humanas ou pelas ciências biofísicas (Reis da Silva, 2013). Se tornando
Agroecologia em Foco - Volume 5
necessária uma revisitação ao que entendemos dentro do ambiente escolar como questões ambientais e
porque são tradadas de forma residual e não central.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As diferentes experiências nos mostraram que a EA dentro do SAF se constrói de forma bastante singular.
Constatamos pouco ou nenhum vínculo com a Universidade e projetos que se inserem ilhados em suas
práticas dentro de um sistema educacional pouco flexível a inserção de práticas criativas e inovadoras.
Uma abordagem agroecológica cria possibilidades do pesquisador /educador interagir com um sistema de
conhecimento com o qual ele não costuma ter contato, advindos de saberes tradicionais e que muitas
vezes não são temas usuais nas escolas. Trazer conhecimentos agroecológicos para dentro da escola é
permitir, portanto, o acesso a sistemas de conhecimentos invisibilizados dentro do ambiente escolar e,
muitas vezes, dentro do meio urbano.
Como ferramenta pedagógica a agrofloresta oferece possibilidades concretas de diálogo de saberes,
reflexão crítica sobre a relação cultura/natureza, processos educativos humanizados e sensíveis aos
problemas contemporâneos decorrentes do modelo hegemônico de desenvolvimento, produção e
consumo.
Outra concepção em comum nas experiências foi a limitação, no caso de projetos de educação ambiental
agroflorestal, quanto à manutenção e o orçamento, o que não necessariamente impediu que a agrofloresta
se desenvolvesse. Nesse sentido, Ortega (2012) sugere que muitos dos indivíduos que permanecem no
campo da EA tem suas histórias de vida fortemente conectadas com experiências educativas no campo
ambiental, o que fortalece seus vínculos e o compromisso social e profissional com a EA.
Os SAFs precisam ser vistos e vividos como um processo colaborativo que busca, permanentemente, a
troca de experiências, a colaboração entre diferentes campos da ciência, e destes com outros sistemas de
conhecimento, a reflexão crítica das orientações reducionistas e comportamentalistas que ainda se
mostram hegemônicas nas práticas de educação ambiental.
AGRADECIMENTOS
A CAPES pela concessão de bolsa de Iniciação científica no programa de graduação em Engenharia
florestal para a primeira autora.
REFERÊNCIAS
[1] CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio; PAULUS, Gervásio. Agroecologia: matriz
disciplinar ou novo paradigma para o desenvolvimento rural sustentável. In: II Congresso Brasileiro de Agroecologia;
2005, Florianopolis. Anais: CBA. 2006.
[2] CARVALHO, 1. C. M. Educação, Natureza e Cultura: ou sobre o destino das latas. Educação ambiental e
compromisso social: pensamentos e ações. Erechim: EdiFAPES, 2004.
[3] ORTEGA, M. A. A. La construcción del campo de la educación ambiental: análisis, biografias y futuros posibles.
Guadalajara-Jalisco: Editorial Universitaria, 2012.
[4] REIS DA SILVA, A. T. Currículo e representações sociais de homem e natureza: implicações à prática
pedagógica. Brasileira de Educação. v.18 n.55, p.861-1060, out. 2013.
[5] SATO, M. Debatendo os desafios da educação ambiental. In I Congresso de Educação Ambiental Pró Mar de
Dentro. Rio Grande: Mestrado em Educação Ambiental, FURG & Pró Mar de Dentro, 2001.
Capítulo 3
Atividades educativas com base na cartilha Plantando
o Amanhã em escola rural do município de Lagoa
Seca-PB
Mariana Coelho Bezerra
Shirleyde Alves dos Santos
Maria do Socorro Alves Bezerra Xavier
Ana Maria Coelho Bezerra
Ailsa Cristiane Arcanjo Soares
Resumo: A importância de trabalhar com as crianças desde as séries iniciais promovem
a emancipação e participação para diversas discussões atuais dentro do contexto
escolar. O presente relato teve como objetivo trabalhar a cartilha “Plantando o Amanhã”,
da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida por meio de atividades
lúdicas com os temas, alimentos, agrotóxicos, produção de hortas e bons hábitos de
higiene com educandos do 2 º ano da Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental
Abelardo Coutinho, zona rural do município de Lagoa Seca-PB. Foram desenvolvidas
cinco atividades, propondo a identificação da origem dos alimentos, a percepção através
dos sentidos, o conhecimento sobre a construção de uma horta e as formas de adubação
com a produção de compostagem. A importância de atividades com cunho educativo, de
aplicabilidade simples promove a responsabilidade social e ambiental de instituições e
participantes. Dessa maneira foi percebido que as atividades lúdicas auxiliaram a
construção do conhecimento, a participação e socialização das crianças com os temas
propostos, confirmando que o aprender brincando torna-se mais prazeroso e
construtivo, podendo sim, ser uma ferramenta educacional para trabalhar com diversos
temas tão importantes e que podem estar tão presentes na localidade dos educandos e
da própria escola.
Palavras-chave: Atividades educativas; Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos;
Educação ambiental.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. CONTEXTO
O relato de experiência apresentado foi desenvolvido no município de Lagoa Seca-PB durante o período de
outubro a novembro de 2014. A instituição em estudo foi a Escola Municipal de Ensino Infantil e
Fundamental Abelardo Coutinho, situada no Sitio Pai Domingos. As atividades educativas foram voltadas
para os educandos da turma do 2º ano (16 alunos) com idade de oito anos.
A importância de trabalhar com as crianças desde as séries iniciais promove a emancipação e participação
para diversas discussões atuais dentro do contexto escolar. Contudo, os processos educativos precisam
estar adequados para uma melhor compreensão, dessa maneira as atividades lúdicas na concepção de
Rousseau (1712-1778) deveriam ser cultivadas na esfera educacional já que promove a ideia de liberdade
de expressão, emprego da vivência e emoção como incentivo a aprendizagem. Trabalhar com o lúdico
diante da temática, pode de certa forma tornar as aulas mais dinâmicas e inovadoras, pois desperta nas
crianças entusiasmo, investigação e a descoberta de novas formas de aprendizagem. Dessa forma, ao
incentivar o contato das crianças com jogos e brincadeiras na sua infância, repassando seus ensinamentos,
estará favorecendo a construção do conhecimento, que consequentemente enriquecerá o seu repertório,
trazendo assim benefícios valiosos no seu desenvolvimento tanto pessoal quanto social (Ferro e Viel,
2019).
O uso de atividades lúdicas pode ser de várias formas, no contexto da pesquisa procurou-se adotar a
cartilha “Plantando o Amanhã”, elaborada pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Esta cartilha foi organizada em sete capítulos, e o último destina-se a formação para as crianças. A
campanha tem como bandeira a luta contra o uso e abuso dos agrotóxicos no Brasil, que causam
constantemente mortes e grandes prejuízos a natureza e ao agricultor de curto a longo prazo, além de
lucros para as grandes empresas que promovem a produção e venda dos agrotóxicos. A Campanha
Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida propõe por meio dos comitês que estão espalhados pelo
Brasil a adotar postura e metodologias de base para realizar ações e lutar organizadamente em defesa da
vida. Assim, o trabalho de base usa métodos de animação, socialização e discussão para que os engajados
sintam-se abraçados com a causa a fim de buscar soluções para os problemas elencados (Brasil, 2013).
A ação pedagógica teve como objetivo utilizar como base a cartilha “Plantando o Amanhã”, da Campanha
Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida por meio de atividades lúdicas para trabalhar os temas,
alimentos, agrotóxicos, produção de hortas e bons hábitos de higiene com os alunos de uma escola rural.
2. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Por meio de uma ação pedagógica voltada para os alunos do 22 ano, adotou-se como referencial a cartilha
para trabalho de base “Plantando o Amanhã”, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
(BRASIL, 2013), tomando-se o último capítulo destinado ao público infantil para desenvolver as atividades
dentro do universo escolar.
As atividades foram escolhidas pelo critério dos alunos morarem em zona rural com o propósito de
investigar e conhecer as suas relações com os alimentos e o espaço em que vivem. Nessas atividades,
foram trabalhadas:
Atividade 1: De onde vêm os alimentos? - Esta tarefa consiste em ligar corretamente os alimentos às suas
origens. São distribuídas figuras de alimentos diversos que deverão ser relacionadas de forma correta,
sendo também apresentadas possibilidades falsas.
Atividade 2: Corrida da colheita na horta: come ou não come? Cada grupo é chamado a colher produtos e
materiais em uma horta fictícia. Feito isso é aberta uma discussão sobre o que se come e o que não se
come. E aproveita-se o espaço para falar sobre a importância da horta e seus cuidados, bem como a
construção de uma, em forma de um mini-teatro.
Atividade 3: Jogos dos erros e acertos: São mostradas às crianças cenas do cotidiano, através de figuras
apresentando os hábitos alimentares, higiênicos e o uso de agrotóxicos. Perguntando se é correta ou
errada cada cena.
Atividade 4: Os sentidos e os alimentos: São trabalhados os órgãos dos sentidos. As crianças devem
adivinhar, com os olhos vendados, os alimentos que estão sendo apresentados a elas, através do tato,
paladar e olfato.
Atividade 5: Oficina da compostagem: Construção de um teatrinho cujo enfoque seja os benefícios do
composto orgânico. Construção de uma mini-composteira pelas crianças.
Agroecologia em Foco - Volume 5
3. RESULTADOS
A metodologia da Cartilha facilitou a interação e o diálogo dos educandos com os assuntos abordados. De
forma lúdica os temas cuidados ao meio ambiente e saúde ficaram mais compreensível e participativo. Ao
trabalhar com crianças, deve-se ter o cuidado em respeitar suas definições, ao mesmo tempo em que
propor mudanças e provocações para o novo despertar. Segundo Irala e Fernandez (2001), a criança tem
um grande papel na sociedade, e a construção do saber através da formação e a adoção dos hábitos
saudáveis deve ser estimulada em crianças, pois é durante os primeiros anos de vida que ela estará
formando seus hábitos.
Seguindo a sequência das atividades, no primeiro momento foi necessário para uma breve socialização e
exposição do que a cartilha queria propor, procurando enfatizar assuntos do cotidiano e da vivência local
(alimentação saudável, agrotóxicos e higiene). Nessa roda de conversa, foram debatidos diversos assuntos,
o cuidado com a água e dos reservatórios, bem como o uso consciente, a importância dos vegetais, como
cultivo e reflorestamento, as origens dos alimentos, das roupas, dos calçados, do petróleo, de forma a
sensibilizá-los e fazê-los compreender que tudo vem da natureza e por atividades humanas podem ser
modificados. Procurou-se também abordar sobre o abate dos animais, se seria legal ou não matar, o
porquê de comer os alimentos saudáveis e os riscos dos alimentos contaminados por agrotóxicos e os
perigos por quem aplica e consome. Hábitos de higiene foram questionados ressaltando a importância de
cuidar do corpo, o ato de tomar banho, escovar os dentes, lavas as frutas, usar roupas limpas, entre outras.
Após a explanação, prosseguiu para a atividade 1. Nesta atividade, a origem dos alimentos foram
selecionadas os seguintes alimentos: leite, queijo, manteiga, iogurte, pão, ovo, farinha de mandioca, cuscuz,
pamonha, carne, açúcar e chocolate. No chão foram dispostas as figuras e cada criança escolhia um
alimento e identificava sua origem. De certo modo, já era esperado que as crianças conhecessem as
origens, por serem residentes da zona rural. Os alunos não apresentaram dificuldade em responder,
apenas o item açúcar que não quiseram opinar.
Na atividade 2, tomando como referência uma horta fictícia, a ideia de colher três elementos da horta e
responder, se comia ou não comia (enxada, alface, coentro, tomate, batata, cenoura, solo, esterco e
regador), procurando destacar a importância dos materiais presentes que não eram para comer para a
construção da horta. Em seguida, os alunos foram convidados a fazer um mini-teatro compondo a horta
como se estivessem construindo, fazendo o passo a passo a partir das figuras usadas anteriormente, nesse
momento provocações, sobre o uso de veneno foram perguntadas, se usariam ou não. A resposta imediata
foi de não utilizar, significando que eles perceberam que o uso de veneno não seria legal para quem come
e também para as plantas.
No jogo dos erros e acertos proposta da atividade 3, a partir de figuras diversificadas sobre hábitos
alimentares, hábitos de higiene e o uso de agrotóxicos, as crianças visualizavam a gravura e procuravam
identificar o acerto ou o erro justificando, promovendo uma discussão.
Através da musicalização com a música Xote Ecológico, de Luiz Gonzaga que retrata o descuido com o
meio ambiente, as crianças foram convidadas a escutar e participar por meio de uma coreografia para
melhor fixação. Depois, houve uma socialização com discussão sobre alimentação, suas origens e
processamento, além das formas de preparo.
As atividades subsequentes 4 e 5 que finalizavam o ciclo, foram propostos os sentidos e alimentos e a
prática de compostagem. Para realização desta atividade, as crianças foram organizadas em grupos, de
cada grupo vinha um participante que ficava com os olhos vendados, o alimento oferecido podia ser
adivinhado através do tato, do olfato ou paladar. Algumas perguntas como sabor, textura, tamanho e
consistência forma enfatizadas para conhecer a relação com o alimento. Essa experiência foi recebida com
agrado e as crianças se divertiram porque ficavam observando as outras e mostravam-se curiosas.
Por fim, à oficina de compostagem veio para contribuir e finalizar a ação pedagógica. A parte prática só
ocorreu depois de uma breve explicação em sala do que seria a compostagem, como é feita o processo e os
materiais que podem ser utilizados, propondo para eles os recursos que eles têm em casa. De uma forma
comparativa para ajudá-los a compreender, tomou-se como exemplo um bolo que tem várias camadas de
recheio. Nisso, as camadas de massa e recheio seriam as camadas que constituem a compostagem. Assim,
uma camada podendo ser de palha servindo de base, sobreposta por camada de esterco, seguida de
folhagens, outra camada de esterco e por fim, uma camada de palha, regando-se com água. A construção
de uma mini composteira no espaço externo da escola serviu de visualização de como seria a construção
de uma com os elementos da natureza. As crianças estavam atentas e ajudaram a compor a compostagem.
Agroecologia em Foco - Volume 5
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma lúdica, observa-se que as crianças aprendem brincando de maneira prazerosa e construtiva,
mostrando que temas tão importantes pertencentes a localidade podem estar inseridos no contexto
escolar. A importância de atividades com cunho educativo, de aplicabilidade simples promove a
responsabilidade social e ambiental de instituições e participantes. O ato de estimular as crianças instiga a
se tornarem indivíduos pensantes, curiosos e conscientes.
AGRADECIMENTOS
A Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Abelardo Coutinho.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL, 2013. Coordenação Nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Coordenação Estadual da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida/ BA. Coordenação Estadual da
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida/RJ. NEPPA - Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas
Agrárias. Plantando o amanhã: Cartilha para trabalho de base.
[2] FERRO, B. R. VIEL, F. V. 2019. Importância do lúdico nas séries iniciais do ensino fundamental. Revista
Científica UNAR,18,1, 109-129.
[3] IRALA, C. H.; FERNANDEZ, P. M. 2001. Manual para escolas: a escola promovendo hábitos alimentares
saudáveis.
Capítulo 4
Capacitação como educação continuada: Perspectivas
de conversão agroecológica em produtores de
hortaliças
Antonio Wagner Pereira Lopes
Vera Lúcia Silveira Botta Ferrante
César Giordano Gêmero
Cesar Augusto Feliciano
Resumo: Trata-se do relato de uma experiência desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e
Extensão em Agroecologia da Universidade de Araraquara, a partir dos anos de 2015 e
2016, para conversão agroecológica, capacitação e acompanhamento de produtores de
hortaliças, assentados. Tais ações foram desenvolvidas junto a produtores do
Assentamento Bela Vista do Chibarro, localizado no município de Araraquara-SP,
especificamente nos grupos de produção de hortaliças Pedra D'Água e Chico Bento,
priorizados nos processos de observação e intervenção. Foi utilizada a metodologia da
pesquisa-ção, através de idas continuadas a campo, com registro em diários. Neste
relato, a experiência de capacitação e seus resultados é priorizada. Aponta-se, entre os
mesmos, a construção de uma feira de produtos orgânicos, Da roça para a mesa: feira de
alimentos orgânicos e artesanais em uma parceria entre a Universidade de Araraquara-
SP e uma autarquia da prefeitura municipal, expressão das perspectivas de novas frentes
de comercialização.
Palavras-Chave: Conversão agroecológica, capacitação, comercialização.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
A humanidade está imersa em uma crise socioambiental de grande magnitude, na qual a agricultura ocupa
papel de destaque, por tratar-se da atividade antrópica que mais impacta o ambiente em âmbito espacial.
Tal problemática em nossa realidade é em larga medida resultante da inadequação do padrão tecnológico
adotado, intensivo no uso de capital e energia, poluente e degradador dos recursos naturais. O uso
indiscriminado de agrotóxicos em ecossistemas naturalmente diversificados e de equilíbrio instável
acentua os desequilíbrios biológicos, induz o surgimento de resistência dos insetos, patógenos e invasoras
aos produtos químicos, a ressurgência e o aparecimento de pragas secundárias, a poluição ambiental e dos
alimentos, e a intoxicação dos trabalhadores rurais.
Os padrões contemporâneos de produção têm evoluído para a especialização das unidades produtivas,
com a redução do número de componentes e de interações entre eles, orientação esta que tem levado à
maior dependência do setor por energia externa (insumos industriais, genéticos, químicos, mecânicos e
combustíveis), com a intensificação das práticas da mecanização e do uso de agroquímicos, com a
consequente redução dos postos de trabalho, e o incremento da produtividade do trabalho e da terra.
Quadro este diretamente relacionado à baixa renumeração e ao endividamento dos agricultores
familiares, entre eles os assentados.
Outra questão preocupante refere-se aos impactos resultantes da produção agrícola sobre os recursos
naturais (solo, flora, água e fauna), dada a forma pela qual é orientada e conduzida, pois promove a
erradicação das vegetações nativas, a mobilização intensiva do solo, a monocultura, utilizando-se
intensivamente dos agroquímicos (fertilizantes de síntese e agrotóxicos). Essas orientações são
inadequadas à realidade ecológica tropical e subtropical, na qual uma das questões centrais é a
biodiversidade. À guisa de exemplo, a agricultura brasileira se constitui hoje na maior consumidora de
agrotóxicos em âmbito mundial, com uma área cultivada que não justifica tal projeção.
Nesse cenário de entraves e desafios, que engloba os campos da produção, processamento e
comercialização, é evidente a necessidade de se investir na qualificação e capacitação dos agricultores
familiares para potencializar as experiências orgânicas e agroecológicas existentes, além de incentivar
novas iniciativas.
Tal constatação aponta para a demanda de um esforço de pesquisa e ação, no intuito de melhor apreender
e entender cada realidade, qualificando-a e quantificando-a, de se identificar os entraves produtivos, e
buscar as soluções para os mesmos através de processos participativos, envolvendo os agricultores e suas
organizações formais e informais, e se subsidiando a formulação de políticas e ações públicas que
contribuam para a mitigação e/ou a superação dos problemas identificados, na perspectiva de consecução
de modos de produção agrícola sustentáveis.
É principalmente em razão de tais premissas que se adota como foco central do presente artigo pesquisar
as alternativas agroecológicas, na busca da sustentabilidade da produção primária. Em âmbito científico, a
agroecologia lança mão dos conteúdos e conhecimentos da ecologia e da sociologia na orientação da
produção agrícola, adotando um referencial analítico sistêmico na leitura e interpretação da realidade,
buscando apreendê-la em suas dimensões histórica, produtiva, ecológica, energética, econômica, social e
cultural (GLISEMANN, 2000; ALTIERI, 2012).
Contrapondo-se ao atual modelo de desenvolvimento rural preconizado na região Central do estado de
São Paulo, centrado por uma agricultura fundamentada na monocultura e na aplicação intensiva de
pacotes que combinam uso de maquinário e agroquímicos. As discussões deste artigo estão centradas na
perspectiva de transição agroecológica de grupos de horticultores, produção de ovos caipiras e ervas
medicinais, além de ações de educação com professores e alunos buscando a construção do conhecimento
agroecológico.
Busca-se evidenciar a experiência de numa transição agroecológica de dois grupos de produtores de
hortaliças de um assentamento do município de Araraquara. Entre as ações executadas, destacam-se os
cursos de capacitação, visando uma produção orgânica com uso de biofertilizantes e compostagem, além
da rotação de cultura com adubos verdes e práticas agroecológicas no combate de pragas e doenças.
Agroecologia em Foco - Volume 5
2. MATERIAL E MÉTODOS
Indica-se, que o público-alvo do presente artigo são assentados localizados em território do agro- negócio. Os
dois grupos avaliados encontram-se no assentamento Bela Vista Chibarro, região central do estado de São
Paulo, no munícipio de Araraquara/SP, sendo eles:
O grupo Pedra D'Água, composto por 6 membros, 5 irmãos e um amigo, que trabalham com hortaliças,
especialmente as cultivares folhosas. A horta está instalada no lote de um dos 5 irmãos. Cada membro possui
seu lote, e além do trabalho na horta coletiva, dispendem tempo para produção individual, principalmente
soja e milho. O sistema predominante de produção sempre foi o convencional, com perspectivas de alguns
produtores iniciarem o processo de transição após a inserção do núcleo de agroecologia.
Já a horta Chico Bento, composta por 4 membros, está localizada no lote de um deles, o mesmo e sua esposa
são os líderes, mais 2 sobrinhos, cultivam em sistema orgânico desde o início da instalação da horta.
À experiência relatada recorreu ao método quali-quantitativo, embasado em pesquisa ação viabilizada por
idas quinzenais a campo, reuniões com produtores em seus próprios lotes, troca de experiências em sistema
de produção de hortaliças com insumos alternativos, registro em caderno de campo e monitoramento
fotográfico. Desta forma, utilizaram-se técnicas participativas de avaliação e problematização da realidade
local, seguindo a proposta do método participativo de pesquisa DRP - Diagnóstico Rural Participativo).
2.1. A CAPACITAÇÃO: PEÇA CHAVE DA EXPERIÊNCIA
A atividade inicial ocorreu através da promoção de cursos de capacitação sobre compostos orgânicos.
Nestes cursos foram abordados diversos conteúdos relacionados a práticas de manejo alternativo, como:
quebra-ventos, produção dos insumos na própria unidade produtiva, uso de compostos orgânicos em
sistema de cultivo de hortaliças, dentre outros.
Na sequência, realizou-se o preparo de duas porções do biofertilizante Vairo. Este biofertilizante também
denominado de liquido consiste na fermentação anaeróbica de esterco bovino e água, sendo utilizado em
diversas funções como, por exemplo, como adubo foliar e no tratamento de semente. Cabe ressaltar que em
uma das porções de Vairo preparada em um tambor plástico de 200 litros, não ocorreu a fermentação
anaeróbica ideal, porém, o Material não foi perdido. A falta de fermentação adequada não danificou
totalmente o produto final, sendo que o mesmo foi utilizado para enriquecer a compostagem que foi
confeccionada em um dos referidos cursos de capacitação.
Segundo o representante entrevistado da horta Pedra D'água, após o ciclo das diversas cultivares que
receberam este tipo de adubação, observou-se bom desenvolvi- mento das plantas. Na segunda porção do
biofertilizante Vairo ocorreu afermentação ideal. Foram aplicadas na forma líquida na área experimental
disponibilizada e plantadas duas variedades de hortaliças (alface americana e rúcula). No final do ciclo das
plantas e na realização da colheita, observou-se que foi satisfatória a resposta da produção com uso do
biofertilizante Vairo.
Produtores e equipe de monitoramento, após troca de experiência e sugestões chegaram à conclusão de
que o ideal seria a área experimental ser dividida em parcelas com vários tratamentos. Foi sugerido o
seguinte exemplo: divisão da área experimental em parcelas - 1 parcela como testemunha - 1 parcela
adubada só com esterco bovino - 1 parcela adubada com esterco bovino e esterco de aves - 1 parcela
usando Vairo. 1 parcela usando o Super Magro (podendo alternar para mais ou menos parcelas e uso de
outros materiais orgânicos). Assim, foi possível ocorrer monitoramento com mais anotações de dados e no
final do ciclo destas plantas (colheita), foram obtidos dados demostrando com maior clareza se o uso de
compostos foi expressivo ou não. O mesmo procedimento em termos de capacitação foi adotado na horta
Chico Bento.
2.2. MONITORAMENTO DO SISTEMA PRODUTIVO
Após a realização dos cursos de compostos e compostagem nas hortas Pedra D'Água e Chico Bento, foram
feitas várias idas a campo para realizar monitoramento e observação da resposta dos compostos após seu
uso nas cultivares. Foi feito levantamento da quantidade de canteiro existente em cada horta, observação
de doenças e pragas. Na horta Pedra D' Água não foi possível levantar dados expressivos. Na horta Chico
Bento foi possível acompanhar um canteiro de alface americana e crespa, realizando aplicação do
biofertilizante Vairo.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Dentre as doenças e pragas observadas nas hortas investigadas viu-se: traça do tomateiro, vira-cabeça na
alface, lesma na alface, lagarta nas folhas de couve, ponta seca na cebolinha, antracnose na pimenta e oídio
no quiabo.
Em estratégia emergencial (devido à represa encontrar-se com nível mínimo de água) foi perfurado um
poço artesiano de 7Omts de profundidade no grupo Pedra D'água, para suprir a demanda de água utilizada
na irrigação da horta.
Estão investindo em mais duas estufas cobertas com plásticos, assim estão produzindo hortaliças
plantadas em canteiros com estufas e canteiros sem estufas. O manejo da preparação dos canteiros é feito
com esterco de aves, esterco bovino e restos de vegetais. Este grupo usa tradicionalmente o sistema de
carpir manualmente, ou roçadeira de tração mecânica através de um trator Tobata.
Na parte prática do curso, foi feita uma porção de compostagem e em seguida foi usada em canteiros.
Segundo relato de Neguinho, o uso do biofertilizante Vairo e a compostagem apresentou uma boa resposta
e, assim, disponibilizaram um canteiro inteiro para as ações agroecológicas. Desse modo, pode-se somar a
capacitação e a troca de experiência na construção gradual da conversão para sistemas de produção
agroecológico.
Na horta Chico Bento, além do acompanhamento dos custos de produção, foram coletas estacas da planta
ora-pro-nobis para serem levadas para o Luiz, um dos líderes desta horta orgânica no assentamento Bela
Vista. Estas estacas foram plantadas para disseminação desta espécie na região e formação de cerca viva.
Especialmente, nesta horta há claramente a presença da agricultura familiar, com a mulher no papel de
colaboradora do sistema produtivo.
A observação de novos plantios de hortaliças folhosas, utilizado o calcário para correção do solo, a
realização da rotação de culturas, ação bastante relevante para o sistema de produção são algumas das
estratégias que vêm confirmar a possibilidade de concretização de uma transição agroecológica. No
momento estão entregando produtos da horta para programas públicos como o PNAE de Matão e Américo,
em Araraquara, entregam para PAA e vendas em feiras da cidade.
2.3. PRINCIPAIS RESULTADOS
Em 2017, foram retomadas as atividades da frente de ações do sistema de produção em hortaliças sem uso
de insumos químicos. Foi possível realizar entre os meses de julho e agosto de 2017, a coleta de mudas da
planta Nim por ter ocorrido expressiva quantidade de chuva, o que possibilitou a germinação destas
sementes em um lote de produtor do Bela Vista. Foram disponibilizadas mudas desta planta de grande
utilidade como defensivo orgânico de ações em microrganismos da família dos fungos, bactérias e
repelente de insetos. Membros do grupo da horta coletaram 352 mudas da planta Nim, medindo entre 10
cm a 15 cm, sendo que as mesmas foram distribuídas entre produtores do Bela Vista do Chibarro e do
Monte Alegre.
Após discussão sobre o aumento da produção de hortaliças nos dois assentamentos citados, a
Universidade de Araraquara - UNIARA autorizou a criação de um espaço para comercialização direta da
produção de hortifruticultura sem veneno, de origem da agricultura familiar, através da criação de uma feira
na sua unidade IV no campus do curso de Agronomia. Assim, criou-se a feira denominada: “da roça para a
mesa: feira de alimentos orgânicos e artesanais”, modalidade de comercialização para os produtores de
hortaliças em transição agroecológica.
No presente, esta feira tem se mantido através de uma parceria entre a UNIARA e uma autarquia
municipal da prefeitura, dando significativa contribuição à expansão da alimentação saudável na cidade.
Igualmente, instaurou-se o processo de aquisição do selo da Organização de Controle Social (OCS), através
da preparação de todos os elementos necessários ao processo de cadastramento dos produtores de
hortaliças, incluindo-se etapas de higienização, controle da produção, dentre outras.
São feitas semanalmente visitas a campo tanto no assentamento Bela Vista e Monte Alegre, o que se faz
necessário devido à importância do acompanhamento do sistema produtivo de hortaliças, com ênfase na
observação do passo a passo do processo de transição do sistema convencional para o orgânico
Agroecologia em Foco - Volume 5
O relato desta experiência põe em questão a importância de uma íntima relação entre pesquisa e extensão,
sendo igualmente expressão da intenção da universidade em priorizar o retorno social do conhecimento
produzido. Nos grupos investigados, nota-se que as intervenções propiciaramHouve diversificação e
discussão para o processo de transição agroecologia no Grupo Pedra d'Agua. As culturas instaladas foram
as folhosas com expressiva diversificação: rúcula, cebolinha, pimenta cumari, acelga, salsa, couve, almeirão,
couve flor, brócolis ramosos, brócolis ninja, cenoura, abobrinha, espinafre, agrião, repolho, rabanete,
vagem, coentro, beterraba, pimenta vermelha, berinjela, jiló, acelga, mostarda, espinafre, alface americano,
alface crespa eroxa.
Já o trabalho do núcleo na horta Chico Bento teve foco no monitoramento e troca de experiências com os
agricultores. No segundo semestre de 2017,conseguiram a declaração da Organização de Controle Social
(OCS). A referida horta, também trabalha com grande diversificação de folhosas.
3. CONCLUSÕES
O relato desta experiência põe em questão a importância de uma íntima relação entre pesquisa e
extensão, sendo igualmente expressão da intenção da universidade em priorizar o retorno social do
conhecimento produzido. Nos grupos investigados, nota-se que as intervenções propiciaram:
a Houve diversificação e transição agroecologia no Grupo Pedra d'Agua. As culturas instalada são
folhosos com expressiva diversificação: rúcula, cebolinha, pimenta cumari, acelga, salsa, couve, almeirão,
couve flor, brócolis ramosos, brócolis ninja, cenoura, abobrinha, espinafre, agrião, repolho, rabanete,
vagem, coentro, beterraba, pimenta vermelha, berinjela, jiló, acelga, mostarda, espinafre, alface americano,
alface crespa e roxa.
: Já o trabalho do núcleo na horta Chico Bento teve foco no monitoramento e troca de experiências
com os agricultores. No segundo semestre de 2016, conseguiram a declaração da Organização de Controle
Social (OCS). A referida horta, também, trabalha com grande diversificação de folhosas.
a O controle de pragas em sistemas orgânicos de produção é uma das principais dificuldades
enfrentadas pelos produtores, e as caldas fito protetoras têm sido utilizadas na produção orgânica não
somente para complementar a nutrição das plantas e controlar doenças, mas também com o intuito de
reduzir as populações de pragas nas culturas.
a A partir deste estudo tem-se buscado uma ampla divulgação de informações sobre produção
agroecológica e alimentação saudável, buscando-se, através de parcerias com a secretaria da educação,
consolidar ações educativas para crianças e jovens da rede pública de ensino, com destaque às escolas
rurais, para a difusão dos conteúdos da ecologia e da agroecologia no processo de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
[1] ALTIERI, M. A. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. São Paulo: Expressão
Popular, 2012.
[2] GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentável. Porto Alegre: UFRGS, 2000.
653p.
Capítulo 5
Metodologias de ATER para mulheres rurais através
de capacitação com abordagem agroecológica para
inclusão e desenvolvimento
Antonia Julliana Sarafim Bezerra
Jaiane da Silva Barbosa Evangelista
Marcivânia Mascarenhas Oliveira
Ana Lúcia Monteiro de Sousa
Ailton Cezar Alves da Silva
André Luiz Teles Aguiar
Resumo: Dentre as atividades de fortalecimento da agricultura familiar, o papel que as mulheres desempenham, são fundamentais
para o satisfatório crescimento de uma propriedade. Analisando que as ações praticadas por elas, consolidam o trabalho agrícola,
compõem uma parte significativa de renda e serve de suporte para demais ações, as mulheres significam no contexto rural,
executoras de duas linhas de ação: são “donas de casa”, desempenhando os trabalhos domésticos que digam-se fundamentais para o
restante das ações considerando que o ato de cozinhar resulta na alimentação dos membros da família; e também por executarem
tarefas até então consideradas pequenas como cuidar do quintal, alimentar as galinhas, colher os ovos caipira ou cuidar de uma
pequena horta, que também resultam na geração de renda familiar complementar, e acrescenta vários fatores como a segurança
alimentar e nutricional, técnicas para produção agroecológica e produção de culturas ciclo curto com rápido retorno financeiro.
Existe ainda um tabu para o trabalho realizado pelas mulheres, porém com o passar do tempo, ações, projetos e até políticas
específicas para mulheres foram debatidas e estão sendo executadas satisfatoriamente. Em questão, dentre as metas do projeto
REDE ATER Cariri, executado em parceria entre quatro (4) instituições não governamentais, dentre elas a Fundação Francisco de
Lima Botelho que atuou nos municípios de Barbalha, Granjeiro, Farias Brito, Missão Velha e Jardim (município onde tem sua sede),
levou ATER a grupos de mulheres em cada município atendido, através da realização de cinco (5) oficinas de trabalho para
planejamento de atividades, cinco (5) cursos de capacitação e um (1) seminário regional sobre ATER para mulheres rurais, com
oitenta participantes. Foram executados cursos e oficinas de artesanato de palha e de materiais recicláveis ou reutilizáveis como
garrafas de plástico - peti, cabos de madeira, e retalhos de tecidos que não serviriam para outras atividades, em cada município com a
participação de quarenta mulheres, e um seminário territorial enfocando a importância das mulheres rurais no contexto familiar,
explicações sobre as linhas de ATER específicas para mulheres, políticas públicas e como podem ser amplamente utilizadas nas
atividades femininas de mulheres rurais dentro dessa nova temática. Nas reuniões, o acesso a Políticas Públicas para Mulheres foi
uma das pautas mais debatidas, onde as mulheres presentes ressaltaram a importância de programas que trabalham a saúde da
mulher, temáticas sobre linhas de crédito específicas, e principalmente para inclusão da mulher no âmbito produtivo e o
reconhecimento deste por parte da sociedade. A agricultura familiar no Cariri cearense vem mostrando seu potencial, tanto em
valores da produção, quanto em inclusão social com pessoas ocupadas com atividades significantes. Nesse sentido, naaplicação de
metas em projetos de ATER voltadas especificamente para Mulheres, podemos observar o empenho e desempenho desse braço forte,
que é a mulher, na utilização de alternativas para geração de renda em apoio a suas famílias, pois possuem um olhar direcionado ao
bem estar familiar, assim como da utilização de produtos recicláveis ou reutilizáveis, que podemos observar através das oficinas de
elaboração de artesanatos, lançando um importante serviço ambiental na reciclagem de materiais, consequentemente a redução de
emissão de lixo no ambiente.
Palavras chaves: Reciclagem ou reutilização; mulheres rurais; renda alternativa.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. CONTEXTO
As atividades ocorreram no Semi Árido Nordestino, estado do Ceará, abrangendo cinco municípios que se
digam Barbalha, Granjeiro, Farias Brito, Missão Velha e Jardim.
A meta do trabalho, “ATER para Mulheres Rurais”, faz parte das metas de execução do “Projeto Rede
ATER”, que foi realizado nos anos de 2008 a 2010, por quatro instituições parceiras subdividindo as metas
e temáticas do projeto global. Junto a essas instituições, a Fundação Francisco de Lima Botelho - FFLB
desempenhou um papel de extensão, capacitação, difusão do conhecimento e prospecção social com os
grupos de mulheres rurais, que participaram de todas as atividades referentes aos objetivos da meta, que
foram: realização de oficinas de planejamento de atividades, realização de oficinas de capacitações para
mulheres rurais, e realização de Seminário de políticas públicas para mulheres.
2. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Foram aplicadas três metodologias coletivas para contemplar a meta “ATER para Mulheres rurais”,
conforme tabela abaixo. Essas metodologias foram escolhidas por respeitar a escolha democrática pelo
grupo e permitir a realização de palestras temáticas da agroecologia, seguidas de debate e elaboração de
matrizes participativas de demandas escolhidas pelas participantes.
A seleção das mulheres ocorreu através de contato com as comunidades e/ou associações existentes nos
cinco municípios, e que tinham grupos de mulheres da agricultura familiar organizadas. Inicialmente foi
apresentado o projeto e suas metas, e uma palestra seguida de debate explicando a abordagem
agroecológica para determinação dos temas que seriam escolhidos pelas mulheres. Na sequência foram
marcadas as datas das oficinas para diagnóstico e planejamento de atividades.
Durante as oficinas, foram aplicadas dinâmicas de grupo para identificar as demandas por capacitação e
escolher qual a temática para cursos/ oficinas de capacitação; e dentro da mesma demanda, as temáticas
que foram pautadas e não foram escolhidas para ser o tema das oficinas de capacitação, foram
direcionadas para compor a programação das mesas redondas de diálogos do Seminário Regional sobre
ATER para Mulheres.
As oficinas foram realizadas uma em cada município, atendendo assim os cinco municípios citados no
projeto. No município de Jardim é onde está localizada a sede da Fundação, foi realizada a atividade
“Seminário sobre ATER para mulheres rurais”, e caracterizou o fechamento dos objetivos e execução da
referida meta.
Tabela 01: Painel da meta “ATER para Mulheres Rurais”, identificando qualitativos e quantitativos de seus
três eixos objetivos, e período em que foram realizados.
Indicador Físico Duração (mm/aa) | Beneficiários
Unidade Quant Início Término | Tipo Quant
Meta Descrição
X ATER para mulheres rurais
e | CRenA para DG Ca PECA O iominage 5 10/2008 | 02/2009 | AF* 40
das Atividades
az PEA a Qmdade 1 01/2009 | 01/2009 | AF/TE*
Mulheres Rurais
AF: Agricultor (a) Familiar TE: Técnico (a).
3. RESULTADOS
A participação das mulheres nas atividades gerais que uma família realiza no seu cotidiano, está passando
por um processo de transição do serviço doméstico que dá suporte a família, e passa a compor atividades
de geração de renda. Mas é esse processo de geração de renda e atuação do papel feminino, que tem
caracterizado a construção do conhecimento agroecológico e sua abordagem dentro das práticas
alternativas junto ao trabalho “tradicional” da família.
Agroecologia em Foco - Volume 5
As oficinas de planejamento foram de fundamental importância para organização e definição das ações. A
ferramenta metodológica de diagnóstico e planejamento junto com a comunidade promoveu um
diferencial que favoreceu a participação e aceitação das mulheres nas capacitações, considerando que a
temática “Artesanatos”, agradou e favoreceu os grupos de mulheres.
Na realização das ações de capacitação através da metodologia de oficinas em artesanato de palha e outros
materiais (recicláveis ou reutilizáveis), observamos dois importantes aspectos para conhecimento
agroecológico: um relacionado a reciclagem e reutilização de materiais que seriam dispensados na forma
de lixo, oferecendo um risco ambiental crescente nas comunidades rurais que não dispõem de coleta, que
são a poluição pelo acúmulo ou as práticas de queimadas do lixo. O outro aspecto foi a transformação
desses materiais em produtos úteis e passivos de comercialização que auxiliam na composição da renda
da família.
A utilização de seminários, como metodologia de abordagem coletiva para difusão da informação, também
atingiu os objetivos esperados, foi possível direcionar debates aos temas de interesse, realizando um
nivelamento de informação e estimulando as participantes para inclusão social e reconhecimento.
Também observamos o entusiasmo e união dos grupos de mulheres de mesmas comunidades para as
possibilidades de desempenharem futuramente, trabalhos coletivos de produção e comercialização de
artesanatos, entre outros.
Capítulo 6
A problematização do conceito de camponês e o seu
uso na rede Sementes da Paixão
Jonatta Sousa Paulino
Resumo: No estado da Paraíba, agricultores familiares de vários municípios do
semiárido têm construído Bancos de Semente Comunitários (BSC), que se integram
numa rede chamada de Sementes da Paixão. Tomando como ponto de partida a ideia de
que camponês e campesinato são palavras frequentemente utilizadas quando se trata
dos agricultores agroecológicos descritos na produção científica sobre a rede Sementes
da Paixão, tenho como objetivo efetuar uma análise do uso do conceito de campesinato,
pensando a sua teorização clássica e contextualizando com as experiências
agroecológicas paraibanas. O procedimento metodológico seguido se baseia numa
análise de conteúdo de trabalhos que versam sobre a rede em questão - como uma
versão possível dentre as diversas abordagens e práticas no que se refere à agroecologia
- para que se possa dissertar sobre os significados do conceito de campesinato e sua
apropriação na contemporaneidade.
Palavras-chave: CAMPESINATO; conceito; agroecologia; agricultura familiar; Paraíba.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
No estado da Paraíba, agricultores familiares de vários municípios do semiárido têm construído Bancos de
Semente Comunitários (BSC), que se integram numa rede chamada de Sementes da Paixão. A recorrência
das palavras camponês e campesinato para descrever os participantes dos bancos de sementes
agroecológicos é algo que será debatido neste trabalho. Questiono-me sobre quais os significados e
características do conceito de camponês e como se dá a sua utilização dentro da concepção teórica da
sociologia rural e nos estudos sobre os Bancos de Semente Comunitários integrados na rede Sementes da
Paixão.
2. METODOLOGIA
O procedimento metodológico se baseia numa análise de conteúdo da produção acadêmica que versa
sobre a rede Sementes da Paixão (CAMPOS e NETO, 2012; CLEMENTINO, FERNANDES e RAMALHO, 2010;
CLEMENTINO, 2010a, 2010b, 2010c; NASCIMENTO e MOREIRA, 2008a e 2008b; SILVA, SANTOS, NUNES e
MARINI, 2011; SILVA e ALMEIDA, 2007) para que, em seguida, se possa dissertar sobre os significados do
conceito de campesinato.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Z
Todo conceito é indicativo de algo que se situa para além da palavra utilizada, um conjunto de
conhecimentos que se relacionam com aquilo que se quer compreender. O uso dos conceitos não é
imutável, eles estão sempre articulados a um contexto que o torna compreensível. Assim, a palavra
utilizada pode permanecer a mesma em seus vários usos, pois a sua repetição semântica é o que permite
que ela seja compreensível, entretanto, o conteúdo por ela designado se altera substancialmente de acordo
com o caso em questão (KOSELLECK, 1992). Ao focar no conceito de camponês/campesinato, é
interessante pensar como a sua formulação teórica de décadas passadas (MENDRAS, 1969; WOLF, 1970;
CHAYANOV, 1974) pode apresentar diferenças frente às dinâmicas contemporâneas. Desta forma, é
possível enxergar uma re-apropriação do conceito, que une aspectos da teoria clássica com os usos
referentes a atualidade.
Pode-se tentar entender o estilo de vida e trabalho dos agricultores que participam da rede Sementes da
Paixão unicamente, a partir da conceituação clássica de campesinato, porém, não será um exercício
inteiramente satisfatório, isto porque, seus ideais, demandas e relações não permitirão um
enquadramento completo na teoria. A realidade atual é mais complexa e, forçar um encaixe do objeto de
estudo no pensamento do pesquisador e nos textos por ele utilizado deformaria a compreensão dos
fenômenos e empobreceria a análise dos fatos. Portanto, ao utilizar o conceito de campesinato é
fundamental ter em mente que tipo de interligação que se dá com as teorias da sociologia rural e o uso
cotidiano e político desta identidade na Sementes da Paixão.
O camponês, em conceituações clássicas como a de Wolf (1970), é aquele em que o trabalho é direcionado
para a produção do mínimo calórico - a preocupação das reservas alimentares básicas da família em
primeiro lugar - e do excedente, sendo apenas este último destinado as trocas mercantis e a partir do qual
serão efetivados câmbios com a sociedade englobante em que este se insere. Não há, em tese, a intenção
de produzir para o mercado, mas apenas de retirar dele o que não consegue se produzir no campo. Assim,
o campesinato não é uma profissão, mas um modo de vida guiado por práticas e conhecimentos
tradicionais.
Uma categoria muito utilizada nos dias atuais para se referir tanto aos agricultores agroecológicos quanto
a várias outras identidades do mundo rural é a de agricultura familiar. Segundo Neves (2001), o início do
trabalho com esta denominação no Brasil não se deu a partir de uma reflexão conceitual, tratando-se
então de uma categoria descritiva e, até certo ponto, com uso profissional, disseminada principalmente
pelo uso em políticas públicas. Este nomenclatura, para Wanderley (1996) é genérica e inclui, dentre
outras manifestações, o campesinato. Assim, o uso do termo camponês por parte tanto dos pesquisadores
e técnicos quanto dos próprios agricultores agroecológicos dos BSC é presente e divide espaço com a
agricultura familiar: Assim, estes agricultores “expressam e reafirmam a existência e a continuidade
histórica da agricultura familiar camponesa, assim como as capacidades locais de conduzir projetos de
desenvolvimento local” (DUQUE e ARAÚJO, 2011, p. 12).
Agroecologia em Foco - Volume 5
O forte uso desta categoria foi “objeto de uma releitura e de uma apropriação adaptada ao contexto
brasileiro por múltiplos agentes, denotando a enorme interpenetração que ocorria entre os campos
científico, político e econômico” (NAVARRO, 1996 e MEDEIROS, 1997 apud ABRAMOVAY, 2007, p. 13),
sendo a agroecologia exemplar desta junção entre ciência a política e que se apropria tanto da
classificação da agricultura familiar quanto a de campesinato.
Os agricultores que cultivam as Sementes da Paixão estão inseridos na sociedade englobante e no
mercado, isto porque, a produção de suas sementes também serve para a comercialização. Mesmo que
este mercado de sementes seja praticamente restrito ao contato com outros agricultores, o lucro obtido
com a venda de sementes além de ser uma “atividade (...) na produção de gêneros capazes de atender às
necessidades do autoconsumo”, é fundamental para “às exigências do mercado” (SOARES, 1981, p. 73)
como meios para se adquirir produtos e serviços da sociedade em que estão presentes e praticamente
indispensáveis em vários setores da vida rural.
Z
A comercialização não é um empreendimento complementar, “é essencial à reprodução das unidades
produtivas, já que lhes oferece meios monetários para a compra de bens considerados indispensáveis”
(SOARES, 1981, p. 73). O que nos faz perceber que a produção e o consumo - fator que segundo a lógica
comumente elaborada, seria o foco da produção dos atores do mundo rural - tanto das sementes da
paixão quanto de outros produtos se confundem na unidade doméstica.
A unidade produtiva destes agricultores continua sendo a família, num equilíbrio entre produção e
consumo, como é apresentado por Chayanov (1974), onde a força de trabalho familiar ainda é o centro da
produção doméstica. No entanto, creio que não se pode falar numa produção que esteja destinada apenas
para a subsistência, seguindo a lógica deste autor. Então, por mais que a unidade de produção ainda seja
familiar, “a relação e a ação entre agentes se orientam por configurações provisórias de valores e forças
sociais consolidadas ou consolidáveis em instituições diversas - além da família...” (NEVES, 2001, p. 6), isto
é, a força de trabalho e a organização ainda é familiar, mas os incentivos ao trabalho e a orientação
produtiva não se restringem apenas à família e para adquirir o necessário à subsistência.
O camponês também pode ser um empreendedor e está inserido na cultura hegemônica. Mesmo que use
pouca mecanização, a agricultura familiar não é um setor pouco produtivo, especializado apenas no
abastecimento interno (SABOURIN, 2009), visto que o agricultor “de hoje” não é um camponês isolado do
mercado englobante, pois sempre efetua trocas verticais, isto é, trocas com agentes externos (WOLF,
1970). Assim, os “pequenos produtores agrícolas são produtores de mercadorias, isto é, colocam seus
produtos no mercado e dependem deste para a reprodução da força de trabalho” (SOARES, 1981, p. 221).
Destarte, o emprego destes dois marcos referenciais (agricultura familiar e/ou campesinato) para o caso
estudado apresentam-se, dependendo da abordagem do pesquisador, como problemáticos e limitantes,
seja a categoria de agricultura familiar, que pode restringir o entendimento das atividades destes atores —
atividades estas que não predominantemente familiares mas que vão além da subsistência familiar -,
quanto o conceito de campesinato, que, se tomado sem nenhuma reflexão crítica e observação constante
da realidade, também pode ser restrito ao se falar dos sujeitos estudados, por não apreender muitos
aspectos da sua lógica de vida inserida em relações modernas.
A diversidade das situações encontradas no Brasil têm em comum o caráter familiar do trabalho, da gestão
e da posse de terra. Entretanto, de acordo com Lamarche (1998 apud ABRAMOVAY, 2007) não seria
possível resumir a variedade da agricultura de cunho familiar “às condições mais próximas da ideia
clássica de campesinato, e tudo o que ela implica em termos de autonomia dessas unidades, como é
reivindicado por determinados autores ou mesmo pela retórica de alguns movimentos sociais” (p. 12).
Vale salientar que há realmente traços de uma cultura campesina nos agricultores contemporâneos,
elementos de ruptura e de continuidade (WANDERLEY, 2003), entre a lógica tradicional campesina e a do
agricultor como profissão, onde este utiliza dos conhecimentos obtidos pelas gerações anteriores em seu
modo de vida. É o que podemos chamar, utilizando Sabourin (2009), de Sistemas Locais de Conhecimento
(SLC). No mais, a noção de campesinidade também é útil para se entender esta relação entre a agricultura
familiar e o seu estilo de vida tradicional. Para Vaz (2012), a campesinidade, enquanto traços de uma
cultura campesina em agricultores agroecológicos, permite fugir das narrativas universalizantes,
pensando as particularidades sociais e históricas de cada caso. Lidamos com o que Lefebvre (1981) chama
de sabedoria camponesa, “uma combinação de prudência, iniciativa, desconfiança, credibilidade e
costume” (p. 145), um conjunto de fatores mutáveis e dinâmicos que permeiam a vida na comunidade
rural, mas que são historicamente determinados e devem ser analisados a partir disto. Para este mesmo
autor, “a vida camponesa não tem mais nada de autônoma (...), não pode mais evoluir segundo leis
Agroecologia em Foco - Volume 5
distintas; ela relaciona-se de múltiplas maneiras, à economia geral, à vida nacional, à vida urbana, à
tecnologia moderna...” (p. 162).
4, CONCLUSÕES
Imaginar um camponês isolado, autossuficiente e unicamente voltado as atividade de subsistência seria
uma forma pouco eficaz para se tratar dos camponeses que participam da Sementes da Paixão. Neste caso,
a figura do camponês, além de estar conectada com os aspectos tradicionais de seu estilo de vida, estaria
relacionada a para um tipo específico de demandas destinadas ao meio rural, envolvendo um quadro
político fundado no raciocínio em longo prazo (BOVÉ, 2001). É importante ter em mente que o universo
do campesinato funciona como tradição, mas também contém renovação e inovação, o que nos permite
fugir das dualidades no que se refere ao agricultor familiar e o camponês e das idealizações que separam o
campesinato das mais diversas formas de relação presentes na modernidade.
REFERÊNCIAS
[1] ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 3. ed. São Paulo: Edusp, 2007.
[2] BOVÉ, J. O mundo não é uma mercadoria: camponeses contra a comida ruim; entrevistacom Gilles Luneau.
São Paulo: Editora UNESP, 2001.
[3] CAMPOS, )J. D.e NETO,)J. R. (2012) Bancos de Sementes Comunitários: estratégia que está resgatando práticas
de Solidariedade e Cidadania no Médio Sertão da Paraíba. Disponível no endereço eletrônico:
http://www.aea.org.br /premio/trabalhos2012/responsabilidade social mencao honrosa.pdf . Acessado em: 05 de
julho de 2012.
[4] CHAYANOV, A. V. La organización de launidad econômica campesina. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión,
1974,
[5] CLEMENTINO, J. O., FERNANDES, M., RAMALHO, A. (2010) Apropriação de práticas tradicionais nas atuais
políticas de desenvolvimento - o caso dos bancos de sementes comunitários da Paraíba. I Encontro Regional de
Estudos Rurais, UEPB, Campina Grande, setembro de 2010.
[6] CLEMENTINO, J. O. (2010a) Estratégias de comunicação da V Festa da Semente da Paixão na Paraíba e sua
relação com a esfera pública. Intercom Nordeste, Campina Grande. Junho de 2010.
[7] (2010b) Estratégias de resistência e busca de uma identidade para os agricultores rurais - uma análise da V
Festa da Semente da Paixão. Revista Eletrônica Temática, Ano VI, n. 09.
[8] (2010c) Os desafios dos guardiões das sementes na Paraíba - Uma análise das Cartas Políticas da Festa
Estadual da Semente da Paixão. I Encontro Regional de Estudos Rurais, UEPB, Campina Grande, setembro de 2010.
[9] DUQUE, G. e ARAÚJO, M. da G. B. de. O protagonismo da juventude no Semiárido: a experiência do Coletivo
Regional do Cariri, Seridó e Curimataú (PB). Revista Agriculturas, v. 8, n. 1, março, 2011.
[10] KOSELLECK, R. Uma história dos conceitos: problemas teóricos e práticos. Revista Estudos Históricos, Vol. 5,
No 10, 1992.
[11] LEFEBVRE, H. Problemas da sociologia rural. In: MARTINS, J. S. (Org.). Introdução crítica a sociologia rural.
São Paulo: HUCITEC. p. 144-162, 1981.
[12] MENDRAS, H. Sociologia Rural. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
[13] NASCIMENTO, J. M., MOREIRA, E. (2008a). Sementes da Paixão: estratégia de reprodução da agricultura
familiar no Alto Sertão Paraibano. In: Semiluso - Seminário Luso Brasileiro, Ano II, 26 a 28 de junho de 2008, João
Pessoa, PB. Editora Universitária UFPB, 2008.1 CDROM.
[14] NASCIMENTO, J. M., MOREIRA, E. (2008b) O papel dos assentamentos rurais e dos bancos de Sementes da
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[15] NEVES, D. P. A Agricultura familiar e o claudicante quadro institucional. IV Encontro da Sociedade
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[16] SABOURIN, E. Camponeses do Brasil: entre a troca mercantil e a reciprocidade. Rio de Janeiro: Garamond,
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Agroecologia em Foco - Volume 5
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[19] SOARES, L. E. Campesinato: ideologia e política. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.
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[21] WANDERLEY, M. de N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. Trabalho apresentado no XX Encontro
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[23] WOLF, E. Sociedades Camponesas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
Capítulo 7
Transição agroecológica no Assentamento Chico
Mendes III - PE
Jorge Luiz Schirmer de Mattos
Jorge Roberto Tavares de Lima
José Nunes da Silva
Gustavo Silva Carreiro de Souza
Flávio Duarte da Fonseca
Resumo: O presente trabalho teve como principal objetivo analisar o processo de
transição agroecológica participativa no Assentamento Chico Mendes III para o
fortalecimento das famílias agricultoras no que concerne a sua produção e reprodução.
Um diagnóstico rápido participativo foi realizado para se identificar os limites e
potencialidades do assentamento. Também se lançou mão de visitas de intercâmbio em
propriedades que desenvolvem agriculturas de base agroecológica em Pernambuco, com
o intuito de se conhecer diferentes modelos de sistemas de produção, consumo e de vida.
Com base nas visitas de intercâmbio e no conhecimento prévio dos assentados planejou-
se e implantou-se uma unidade experimental agroecológica (UEA) coletiva constando de
hortaliças, culturas anuais, fruteiras e adubos verdes, de modo a se experimentar
diferentes arranjos e desenhos de sistemas produtivos. A UEA se constituiu num
importante espaço de aprendizagem, mas também de geração de renda para o
assentamento na medida em que representou uma fonte de alimentos em variedade e
qualidade para as famílias e oportunidade para a venda do excedente. Observou-se o
empoderamento dos assentados, uma vez que a grande maioria participou da
construção e execução do projeto, trocou informações, conhecimentos e experimentou
efetivamente a condição de agricultor e produtor de alimentos passando a ser
reconhecida na comunidade e nas cidades circunvizinhas.
Palavras-Chave: Agroecologia, Assentamentos rurais, Campesinato, Policultivo.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
1.1 A AGROECOLOGIA E A TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA
A Agroecologia, ciência emergente e em construção, surgiu para fazer um contraponto ao paradigma
dominante da ciência moderna que se materializou na fragmentação do conhecimento e naquilo que
Santos (2006) denominou de “fenômeno global de industrialização da ciência”. Em verdade os setores
hegemônicos da sociedade instrumentalizaram a ciência para legitimar a sua dominação.
A ciência moderna, ao produzir um conhecimento disciplinar segregou a organização do saber na medida
que foi orientada para policiar as fronteiras entre as disciplinas, reprimindo os que quisessem transpô-las.
Isso sem falar no desprestígio que acometeu os saberes não científicos.
A Agroecologia, ao traçar caminho próprio, distanciou-se do engessamento disciplinar e linear e buscou
fundamentação em outras áreas do conhecimento (agronomia, ecologia, sociologia, antropologia,
educação, economia, comunicação, física, história, etc.) para fundar sua matriz teórica, inaugurando aquilo
que poderia se designar de referencial em articulação transdisciplinar (Figura 1).
Figura 1 - Representação esquemática do enfoque científico da Agroecologia e da transição agroecológica
Conhecimento
Local
Conhecimento
Científico
Agronomia, Ecologia, Sociologia,
Física, Economia, Comunicação
História, Educação, Antropologia
Desenvolvimento psenvolviment
Rural Rural
e ID ranisição sisjroscolóejo: a]
Agricultura Agriculturas
Convencionais )
A Agroecologia, enquanto campo de conhecimento, ao propor um diálogo de saberes entre o
conhecimento local, endógeno, popular e o conhecimento científico rompeu com a ideia de que o
conhecimento válido é somente o científico. E ao dialogar com outras formas de conhecimento deixou-se
penetrar por elas (SANTOS, 2006). Não se trata, no entanto, de volta ao passado, mas de reconhecer que
existem outras formas de conhecimento e que o saber popular (local), passado de geração a geração
também deve ser considerado válido e pertinente em se tratando da construção do campo de
conhecimento agroecológico. Para Guzmán (2005), a Agroecologia pretende ativar o potencial endógeno,
gerando processos que deem lugar às novas respostas ou façam brotar as velhas (se estas forem
sustentáveis).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Com o advento da Agroecologia a visão antropocêntrica de conhecer a natureza para dominá-la,
transformá-la e controlá-la perde terreno para a visão ecocêntrica, na medida que o homem se
(rejencontra com a natureza. A visão ecocêntrica, rompe com a fronteira que se estabeleceu entre o ser
humano e a natureza, na medida que engendra a (re)significação da relação homem-natureza em bases
mais sólidas de co-evolução (GUZMÁN, 2006), com perspectivas eco-sociais e eco-sistêmicas. É, portanto,
essencialmente relacional, dialógica, interligada indicando que tudo que existe, co-existe, que se estende
além da ecologia natural englobando a cultura, a sociedade, a mente e o individuo (MORAES, 2004).
A Agroecologia fornece as bases científicas, os princípios, os conceitos e as metodologias que orientam o
redesenho do agroecossistema na transição agroecológica. A transição agroecológica compreende a
mudança de um modelo de desenvolvimento e agricultura industriais para modelos de desenvolvimentos
e de agriculturas sustentáveis (CAPORAL, 2009).
O modelo de desenvolvimento industrial da agricultura, com o advento da “revolução verde”, invocou para
sio propósito de resolver em escala global o problema da fome e da pobreza no mundo. No entanto, no
“mundo em desenvolvimento” a miséria, a escassez de alimentos, a desnutrição, o declínio nas condições
de saúde e a degradação ambiental e a concentração de renda continuam sendo problemas (ALTIERI,
2001). Segundo Gliessman (2001) a agricultura em escala global tem sido muito bem sucedida,
satisfazendo uma demanda crescente de alimentos durante a última metade do século XX. Todavia, a
despeito de seu sucesso o sistema de produção global de alimentos está no processo de minar a própria
fundação sobre a qual foi construído. Isso porque as técnicas, as inovações, as práticas e as políticas que
permitiram aumentos na produtividade via “revolução verde” também minaram a sua base, uma vez que
retiraram excessivamente e degradaram os recursos naturais da qual a agricultura depende (o solo,
reservas de água e a diversidade genética natural), bem como criaram dependência de combustíveis
fósseis não renováveis e ajudaram a forjar um sistema que cada vez mais retira das mãos dos produtores e
assalariados agrícolas a responsabilidade de produzir seus próprios alimentos. O desenvolvimento
tecnológico nos separou da natureza ao invés de nos unir a ela e a exploração da natureza também se
tornou à exploração do homem (SANTOS, 2006). De fato, o crescimento do processo de mercantilização foi
de tal ordem, que de uma situação em que a reprodução das famílias camponesas era em grande parte
autônoma, passou-se a outra situação, em que a reprodução tornou-se dependente do mercado e não dos
agroecossistemas (GUZMÁN, 2005).
O processo de transição agroecológica transcende os aspectos relativos a produção agrícola e vai além do
processo de “ecologização” da agronomia ou da agricultura, na medida que lhe é incorporada uma
abordagem multidimensional: histórica, econômica, biológica, social, ambiental, cultural, educativa,
política e ética.
O aspecto transicional e o enfoque multidimensional ganham terreno, sobretudo porque o processo de
mudança para as agriculturas (de base agroecológica) e desenvolvimentos sustentáveis requer uma lógica,
um tempo de maturação, próprias da agricultura camponesa, que dependem de reflexões e atos
essencialmente humanos, culturais, sociais e educativos, para sua efetivação. Isso porque são reflexões e
atos constituídos por sujeitos históricos repletos de signos, de sonhos, culturas, desejos, valores e
sentimentos de pertença próprios de quem vive na “terra” e faz parte dela. O caráter transicional também
ganha terreno porque esse processo está consubstanciado em princípios não dogmáticos que se
pretendem articuladores de uma sociedade efetivamente sustentável, que implica mudanças de atitudes e
valores sempre renovados. Contudo, este processo transicional está longe de ser considerado como algo
pacífico, pré-determinado e tampouco pronto e acabado, pois encontra-se sob a disputa de dois projetos
de sociedade que geram tensões e conflitos interna e externamente ao agroecossistema. E a depender das
opções dos atores sociais envolvidos poderá se trilhar o caminho em direção a modelos mais sustentáveis
ou que referendam o modelo hegemônico /convencional (Figura 2).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Figura 2 - Representação esquemática do agroecossistema como espaço de disputa entre dois modelos de
desenvolvimento.
Desenvolvimento rural
ess feto nai
Modelos
alternativos
uma
A Agroecologia utiliza como unidade de análise o agroecossistema para compreender as possíveis
interações entre as partes do sistema e a relação destas com o todo com base numa visão ecocêntrica, eco-
social e eco-sistêmica do sistema, em oposição à visão antropocêntrica, fragmentada, reducionista e
mecanicista de ciência que privilegia o estudo das partes isoladas do todo do sistema. Diz-se que o
agroecossistema é um ecossistema modificado pela ação antrópica (GLIESSMAN, 2001), face ao
desenvolvimento da agricultura para se obter produtos /alimentos. Portanto, o agroecossistema é um local
de produção agrícola, por exemplo, uma propriedade agrícola, um assentamento, uma bacia hidrográfica,
mas também pode ser compreendido como um espaço de produção-consumo-vida.
2. METODOLOGIA
A metodologia do presente trabalho baseou-se na pesquisa participante de Boterf (1987), na pesquisa-
ação de Thiolent (2004), no diagnóstico rural rápido participativo (DRP) (ALTIERI, 2002; VERDEREJO,
2007), nas unidades experimentais agroecológicas de Claro (2001) e na abordagem sistêmica proposta
por Khatounian (2001). Para isso foram adotadas as seguintes estratégias metodológicas: a) Grupo de
estudos; b) Diagnóstico rápido participativo; c) Unidade experimental agroecológica (UEA); d)
Intercâmbio com agricultores de base agroecológica.
A partir de uma abordagem sistêmica, o conjunto de pesquisadores e assentados fez um diagnóstico das
unidades produtivas do assentamento com o intuito de conhecer os diferentes sistemas de produção, suas
limitações e potencialidades, bem como questões de gênero e geracional. A execução desse diagnóstico
permitiu a troca de experiências entre os assentados e a identificação dos pontos-chave para se proceder a
transição para a agricultura de base agroecológica. Seus resultados também apontaram o local onde
deveria ser implantada a UEA, que se constituiu no principal espaço de experimentação e aprendizagem
do assentamento.
Agroecologia em Foco - Volume 5
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 GRUPO DE ESTUDO
O grupo de estudo proporcionou o debate de temas importantes para o desenvolvimento do projeto e do
assentamento. Temas como Agroecologia, práticas das agriculturas de base agroecológica, transição
agroecológica, legislação de produtos orgânicos (Lei 10.831, Decreto 6.323), certificação e comercialização
sem certificação (BRASIL, 2008), geração e gênero, soberania alimentar, etc. foram debatidos. Nas
reuniões do grupo de estudo também foram feitas avaliações sistemáticas das visitas de intercâmbio
realizadas em propriedades orgânicas de base agroecológica e dias de intercâmbio nas UEAs. Na prática as
reuniões do grupo de estudo constituíram-se num espaço de troca de conhecimentos para dirimir dúvidas,
fazer acordos, planejar atividades, avaliar os erros e acertos, (re)planejar e propor e negociar novos
projetos.
Dias de intercâmbio na UEA
Os dias de intercâmbio na UEA, em número de sete, possibilitaram a troca de experiência entre os
assentados mais diretamente envolvidos nas atividades dos “roçados de estudo” e aqueles que optaram
por não se envolver na UEA coletiva (ou “roçado coletivo”, assim denominado pelos assentados). No
roçado coletivo foi possível visualizar a construção de canteiros em nível (uma novidade no assentamento,
pois o plantio era feito “morro a baixo”), a germinação e desenvolvimento de diferentes culturas, algumas
desconhecidas da maioria dos assentados (berinjela, cenoura, rúcula, couve-flor), a produção de composto
orgânico e biofertilizante supermagro, o cultivo de adubos verdes, consórcios de hortaliças e culturas
anuais e agrofloresta.
3.2 VISITAS DE INTERCÂMBIO
Foram realizadas várias visitas de intercâmbio em propriedades e feiras, oito ao todo, por ocasião da
execução do projeto. As visitas de intercâmbio foram importantes para a confirmação na prática daquilo
que se tratou teoricamente nas reuniões do grupo de estudo quanto à viabilidade e o potencial das
agriculturas de base agroecológica. Os intercâmbios possibilitaram que os assentados conhecessem as
diversas etapas dos processos desde produção até a comercialização dos alimentos. Essa noção das partes
e do todo foi providencial para os assentados compreendessem a complexidade e os desafios da atividade,
que requer conhecimentos e recursos específicos. Segundo depoimento de um dos assentados “o bom foi
ter visto na prática o que acontece antes da porteira e depois da porteira e ouvido dos próprios
agricultores e feirantes que a coisa dá certo mesmo”.
3.3 DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO
Com o objetivo de identificar os limites e potencialidades do Assentamento Chico Mendes III procedeu-se
um DRP lançando-se mão de caminhadas transversais, mapas e reuniões.
Limitações
A maior parte dos beneficiários do Assentamento Chico Mendes III é de trabalhadores rurais ou filhos de
trabalhadores rurais, oriundos do corte da cana-de-açúcar na região metropolitana. Parte é de
trabalhadores urbanos de São Lourenço da Mata e apenas alguns são de fato agricultores que perderam
suas terras ou deixaram suas terras no sertão nordestino por conta da seca. A grande maioria dos que
vivem no assentamento é evangélico, idoso e trazem consigo a marca histórica do analfabetismo
decorrente da perversa ação do estado que excluiu dos bancos escolares um enorme contingente de
pessoas. Contudo, há no assentamento uma escola itinerante, Conde Pereira de Carneiro, que oferece
turmas de EJA e infantil, através de duas professoras capacitadas pelo movimento sem terra - MST. A sala
de aula da escola consiste num galpão de taipa, coberto com telhas de amianto e chão batido, mobiliada
com um pequeno quadro negro e carteiras em estado avançado de uso e uma bateria que gera energia a
noite para a aula dos adultos, uma vez que no assentamento não tem energia elétrica. A escola também
serve como espaço de reuniões e assembleias, que às vezes acontecem no mesmo horário de aula.
Agroecologia em Foco - Volume 5
O terreno do assentamento apresenta relevo de suave a ondulado com presença de áreas de várzeas
alagáveis no período de inverno e, principalmente áreas de morro, boa parte imprópria para a agricultura
mecanizada. A textura do solo varia de arenosa a argilosa e segundo os assentados em processo avançado
de degradação. A área do assentamento apresenta uma mata de capoeira em processo de revegetação, mas
ainda com predominância de capins braquiária e colonião, resultante da criação de animais no antigo
Engenho São João. O assentamento é rico em nascentes de água e córregos, porém sem nenhuma proteção
do entorno dessas fontes hídricas. Essa situação é semelhante aos rios que cortam a área do assentamento,
Tapacurá e Goitá, que apresentam apenas pequenos fragmentos de mata ciliar. O rio Goitá apresenta certo
grau de poluição gerada pelas usinas de cana-de-açúcar que se encontram a montante. O rio Tapacurá
recebe as águas da Barragem Tapacurá, que abastece de água a Região Metropolitana do Recife (RMR) e
por isso encontra-se aparentemente menos poluído.
Segundo a agente de saúde do assentamento, há suspeita de que as fontes de água (cacimbas) próximas à
comunidade estão contaminadas por coliformes fecais em decorrência do livre acesso de animais. Vários
problemas de saúde acometem as famílias em Chico Mendes III: desnutrição, diarréia, miopia, doença de
chagas, hepatite, esquistossomose, neurocisticercose, leishmaniose, depressão, alcoolismo, etc. Segundo
relato dos assentados boa parte toma remédio “controlado” contra a depressão, provavelmente em
decorrência da instabilidade vivida pelas famílias desde o período de acampamento.
As estradas do assentamento são precárias. As moradias são de taipa e chão batido, pois o INCRA ainda
não liberou o financiamento para a construção das casas. Ocorre que ainda não foi feito a divisão definitiva
dos lotes, uma vez que parte da área encontra-se em litígio judicial do Incra com a prefeitura de Paudalho-
PE, que pretende transformar o local em distrito industrial e residencial, segundo os assentados. Essa
mesma área, que se encontra dentro do município de Paudalho, já foi objeto de questão judicial do Incra
contra fazendeiros vizinhos que haviam invadido o assentamento em final de 2008. Essa condição
constante de indefinição da posse e demarcação dos lotes tem obrigado muitos assentados a venderem
sua força de trabalho fora do assentamento em usinas de cana-de-açúcar vizinhas e as mulheres atuarem
como empregadas domésticas temporárias nas cidades próximas.
Dos assentados que têm o hábito de produzir em Chico Mendes II alguns ainda faziam, até pouco tempo, o
uso de queimadas e agrotóxicos nas áreas de cultivo, que são geralmente itinerantes. Em geral os sistemas
produtivos se caracterizam por envolver preparo do solo com gradagem, semeadura manual, adubação
com cama de galinha e capina manual. Em que pese o fato de a cada ano ocorrer a mudança da área de
cultivo os assentados estão enfrentando alguns problemas fitossanitários em seus cultivos como a
podridão radicular (Phytophthora spp, Pythium scleroteichum e Fusarium solani) na macaxeira, ataque de
lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) no milho, vaquinha (Diabrotica speciosa) no feijão e
nematóides (Scutellonema bradys) no inhame, com implicações negativas na produtividade desses
monocultivos. Próximo às moradias observa-se a presença de pequenos animais e grande variedade de
espécies de fruteiras, plantas medicinais e aromáticas, porém essa diversidade não se estende aos roçados
de cultivo, onde predomina a monocultura do milho, do feijão e da macaxeira e, mais recentemente, do
inhame. Não obstante, poucos são os assentados que possuem recursos próprios para bancar o
estabelecimento de roçados em áreas maiores e alcançar um volume de produção a ponto de gerar uma
renda satisfatória.
A alimentação das famílias em Chico Mendes III tem sido garantida com a doação de sestas básicas pelo
Incra, cuja entrega atrasa as vezes até três meses e quando chegam apresentam em certos casos produtos
de baixa qualidade ou estragados. Essa condição tem obrigado os assentados a adquirir alimentos na
cidade cujas embalagens têm gerado uma quantidade de lixo suficiente a ponto de se tornar mais um
problema para o assentamento.
Potencialidades
Próximo a BR 408 (recentemente duplicada) e ao mercado consumidor (3 km do distrito de Tiúma, 7 km
da cidade de São Lourenço, 25km da CEASA em Recife), o assentamento Chico Mendes III apresenta
características promissoras para a produção e comercialização de alimentos. Essa ideia se fortaleceu com
a realização da Copa do mundo em 2014 com a construção do estádio e de inúmeros pontos de comércio,
pousadas, etc. a 10 km do assentamento, que constituem-se em demanda de alimentos e uma
oportunidade atrativa para geração de renda aos assentados de Chico Mendes. Nesse assentamento há
hoje uma grande diversidade de cultivos (alface, coentro, cenoura, quiabo, pepino, melancia, melão,
jerimum, inhame da costa, batata-doce, feijão de corda irrigado no verão (áreas próximas as nascentes),
feijão mulatinho, milho, abacaxi, macaxeira, cana-de-açúcar, mamão papaya, mamão caiana, uva, banana,
Agroecologia em Foco - Volume 5
araçá, acerola, goiaba, laranja, manga, pinha, caju, azeitona, cajá, jaca, etc. Também criam-se bovinos,
caprinos, equinos, suínos, galinhas, patos, peixes (tilápia, carpa, tambaqui) e galinhas de angola, etc. Essa
diversidade de cultivos ocorre ao redor das moradias lembrando quintais agroflorestais ou sítios típicos
de fundo de engenhos da cana-de-açúcar. Contudo, segundo os assentados essa produção em pequena
escala é incapaz de garantir alimentação e renda suficientes e condições dignas de vida às famílias
assentadas. Daí a existência de outros sistemas de produção envolvendo consórcio de milho com feijão,
fava e jerimum e monocultivos, predominantemente, com macaxeira, milho, feijão e inhame.
Pontos-chave
A produção agropecuária no assentamento Chico Mendes III é diversificada, porém em pequena escala. A
pouca renda familiar advém do período de colheita com a venda de milho, feijão, macaxeira e em alguns
casos da aposentadoria. A degradação do solo, a baixa produtividade, a ocorrência de pragas na
monocultura do milho, do feijão e da macaxeira tem resultado em baixa produção de alimentos e de renda
para as famílias. Isso está obrigando as famílias de Chico Mendes III a buscar novas alternativas de fazer
agricultura, menos danosas ao meio ambiente para a recuperação da fertilidade do solo e da vegetação do
local.
Uma alternativa viável econômica e ambientalmente na zona da mata pernambucana tem sido a adoção de
modelos de agriculturas de base ecológica, que geram renda e recuperam a fertilidade do sistema.
Nesse sentido, a adoção de sistemas diversificados como a agrofloresta, a base de fruteiras e essências
florestais nativas da região, policultivos diversificados são uma alternativa viável econômica e
ambientalmente para as famílias de Chico Mendes III. Isso se alicerçada em processos educativos
dialógicos e participativos que compreendendo os assentados como protagonistas das suas próprias ações
e os extensionistas como facilitadores destes processos educativos.
O processo de transição agroecológica iniciou a partir de 2009 tendo por base o conhecimento dos
assentados, de visitas de intercâmbio a propriedades de base agroecológica e constituição de Unidades
Experimentais Agroecológicas (UEAs) para estudar sistemas de produção ecológicos envolvendo
policultivos com hortaliças, agrofloresta e adubação verde, com vistas melhoria na fertilidade do solo, na
alimentação da famílias e na comercialização do excedente.
3.4 PLANEJAMENTO DA UEA
Primeiro passo:
Com base no conhecimento dos assentados, bem como nas visitas de intercâmbio fez-se um levantamento
de espécies de hortaliças, culturas anuais, fruteiras, arbóreas e adubos verdes que poderiam fazer parte da
UEA:
a) Hortaliças: alface, pepino, couve, mostarda, repolho, tomate, espinafre, agrião, vagem, maxixe, alho
poro, pimentão, berinjela, chuchu, cebolinha, quiabo, salsa, cenoura, brócolis, beterraba e coentro.
b) Cultivos anuais: batata doce, macaxeira, amendoim, gergelim, milho, feijão, favas e inhame.
c)Fruteiras: Abacate, coco, laranja mimo, mamão, abacaxi, goiaba, limão, manga, abiu, graviola, mamão,
maracujá, açaí, guabiroba, oiti caro, acerola, ingá, jaca, pinha, banana, jabuticaba, jambo, pitanga, cacau,
jaca, laranja, pitomba, cajá, jambo, laranja cravo, sapoti, cajarana, laranja mimo, siriguela, caju, laranja
cravo, limão e uva.
d) Arbóreas: algaroba, marmeleiro, eucalipto, genipapo, imbaúba, dendê, lacre, facheiro, imbiriba, açafrão,
velame, cadeiro, juá, coração-de-nego, umbuzeiro, leucena, nim, trapiá, aveloz, aroeira, pau d'arco, barabú,
bambu, jatobá, pau-brasil, catingueira, carrapateira, cumaru, sabiá, ingá, viuvinha, baraúna.
e) Adubos verdes: leucena, sombreiro, nim, feijão guandu, feijão de porco, crote, mucuna preta, mucuna
anã, mucuna cinza, lava prato, brasileirinho, capim elefante.
Percebe-se que boa parte das espécies relacionadas pelos assentados havia sido visualizada nas visitas de
intercâmbio. Outro aspecto que chamou a atenção foi o fato de que várias das espécies arbóreas citadas
pelos assentados são nativas da caatinga ou exóticas (sic).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Segundo passo:
Após a listagem das espécies os assentados escolheram diferentes arranjos e combinações de cultivo,
levando em consideração a estratégia econômica de produzir espécies de curto, médio e longo prazo:
Curto prazo:
a) Hortaliças:
1) coentro + cebolinha + alface; 2) coentro + quiabo; 3) repolho + alho poro; 4) maxixe + pepino; 5)
pimentão + berinjela; 6) salsa + tomate; 7) espinafre + agrião; 8) couve + mostarda; 9) couve + espinafre;
10) maxixe + quiabo + vagem; 11) cenoura + brócolis; 12) chuchu + pepino; 13) pimentão + beterraba;
14) cebolinha + acelga;
b) Culturas anuais
1) amendoim + gergelim; 2) macaxeira + batata doce + inhame; 3) milho + fava rajada + melancia; 4)
milho + feijão sempre verde.
Médio prazo: maracujá + mamão + banana + abacaxi.
Longo prazo: acerola, citros, graviola, sapoti, manga, coco, pitanga, açaí e pitomba.
Os adubos verdes escolhidos foram: feijão de porco, feijão guandu, leucena, mucuna preta, mucuna cinza e
mucuna anã.
3.5 IMPLANTAÇÃO E MANEJO DA UEA
Uma série de atividades foi realizada coletivamente, em forma de mutirão, na UEA com o intuito de iniciar
a produção de base ecológica: a) Consórcio de hortaliças (elencados acima): fez-se a escolha dos
consórcios e da área, demarcação e construção dos canteiros em nível, construção de reservatório de água,
implantação de sistema de irrigação, compostagem, preparo de biofertilizante supermagro, produção de
mudas em bandejas, semeadura direta, cobertura dos canteiros com capim. b) Culturas anuais (elencados
acima): procedeu-se a construção de “monturos” para o plantio de inhame e macaxeira e os berços de
cultivo para as sementes. c) consórcio de adubos verdes: foi semeado em faixas feijão de porco, feijão
guandu, mucuna preta, mucuna anã, mucuna cinza, leucena. d) Agrofloresta: mediu-se uma área de 10 x 20
m, onde foram implantadas as seguintes espécies: milho, fava, macaxeira, abacaxi, mamão, banana,
acerola, graviola, coco, abacate e citros. O abacaxi serviu de tutor na implantação da agrofloresta.
Internamente foi distribuída cobertura morta para preencher os espaços vazios. No entorno da área
foram plantadas estacas de crote e semeado feijão de porco e feijão guandu.
A UEA coletiva serviu de “laboratório” para iniciar a transição agroecológica em termos produtivos no
assentamento, ou seja, significou um espaço de aprendizagem movido por erros e acertos de pessoas com
diferentes tipos e graus de conhecimento e dificuldades, envolvendo uma grande diversidade de cultivos e
arranjos, muitos destes ainda não conhecidos pelos assentados. E foi palco de conflitos, disputas,
solidariedade, ajuda mútua, troca e produção de novos conhecimentos e desmistificação de outros. Talvez
um dos maiores “mitos” em termos técnicos quebrados por ocasião das atividades realizadas na UEA
coletiva tenha sido o cultivo em nível das hortaliças e dos cultivos anuais, uma vez que a prática dos
assentados recomendava o “cultivo morro a baixo”. Muitos cultivos envolvendo berinjela, cenoura, acelga,
etc. e a própria agrofloresta com cultivo adensado foram novidades para a maioria dos assentados. A
pouca ocorrência de pragas e doenças na UEA também chamou a atenção dos assentados. Porém, o
principal impacto positivo da UEA coletiva foi o fato dos assentados levarem para seus roçados
particulares alguns dos ensinamentos vivenciados na unidade experimental, tais como: cultivos
diversificados, uso de cobertura morta, consórcios, adubação verde, etc.
Contudo, aos olhos dos assentados, é possível que a implantação da UEA coletiva tenha cumprido um
importante papel político, pois se deu no momento em que eram poucos os roçados cultivados no
assentamento e se questionava na justiça a posse da área. Segundo depoimentos de alguns assentados o
“Roçado de estudo”, assim como era chamado a UEA coletiva, foi “o espelho” de Chico Mendes III naquele
período. Pois, para lá eram levadas as visitas que desejavam conhecer e consumir os produtos do
Agroecologia em Foco - Volume 5
assentamento e era de onde se retirava boa parte dos alimentos para as famílias assentadas e para
presentear autoridades em repartições públicas municipais e estaduais.
Muitos dos alimentos produzidos na UEA passaram a fazer parte dos hábitos alimentares das famílias
assentadas. Alguns produtos foram comercializados na feira em Tiúma e em ruas de São Lourenço da Mata
e de Camaragibe, com grande aceitação pelos consumidores.
A experiência vivenciada na UEA coletiva foi de fundamental importância para o planejamento de novas
UEAs, cuja produção foi comercializada em uma feira ecológica criada na praça em frente a prefeitura de
São Lourenço da Mata.
Por fim, ressalta-se que nesse inicio do processo de transição agroecológica no assentamento Chico
Mendes III priorizou-se os aspectos produtivos, econômicos e ecológicos, e em certa medida educativos e
normativos, necessitando atender as outras dimensões da sustentabilidade: sociais, culturais, éticas, etc.
num futuro próximo.
4. CONCLUSÕES
A zona da mata pernambucana tem se configurado, historicamente, como um espaço no qual predomina a
monocultura da cana de açúcar, que delineia a cultura, organização social e produtiva da região. Esta
realidade favoreceu ao longo das últimas décadas a organização de diferentes lutas de trabalhadores
rurais pela terra e, posteriormente, por condições dignas de vida na terra conquistada. Essa reconstrução
de modos de vida se dá no enfrentamento com o capital agroindustrial, que, em muitos casos, não passa de
explorador da força de trabalho dos agricultores, que através de uma prática agrícola convencional,
formata hábitos, saberes e fazeres.
No nordeste brasileiro os assentamentos rurais, guardam a particularidade de muitos deles serem criados
dentro de engenhos falidos ou ociosos e improdutivos, nos quais os trabalhadores da cana buscam
redefinir seus projetos de vida. Esse é o caso do assentamento Chico Mendes III, antigo engenho São João,
onde os assentados perceberam na transição agroecológica uma perspectiva concreta para redesenhar
seus roçados, restabelecer suas relações e (res) significar suas vidas a partir da agrobiodiversidade, da
ajuda mútua e da reaproximação com a natureza. E ainda que haja muito por se fazer, entre erros e
acertos, vão traçando seu próprio destino.
Assim, vale salientar que os acertos e os erros cometidos na implantação da UEA coletiva foram fontes
inspiradoras e motivadoras, no sentido pedagógico, para se retomar os rumos, redefinir os caminhos e
aprofundar o processo de transição agroecológica. E a experiência vivenciada foi de fundamental
importância para o planejamento de UEA com hortaliças e fruteiras nos lotes dos assentados, que
possibilitaram a criação recente de uma feira ecológica do próprio assentamento. Mas, em que pese o
grande acúmulo em termos de conhecimentos adquiridos e compartilhados, o grande avanço parece ter
sido o considerável grau de confiança estabelecido entre os assentados e a equipe da UFRPE, que resultou
na elaboração de novos projetos para dar conta do processo de transição agroecológica hoje em curso no
assentamento.
REFERÊNCIAS
[1] ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001.
110p.
[2] ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuária, 2002.
592p.
[3] ARAÚJO, J. P. A transição agroecológica na reforma agrária: a parte conquistada do latifúndio. In: Dinâmicas
rurais no nordeste: teses e dissertações. João Pessoa: Zarinha, 2009. P.201-257.
[4] BOTERF, G.L. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In: RODRIGUES, C. Repensando a
pesquisa participante. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. P.51-81.
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de produtos orgânicos sem certificação. Brasília: Mapa/ACS, 2008. 24 p.
[6] CAPORAL, F.R. Em defesa de um Plano Nacional de Transição Agroecológica: compromisso com as atuais e
nosso legado para as futuras gerações. Brasília, 2009. 36p.
Agroecologia em Foco - Volume 5
[7] CLARO, S.A. Referências tecnológicas, para agricultura familiar: Interpretação de resultados de análise de
solo segundo o método agroecológico. Porto Alegre: Emater/RS - ASCAR, 2001.
[8] GLIESSMAN, S.R. Agroecologia: processos ecológicos e agricultura sustentável. 2.ed. Porto Alegre: UFRGS,
2001. 653p.
[9] GUZMÁN, E.S. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável. In: AQUINO, A.M.;
[10] GUZMÁN, E.S. Desde el pensamiento social agrario. Córdoba: Universidad de Córdoba, 2006. 288p.
[11] KHATOUNIAN, C.A. A reconstrução ecológica da agricultura. Botucatu: Agroecológica, 2001. 348p.
1
[12] MORAES, M.C. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XXI. Petrópolis:
Vozes, 2004. 342p.
[13] SANTOS, B.S. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 92p.
[14] THIOLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2004. 107p.
[15] VERDEREJO, M.E. Diagnóstico rural participativo: guia prático. Brasília: MDA, 2007.
Capítulo 6
Dinâmica espaço-temporal da agropecuária no
Município de Primavera, Estado do Pará: Subsídios
para a transição agroecológica
Caio Cezar Ferreira de Souza
Marcos Antônio Souza dos Santos
Fabrício Khoury Rebello
Cyntia Meireles Martins
Maria Lúcia Bahia Lopes
Antônia do Socorro Aleixo Barbosa
Resumo: A exploração dos recursos naturais provocada para atender as necessidades
humanas, através do avanço da agricultura, da pecuária, projetos de mineração, dentre
outros, causa alterações nos sistemas ambientais no tempo e no espaço. O objetivo da
pesquisa foi avaliar a dinâmica espaço-temporal da agropecuária no município de
Primavera, localizado no Nordeste Paraense, no período de 1980 a 2018, e oferecer
subsídios para a transição agroecológica dos sistemas de produção agropecuários
vigentes. A metodologia foi baseada na elaboração de mapas de uso e cobertura da terra
em três períodos distintos por meio de processamento de imagens dos satélites
LANDSAT (1984 e 2008), Sentinel (2018) e da caracterização do setor agropecuário com
a utilização de dados secundários sobre as variáveis socioeconômicas e produtivas. Os
resultados demonstraram que o município de Primavera não apresentou grandes
alterações em termos de ocupação de área pelo setor agropecuário, variando entre
23,3% (2008) e 29,3% (2018) da área total, mesmo após a instalação de um grande
empreendimento de mineração no município. Além disso, ao analisar o setor
agropecuário foi possível perceber que o nível tecnológico e a diversificação agrícola são
baixos, com pouca utilização de insumos químicos e máquinas e o predomínio do cultivo
de apenas cinco culturas agrícolas. É necessário buscar alternativas para a melhoria da
produção agrícola, o que pode se tornar viável através da incorporação de sistemas de
produção sustentáveis baseados em princípios agroecológicos.
Palavras-chave: Uso e Ocupação do Solo. Sistema de Produção. Agroecologia. Amazônia.
Nordeste Paraense.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
O Nordeste Paraense é a mais antiga fronteira de colonização do estado do Pará, Amazônia Brasileira,
sendo importante provedor de insumos da economia paraense desde o século XIX. Essa migração teve
reflexo direto no uso e ocupação do solo, sendo que atualmente apenas 35% desse território é coberto por
vegetação densa (REBELLO; HOMMA, 2017; CORDEIRO; ARBAGE; SCHWARTZ, 2017).
A ocupação da região foi exercida, predominantemente, pelos agricultores familiares, que segundo Rego e
Kato (2017), se utilizaram do corte e queima como principal prática de preparo de áreas para cultivos,
provocando, assim, a expansão do desmatamento em pequenas áreas, causando alterações na paisagem
natural,
As modificações das paisagens podem ser gerenciadas através de técnicas de geoprocessamento, a fim de
mitigar problemas relacionados ao uso indiscriminado dos recursos naturais, além de servir como base
para formulação de políticas públicas que fomentam o desenvolvimento sustentável (COELHO et al.
2014).
Na agricultura, a sustentabilidade é uma demanda crescente nas últimas décadas, com a busca de práticas
de produção de alimentos que sejam simultaneamente favoráveis ao meio ambiente, socialmente justa e
viável economicamente (WEZEL et al, 2014). Dessa forma, a inserção de práticas agroecológicas,
primordialmente, nos sistemas de produção da agricultura familiar é uma alternativa para a disseminação
do desenvolvimento sustentável no meio rural.
O município de Primavera, localizado no Nordeste Paraense, tem o espaço agrícola ocupado em sua maior
parte por pequenos produtores, sendo que a partir de 2014, com a instalação da empresa de mineração e
produção de cimentos, passou por processos que podem ter modificado a sua estrutura em decorrência do
intenso fluxo migratório de populações locais e de outras regiões, visando atender a demanda de mão de
obra estimulada pela implantação do empreendimento.
A utilização das geotecnologias tem se tornado uma ferramenta essencial na visualização dessas
alterações, como é visto nos trabalhos de Menke et al. (2009) que analisaram a evolução da agricultura
usando dados de sensoriamento remoto no município de Luis Eduardo Magalhães (BA) e de Spagnolo et al.
(2012) que investigaram a dinâmica da expansão agrícola no município de São Desidério (BA) através de
imagens de satélite. Formaggio e Sanches (2017) consideram que o uso de técnicas de geoprocessamento
é imprescindível no monitoramento de atividades agropecuárias, pois garantem avaliações de grandes
áreas em curto espaço de tempo.
Assim, a pesquisa tem como objetivo avaliar a dinâmica espacial e temporal da agropecuária no município
de Primavera, no período de 1980 a 2018, e identificar potencialidades para a transição agroecológica.
Uma vez que, a produção do meio rural nesse município tem sofrido uma perda de desempenho e a
carência de estudos na Amazônia Brasileira que tenham realizado uma avaliação de uso e ocupação do
solo associada a dados oficiais de Censos Agropecuários, colocando as práticas agroecológicas como um
possível caminho para o desenvolvimento rural.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Caracterização da área de estudo
O município de Primavera, localizado na mesorregião do Nordeste Paraense e microrregião Bragantina,
teve sua origem associada aos municípios de Capanema e Salinópolis, que tiveram seus territórios
desmembrados através da Lei n. 2.460, de 29 de dezembro de 1961 (PRIMAVERA, 2020). O mesmo está
distante 205 km da cidade de Belém (capital do estado do Pará), com acesso pelas rodovias BR-316, PA-
124 e PA-446. A população estimada para o ano de 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), é de 10.825 habitantes, tendo assim uma densidade demográfica de 41,86
hab. /km?.
Possui uma área de 258,6 km, situando-se nas coordenadas geográficas de 0º 56' 31” de latitude sul e 47º
7” 4º de longitude oeste, tendo como vizinhos os municípios de São João de Pirabas, Quatipuru e
Tracuateua (Figura 1).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Figura 1. Mapa de localização do município de Primavera.
amour w
Northeast Pará
Legend
e Gy
“a Municipal Boundaries
Primavera Municipality
mnbnale Sem
SIRGAS J000
aruvrw
Fonte: Elaborado pelos autores.
A economia do município passou por mudanças importantes, era baseada no setor de serviços, com
destaque para o setor público, e na agropecuária até o ano de 2015, porém, após o início da operação da
empresa de mineração e fabricação de cimentos, em 2016, o setor industrial passou a contribuir de forma
significativa no produto interno bruto municipal, sendo, em 2017, responsável por 42,23% do Produto
Interno Bruto (PIB), enquanto que a agropecuária contribuiu com apenas 3,19%.
Procedimentos metodológicos para identificação do uso e ocupação do solo
A elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo ocorreu em quatro etapas (Figura 2). A primeira
consistiu na seleção e aquisição das imagens que recobrem o município de Primavera; a segunda o pré-
processamento das imagens; a terceira envolveu a classificação das imagens e a quarta etapa foi a
produção da carta de uso e ocupação do solo, na escala de 1:500.000.
Figura 2. Fluxograma dos procedimentos metodológicos.
2 etapa - Pré-processamento das
imagens
* Lansat 5 (1984 e 2008)
- Composição RGB (Bandas 5,4 e 1)
- Recorte daárea de estudo
* Sentinel 2 (2018)
- Mosaico
- Composição RGB (Bandas 11, 8e 2)
- Recorte daárea de estudo
[1]
1º etapa- Seleção e aquisição de imagens
* Landsat 5 (1984 e 2008)
- Cena 223/61
* Sentinel 2 (2018)
- Cenas 23MKU e 23MKV
DM
4º etapa - Produção da carta de uso e
ocupação do solo
* Classes
- Água
- Vegetação
- Agropecuária
- Área urbana
- Mineração
3º etapa- Classificação de imagens
* Criação de arquivo de assinatura
- IsoCluster
* Classificação não-supervisionada
- Classificação de máxima
verossimilhança
* Ajustes
- Análise visual
Fonte: Elaborado pelos autores.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Na primeira etapa, após identificar as cenas que recobriam o município de Primavera, órbita 223 e ponto
61 do LANDSAT 5 e cenas 23MKU e 23MKV do Sentinel 2, foi feita a seleção das melhores imagens, ou seja,
aquelas que tinham a menor cobertura de nuvens, de períodos distintos, a fim de demonstrar as alterações
no uso e ocupação do solo a partir da década de 1980, causadas, sobretudo, pela implantação do projeto de
mineração, iniciado em 2014. Sendo assim foram adquiridas imagens do satélite Sentinel 2 de 2018,
resolução espacial de 10 m, e do LANDSAT 5 de 2008 e 1984, resolução espacial de 30 m, obtidas no portal
do United States Geological Survey (USGS). Foram utilizadas imagens do satélite Sentinel no último período
devido não se ter imagens com baixa cobertura de nuvens do satélite LANDSAT.
No pré-processamento das imagens foram realizadas a composição falsa cor para cada período com as
bandas 5, 4 e 1 para as imagens LANDSAT 5 e 11, 8e 2 para a imagem Sentinel 2, que representam
respectivamente as bandas SWIR 1, infravermelho próximo e azul, pois segundo Santos et al. (2014) é a
melhor composição para avaliação da agricultura, e as cenas foram projetadas para o Datum SIRGAS 2000,
no Sistema de Projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), Zona 23 Sul. Em seguida foi realizado o
mosaico com as cenas 23MKU e 23MKV do Sentinel 2 e os recortes necessários para obter apenas as
imagens da área de estudo para cada ano selecionado.
O processo de classificação das imagens foi realizado no software ArcGIS Desktop 10.5 sendo dividido em
dois estágios. Inicialmente foi utilizado o algoritmo Iso Cluster, ferramenta que usa clusterização para criar
um arquivo de assinatura que será empregado na classificação não-supervisionada. Em seguida, utilizou-
se o método de máxima verossimilhança para a obtenção das diferentes classes de uso e ocupação do solo.
Também foram realizados alguns ajustes manuais através da análise visual para corrigir alguns polígonos
que foram identificados em classes erradas.
Finalmente, foi elaborado o mapa de uso e ocupação do solo do município de Primavera, com a
identificação de cinco classes: água, vegetação, agropecuária, área urbana e mineração. Além disso, foi
realizado o cálculo das áreas de cada classe identificada com base nos polígonos resultantes da
classificação.
Dados para caracterização do setor agropecuário
A caracterização socioeconômica e produtiva do setor agropecuário do município de Primavera foi
realizada a partir de dados dos Censos Agropecuários e Produção Agrícola Municipal do IBGE. Foram
coletadas informações acerca da caracterização dos estabelecimentos agropecuários, com dados de 2006 e
2017, englobando dados referentes a acesso a energia elétrica, práticas agrícolas, uso de máquina, acesso a
assistência técnica, associativismo, acesso a financiamento e utilização de insumos, a fim de criar
indicadores de nível tecnológico agrícola do município de Primavera, Nordeste Paraense e do Estado do
Pará.
Em relação a Produção Agrícola Municipal, utilizou-se uma série histórica de 1980 a 2018 da participação
das principais culturas agrícolas do município de Primavera no valor bruto da produção agrícola (VBPA),
além do quantitativo de área colhida, quantidade produzida e produtividade, com o objetivo de identificar
o grau de importância de cada uma delas no decorrer do tempo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta os resultados encontrados nas classificações do uso e da cobertura da terra dos anos
avaliados nas classes mapeadas. Tais resultados demonstram o aumento da urbanização no município,
assim como o surgimento da classe de mineração no último período avaliado. De acordo com o Censo
(IBGE, 2010), 62% da população vive na área urbana, que em 2018 representava 0,6% da área total do
município, indicando assim, uma grande concentração populacional nessa área.
Em relação à área ocupada pela atividade agropecuária, inicialmente ocorreu uma diminuição entre os
anos de 1984 e 2008 de 1,2%, apresentando crescimento de 6% no ano de 2018, o que não é condizente
com os dados apresentados pelos Censos Agropecuários de 2006 e 2017, no qual as áreas dos
estabelecimentos são de 9.054 hectares e 4.877 hectares, respectivamente. Contudo, a classe de uso
agropecuário, não envolve somente as áreas de cultivo e, em muitos momentos, pode ser confundida com
a vegetação secundária em fase de regeneração o que pode justificar a divergência dos dados.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Tabela 1. Percentual de ocupação de área por classe nos anos de 1984, 2008 e 2018.
Classes 1984 2008 2018
Agropecuária | 24,5% 23,3%
% %
Fonte: Elaborado pelos autores.
Ao observar a Figura 3, pode-se destacar que a agropecuária em Primavera é composta majoritariamente
pela agricultura familiar, uma vez que é observado nos três períodos analisados a predominância de
pequenas áreas fragmentadas, especialmente na área central do município. Esse padrão é confirmado
quando se analisam os dados dos últimos Censos Agropecuários, com 41% dos estabelecimentos
agropecuários com áreas menores que 10 hectares, em 2006, e 73% em 2017, sendo que na última
pesquisa foram recenseados 388 estabelecimentos, dos quais 380 foram considerados agricultores
familiares.
Nos mapeamentos realizados para os anos de 2008 e 2018 também é possível identificar o aparecimento
de um padrão diferenciado na porção oeste do município, com a concentração de grandes extensões de
área coberta pela agropecuária. Essa região fica próxima a duas rodovias estaduais, PA-124 e PA-446, o
que justifica a instalação de estabelecimentos agropecuários de maior porte, devido a grande facilidade de
escoamento da produção. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, todos os estabelecimentos com áreas
superiores a 200 hectares estão associados a atividade econômica de pecuária e criação de outros animais.
Figura 3. Mapa de uso e ocupação do solo do município de Primavera nos anos de 1984, 2008 e 2018.
1984 2008 2018
arisow ar roaow aroow » arisow ar 030w arrow arvaowe arisow araaow «reow
vasos
qagas
Varas
amos
ossos
arisuw arvosow sr6ow ” arisuw ar1030w sre0w arvaow arsow aroaow srcow
Legend
Land Use and Occupation
Ed Water
EH Vegetation
EH Agriculture
Geographic Coordinate System
= Urban area Horizontal Datum SIRGAS 2000
Elaborated by: Caio Cezar F. de Souza
E Minin: Canographic Bases: LANDSAT S (1984 and 2008) and Sentinel 2 (2018)
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.
O resultado da classificação de uso e ocupação do solo também demonstrou que a instalação da empresa
de mineração e produção de cimentos, com a extração de calcário, não provocou mudanças significativas
no percentual de cada classe mapeada. Mas, o projeto ainda está em fase inicial de operação podendo a
médio e longo prazo causar impactos mais significativos, como relatado por Oliveira et al. (2018) no seu
estudo em Santana do Cariri (CE), que demonstrou grandes modificações na paisagem da região em
decorrência das grandes crateras resultantes da atividade de mineração de calcário.
No município de Capanema, localizado a 35 km de Primavera, a instalação de um empreendimento
semelhante, de extração de calcário, causou mudanças significativas nas condições de vida dos moradores
locais, pois a vizinhança do projeto de mineração não recebeu nenhum tipo de investimento relacionado a
Agroecologia em Foco - Volume 5
emprego, saneamento, educação e saúde, ficando apenas com os impactos ambientais advindos da
atividade (KALIFE, 2013). Esse é um resultado que deve ser considerado no âmbito das políticas públicas
e nos instrumentos de compensação socioambiental da empresa mineradora, visando evitar que os
problemas ocorridos em Capanema se repitam em Primavera.
Os resultados de uso e ocupação do solo, com a identificação do predomínio de pequenas propriedades e
da agricultura familiar, demonstrou característica fundamental para a proposição de práticas
agroecológicas. Contudo, é importante destacar outras peculiaridades da produção agropecuária do
município de Primavera, como o nível tecnológico e a diversificação de espécies cultivadas, que são de
fundamental importância para orientar estratégias de transição agroecológica.
Em relação a tecnologia utilizada no meio rural, os dados dos Censos Agropecuários de 2006 e 2017,
Tabela 2, demonstram que no município de Primavera a utilização de tratores e irrigação é baixa, sendo
que o uso do veículo agrícola teve uma diminuição no período analisado, o que pode estar diretamente
relacionado ao tamanho dos empreendimentos rurais, levando a dificuldade de acesso a financiamento,
realidade muito comum no meio rural de todo o estado do Pará.
O uso de agrotóxicos, apesar de ter aumentado, em 2017, ainda é baixo, quando comparado a outras áreas
de referência, como o Nordeste Paraense e o estado do Pará, e a adubação, que apresenta índices próximos
às regiões de referência, pode ser considerada diferenciada, pois no município de Primavera há
predomínio da adubação orgânica.
A utilização de práticas agrícolas, como a rotação de culturas e o pousio ou descanso de solos, na área de
estudo, apresentaram diminuição na indicação de uso entre 2006 e 2017, o que é destacado por Rebello e
Homma (2017), que descreveram as condições dos municípios do Nordeste Paraense como similares as do
início da década de 1990, onde eram utilizadas tecnologias rudimentares e a utilização do fogo para o
preparo da área. Rebello, Santos e Homma (2011) ainda afirmam que o munícipio de Primavera perdeu
dinamismo quanto ao nível tecnológico na agricultura, no período entre 1996 e 2006.
Dessa forma, como a produção agroecológica, possibilita uma produção eficiente com poucos recursos e
baixo nível de tecnologia, a sua disseminação teria um grande potencial de incorporação pelos agricultores
locais (ALTIERI; TOLEDO, 2011). Por outro lado, a integração com instituições de apoio, como os serviços
de assistência técnica e extensão rural e agentes que disponibilizam recursos financeiros ainda são muito
frágeis, assim como ações de associativismo e cooperativismo rural o que, nesse caso, pode dificultar a
disseminação das práticas agroecológicas entre os estabelecimentos agropecuários.
Tabela 2. Indicadores de nível tecnológico agrícola no município de Primavera, Nordeste Paraense e do
estado do Pará, nos anos de 2006 e 2017.
Área de Estudo Áreas de Referência
Indicadores (%) Primavera nono lesão Pará
Paraense
2006 2017 2006 2017
2006 2017
-
P
ha
[e]
[=x
(00)
ES
[=
Nº de estabelecimentos que recebem orientação técnica
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de plantio
em nível
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de
rotação de culturas
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de pousio
ou descanso de solos
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de
proteção e/ou conservação de encostas
Nº de estabelecimentos com indicação de participação
em associações e cooperativas
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de
adubação
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de
agrotóxicos
Nº de estabelecimentos com indicação de uso de
irrigação
Nº de estabelecimentos com indicação de propriedade
de trator
Nº de estabelecimentos com indicação de acesso a
financiamentos
[0]
EX
[=
[Sul
m m
Há
(a)
|) (95)
(a) [Sal
(94)
(a)
ha
(a)
pa
No)
pa
|)
pa
(e)
DE
EE
E
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE (2006, 2017).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Em termos de produção agrícola do município de Primavera, entre os anos de 1980 e 2018, pode-se
destacar: a mandioca (Manihot esculenta), a pimenta-do-reino (Piper nigrum), o milho (Zea mays), o feijão
(Vigna unguiculata) e o coco-da-baía (Cocos nucifera). No ano de 2018, esses produtos foram responsáveis
por 99,89% do valor bruto da produção agrícola (VBPA). A mandioca (Manihot esculenta), a partir de 2004
passou a ser a principal responsável pela composição do VBPA de Primavera, com participação variando
de 37,5% (2006) a 84,18% (2013).
Culturas como o maracujá (Passiflora edulis), malva (Malva sylvestris), arroz (Oryza sativa), algodão
(Gossypium hirsutun) e banana (Musa spp.), que em certos períodos representaram grande importância
para o setor agrícola do município, foram perdendo espaço com o passar do tempo. Sendo que a partir do
ano de 2002, como pode ser observado na Figura 4, predominaram os cinco produtos destacados
anteriormente.
Figura 4. Evolução do valor bruto da produção agrícola do município de Primavera, no período de 1980 a
2018.
L
Eu
[na
=
Õ
[m
a)
2x
E
ê
E
[=
Õ
õ
Eq
Ts
“E
Ê
En
õ
E
Eu
mC oco-da-baía mFeijão (em grão) m Mandioca
mMilho (em grão) HPimenta-do-reino MÔutras culturas
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE (2020).
O recorte temporal menor permite analisar a influência da empresa mineradora na produção agrícola de
Primavera, observando-se diminuição na área colhida e quantidade produzida de feijão (Vigna
unguiculata), milho (Zea mays) e pimenta-do-reino (Piper nigrum) antes do início das obras (2014), o que
pode estar relacionada ao abandono das terras agrícolas, principalmente dos agricultores mais jovens,
diante da expectativa de melhoria de outros setores da economia com a construção do empreendimento.
Já no período após 2014, essas culturas que inicialmente tiveram uma perda, apresentaram uma pequena
retomada, que pode estar relacionada ao aumento da pobreza da população e a necessidade do retorno do
cultivo para a subsistência das famílias, porém ao analisar todo o recorte temporal recente, de 2001 a
2018, essa recuperação não foi significativa visto que no geral as culturas apresentaram perda de
dinamismo ou estagnação.
A Tabela 3 demonstra que o feijão-caupi (Vigna unguiculata) é o produto com maior perda de dinamismo
nos últimos anos no município de Primavera, o que é destacado no estudo de Santos e Rebello (2012), no
qual fica evidenciado a situação dessa cultura, que tem sofrido perda, tanto de área colhida quanto de
quantidade produzida, desde o final da década de 1990. Os autores indicam que a falta de efetividade de
políticas públicas que propiciem a modernização da agricultura do município é uma das principais causas
desse desempenho insatisfatório.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Tabela 3. Taxas geométricas de crescimento (% ao ano) de área colhida (AC), quantidade produzida (QP) e
produtividade (P) das cinco principais culturas do município de Primavera, no período de 2001 a 2018.
2001 - 2014 2014 - 2018 2001 - 2018
Ciinitas dC Pfton) Plton/ha) AC(ha) OP(ton) Píton/ha) AC(ha) QPfton) Piton/ha)
(ha)
[Coco-da-baía | 949 | 891 | -053 | o | -189 | -189 | 622 | 39 | -218 |
5 [os [ass | ars | aus [ um | aar | ar [as [ rar |
reino
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados do IBGE (2018).
Desse modo, a implantação de sistemas de produção baseados em princípios agroecológicos, que buscam a
diversificação da produção, a fim de garantir soberania alimentar para os agricultores e resiliência a
alterações de ordem natural e comercial, que já foram implantados com sucesso no município de Tomé-
Açu, estado do Pará, como é relatado por Mota, Ribeiro e Schmitz (2019), pode ser uma alternativa válida
para aumentar o dinamismo da produção agrícola no município de Primavera.
4. CONCLUSÕES
Os resultados da classificação de uso e ocupação do solo demonstraram que o setor agropecuário tem
grande importância para o município de Primavera, ocupando cerca de um quarto da área total do
município em todos os períodos analisados, e que o mesmo é composto por pequenas áreas de produção
conduzidas por agricultores familiares.
Em relação a produção agrícola, os dados analisados revelaram que o município apresenta uma baixa
diversificação de produção, além do que os seus agricultores têm acesso limitado a tecnologias e ao apoio
de instituições de fomento. Diante das características apresentadas, o estímulo à adoção de práticas
agroecológicas constitui alternativa para o desenvolvimento da agricultura em Primavera, podendo
proporcionar mercados alternativos e soberania alimentar aos pequenos agricultores do município.
REFERÊNCIAS
[1] ALTIERI, M.; TOLEDO, V. M. The agroecological revolution in Latin America: rescuing nature, ensuring food
sovereignty and empowering peasants. The Journal of Peasant Studies, v. 38, n. 3, p. 587-612, 2011.
[2] COELHO, V. H. R; MONTENEGRO, S. M. G. L.; ALMEIDA, C. N.; LIMA, E. R. V.; NETO, A. R.; MOURA, G. 8. S.
Dinâmica do uso e ocupação do solo em uma bacia hidrográfica do semiárido brasileiro. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 18, n. 1, p. 64-72, 2014.
[3] CORDEIRO, I. M. C. €.; ARBAGE, M. J. C.; SCHWARTZ, G. Nordeste do Pará: configuração atual e aspectos
identitários. In: CORDEIRO, I. M. C. C.; RANGEL-VASCONCELOS, L. G. T.; SCHWARTZ, G.; OLIVEIRA, F. de A. (Org.).
Nordeste Paraense: panorama geral e uso sustentável das florestas secundárias. Belém, PA: EDUFRA, 2017.
[4] FORMAGGIO, A. R.; SANCHES, I. D. Sensoriamento Remoto em Agricultura. São Paulo: Oficina de Textos, 2017.
[5] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 2017. Disponível em:
https: //sidra.ibge.gov.br /pesquisa/censo-agropecuario/censo-agropecuario-2017. Acesso em: 05 jan. 2020.
[6] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 19 set. 2019.
[7] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção Agrícola Municipal. Disponível em:
https: //sidra.ibge.gov.br /pesquisa/pam/tabelas. Acesso em: 05 jan. 2020.
[8] KALIFE, K. R. Mineração de calcário no município de Capanema, estado do Pará: uma análise a partir da
percepção dos moradores do entorno da Jazida B-17. 2013. Dissertação (Mestrado em Planejamento do
Desenvolvimento) - Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.
[9] MENKE, A. B.; CARVALHO JUNIOR, O. A.; GOMES, R. A. T.; MARTINS, E. S.; OLIVEIRA, S. N. Análise das
mudanças do uso agrícola da terra a partir de dados de sensoriamento remoto multitemporal no município de Luis
Eduardo Magalhães (BA - Brasil). Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 21,n.3, p. 315-326, 2009.
Agroecologia em Foco - Volume 5
[10] MOTA, D. M.; RIBEIRO, L.; SCHMITZ, H. A organização do trabalho familiar sob a influência da produção de
dendê em Tomé-Açu, Pará. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 14, n. 2, p. 531-551,
2019.
[11] OLIVEIRA, E. A. F; FIGUEIREDO, S. S. M.; GONÇALVES, ). F.; BATISTA, T. A.; HOMEM, 1. C. A.; JANUÁRIO, T.L. S.
Impactos ambientais oriundos da extração de calcário laminado em Santana do Cariri (CE). Natural Resources, v. 8, n.
2, p. 21-30, 2018.
[12] PRIMAVERA. Prefeitura. Sobre a cidade. Disponível em: https://www.primavera.pa.gov.br /sobre-a-cidade/.
Acesso em: 05 jan. 2020.
[13] REBELLO, F. K.; SANTOS, M. A. S.; HOMMA, A. K. O. Modernização da agricultura nos municípios do Nordeste
Paraense: determinantes e hierarquização no ano de 2006. Revista de Economia e Agronegócio, Viçosa, v. 9, n. 2, p.
209-232, 2011.
[14] REBELLO, F. K.; HOMMA, A. K. O. História da colonização do nordeste paraense: uma reflexão para o futuro
da Amazônia. Belém: EDUFRA, 2017.
[15] REGO, A. K. C.; KATO, O. R. Agricultura de corte e queima e alternativas agroecológicas na Amazônia. Novos
Cadernos NAEA, Belém, v. 20, n. 3, p. 203-224, 2017.
[16] SANTOS, M. A. S.; REBELLO, F. K. Perfil socioeconômico e tecnológico dos pequenos produtores de feijão-
caupi do município de Primavera, Nordeste do Pará - Brasil. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento
Sustentável, Mossoró, v. 7,n. 5, p. 72-82, 2012.
[17] SANTOS, A. R.; EUGENIO, F. C.; SOARES, V. P.; MOREIRA, M. A.; RIBEIRO, C. A. A. S.; BARROS, K. O.
Sensoriamento Remoto no ArcGIS 10.2.2 passo a passo: processamento de imagens orbitais. Alegre: CAUFES, 2014.
[18] SPAGNOLO, T. F. O.; GOMES, R. A. T.; CARVALHO JUNIOR, O. A.; GUIMARÃES, R. F.; MARTINS, E. S.; COUTO
JUNIOR, A. F. Dinâmica da expansão agrícola do município de São Desidério-BA entre os anos de 1984 a 2008,
importante produtor nacional de soja, algodão e milho. Geo UER], v. 2, n. 23, p. 603-618, 2012.
[19] WEZEL, A.; CASAGRANDE, M.; CELETTE, F.; VIAN, J.; FERRER, A.; PEIGNÉ, J. Agroecological practices for
sustainable agriculture. A review. Agronomy for Sustainable Development, v. 34, p. 01-20, 2014.
Capítulo 9
Transição agroecológica, potenciais e desafios: Caso
do Sítio Brejo Queimado - Juazeiro do Norte/CE
Raquel Barros Justino
Maria Adriana Alves Dantas
Deiziane Lima Cavalcante
Manoele Magda de Sousa Silva
Geraldo Barros Justino
Resumo: Relato de experiência sobre a trajetória de mudanças de um terreno localizado
no sítio Brejo Queimado em Juazeiro do Norte - CE, desde que foi adquirido pela família
Barros. O caminho percorrido em busca de um modelo agroecológico e as disputas de
terra enfrentadas pelos moradores da localidade.
Palavras-chave: agroecologia, soberania alimentar, família
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. A FAMÍLIA BARROS E AS CEBs
A trajetória de vivência com a terra e a produção agropecuária da família Barros vem sendo traçada desde
que Nezim e Rosinha eram jovens. Nascidos no município de Caririaçu, interior do estado do Ceará,
participavam muito das atividades agrícolas e sociais desenvolvidas no Sítio Coronzol, no mesmo
município, principalmente por causa das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), apresentada a
comunidade pelo Padre Manoel Machado ainda nos anos 1980. Toda a comunidade se reunia para os
compromissos da igreja, mas iam muito além disso, discutiam a importância da união dos moradores,
lutavam contra qualquer tipo de exploração e ajudavam uns aos outros fazendo mutirões para quem
precisava de casas ou para uma obra que iria beneficiar toda o Coronzol e comunidades vizinhas, como o
açude, por exemplo. Durante todas essas atividades discutiam e faziam política, mesmo sem saber.
Nezim e Rosinha se casaram no ano de 1990 e foram morar em Campinas, estado de São Paulo. Lá nasceu
Raquel, em 1993. Voltaram para o Ceará em 1994, dessa vez para a zona Rural do município de Várzea
Alegre, voltando para Caririaçu em 1995, mesmo ano que Raqueline (a segunda filha do casal) nasceu. Em
busca de melhores oportunidades resolveram se mudar para Juazeiro do Norte no ano de 1996, mesmo
ano em que nasceu Geraldo, completando a família Barros. Eles viveram em um bairro muito
movimentado de Juazeiro até 2003, quando conseguiram comprar o terreno no Sítio Brejo Queimado.
O sítio Brejo Queimado localiza-se na cidade de Juazeiro do Norte, região do Cariri cearense e é composto
por vários terrenos. Um deles foi adquirido pela família Barros no ano de 2001. Desde então a família
trabalha para transformar o terreno em um local onde haja equilíbrio ambiental, passando assim por uma
transição agroecológica. Quando adquiriram o imóvel, o terreno possuía apenas uma casa pequena, uma
cacimba (que existe até hoje), além de contar com diversas mangueiras e coqueiros. Também era
atravessado pelo rio Timbaúba, e por isso, nos períodos chuvosos o terreno ficava bastante inundado.
é
Fonte: Acervo da família (2016)
2. ESTABILIDADE DA FAMÍLIA, PRODUÇÃO VEGETAL E FONTE DE RENDA
Entre os anos de 2001 a 2003 houve o aterramento do terreno e foi construída uma casa maior no lugar da
que tinha antes, os Barros também plantaram uma grande diversidade de árvores, principalmente
frutíferas, em toda a extensão do terreno, tendo assim, vários tipos de frutas e legumes. São elas: manga,
banana, abacate, mamão, cajá, caju, laranja, limão, goiaba, pitanga, jenipapo, acerola, graviola, macaúba,
araticum, oliveira, tamarindo (de variedade azeda e doce), carambola, sapoti, tangerina, romã, melancia,
jerimum, urucum, entre outras.
A família se mudou definitivamente em 2003, mesmo com a casa ainda em construção, parte da renda
vinha da venda das frutas, principalmente manga e coco, que eram comercializados nas ruas de Juazeiro
do Norte. Foi nesse período que iniciaram, também, o cultivo de hortaliças em canteiros, plantando
principalmente coentro e cebolinha para subsistência da família, tudo cultivado de maneira orgânica e
posteriormente foram plantados vários pés de pimenta.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Outro investimento na propriedade da família Barros foi o plantio de uma grande variedade de plantas
medicinais, principalmente por causa de toda a sabedoria popular que Rosa aprendeu com sua mãe e sua
comunidade, em Caririaçu. Existem plantas como malva do reino, malva corama, mastruz, hortelã, alecrim,
arruda, capim-santo, cidreira, arnica, insulina, manjericão, noni, carqueja, babosa, quebra-pedra, canaã,
entre outros. É importante lembrar que esses são nomes populares, ou seja, é a forma que Rosa conhece
essas plantas, podendo mudar de acordo com a região do Brasil.
Rosa ainda cultiva plantas ornamentais, e por elas tem um grande carinho e cuidado. Existe uma grande
variedade, indo de flores (incluindo rosas) até suculentas e cactáceas. E ainda distribui mudas dessas
plantas para quem quiser.
o RA ED ipa
Fonte: Acervo da família (20 17)
Boa parte das plantas são irrigadas por um sistema de irrigação alternativo feito por Nezim, que
compreende alguns aspersores e objetos que não são associados com as irrigações convencionais, como
talheres, a água é retirada da cacimba através de uma bomba, e é distribuída para todo o terreno através
de mangueiras de PVC.
Com o tempo, os Barros também foram aprendendo que existem plantas que não são comumente usadas
na alimentação, mas são muito ricas em nutrientes e podem sim ser ingeridas. São as plantas alimentícias
não convencionais, conhecidas como PANC. Temos como exemplo: Ora-pró-nobis, manjogome, quiabo de
metro e beldroega, folhas e sementes de jerimum e folhas de moringa.
Em 2007, Rosa começa a comercializar os produtos do Sítio Brejo Queimado no Centro de Abastecimento
Raimundo Viana, conhecido como mercado do Pio XII, e posteriormente conseguiu um ponto fixo na feira
da rua Santa Luzia. Leva de tudo que é produzido na propriedade, desde as frutas, pimenta, plantas
medicinais e PANCs. O principal produto para a comercialização é a acerola, principalmente por ser uma
cultura perene, ou seja, tem disponível durante todo o ano.
3. PRODUÇÃO ANIMAL
Antes mesmo de morar na zona rural de Juazeiro do Norte, a família Barros já criava galinha, mesmo
sendo em um local pequeno no quintal da casa. Depois que foram para o sítio Brejo Queimado, a criação de
galinha caipira aumentou, e além dessa ave, ainda criam ganso. O produto final das aves são carne e ovos.
Também existe a criação de pequenos ruminantes, sendo esses, caprinos e ovinos para abate e produção
de leite. Esses foram os animais que mais se adaptaram ao local, pois, tem um manejo mais simples, sendo
criados em um sistema de produção semi-intensivo. Para a alimentação deles, existe uma área com
pastagem para os pequenos ruminantes, algumas culturas presentes para a alimentação são: sorgo, milho,
capim-de-burro e cana-de-açúcar. Com o excedente de forragem, é feita a silagem, produto oriundo da
fermentação de gramíneas forrageiras para a conservação da mesma. Enquanto as aves são alimentadas
com milho e restos de hortaliças que sobram das feiras.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Foto 3 - Caprinos E Ovinos
7
4. CONSERVAÇÃO DA ÁGUA E DO SOLO
A casa dos Barros tem água encanada fornecida pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE), mas
em 2007 foi construída uma cisterna com capacidade para 36 mil litros de água. A água da chuva cai nos
telhados da casa e de um cômodo que serve como oficina (chamado de quartinho) e através de calhas são
levadas por tubulação para a cisterna.
A região nordeste tem apenas tem apenas duas estações bem definidas, verão (período de estiagem, sem
ou com pouca precipitação) e inverno (período chuvoso). Durante o inverno, a água da CAGECE é
desligada e a água da cisterna é usada de forma integral pela família, dessa forma se tem uma boa
economia na conta de água. Já durante o verão, a água da cisterna é utilizada apenas para beber, cozinhar
ou quando falta água da CAGECE. Dessa forma é possível ter água durante o ano inteiro.
A família também se preocupa com a conservação e fertilidade do solo, mantendo toda a vegetação que cai
sobre ele, formando uma serrapilhera, que se transforma em matéria orgânica. Além de manter a umidade
e proteger da erosão hídrica e eólica. O esterco produzido a partir das fezes dos animais de criação
também é incorporado ao solo, principalmente na horta e nas árvores frutíferas de pequeno porte.
Fonte: Acervo da família (2017)
Agroecologia em Foco - Volume 5
5. DESTINO CORRETO PARA O “LIXO”
Por não ser na zona urbana, não existe coleta seletiva por meio da prefeitura na zona rural, então toda a
separação do material é feita pela família. A parte que pode ser reciclada, como plástico e metal, é entregue
para catadores que participam de associações. O material orgânico (restos de comida) serve pra
alimentação dos animais de criação e estimação. Os restos das culturas e folhas secas que caem no terreno
são incorporados ao solo. O Material que não pode ser aproveitado é juntado e levado para o local de
coleta nos dias em que esta ocorre.
6. SEMENTES CRIOULAS E SOBERANIA ALIMENTAR
Na despensa da casa da família existe um pequeno banco de sementes crioulas, adquiridas através de
doações ou troca com agricultores que vendem em feiras agroecológicas da região. Algumas sementes são
sempre mantidas de um ano para o outro, como é o caso das sementes de feijão. Esse é plantado, colhido e
seco. Uma pequena parte é selecionada para ser armazenada e plantada no ano seguinte. Algumas das
sementes guardadas: feijão, milho, jerimum, melancia, quiabo, gergelim, maxixe, amendoim, mamão,
moringa, coentro e beijoqueira (flor ornamental). Dessa forma, os Barros tem mais soberania sobre o que
estão produzindo para a alimentação e comercialização, se tornando cada vez mais independentes de
grandes empresas que vendem sementes hibridas, transgênicas, agrotóxicos e outros insumos.
7. DISPUTA TERRITORIAL
Em 2013, foram iniciadas algumas obras no riacho Timbaúbas e no seu entorno. Nenhum dos moradores
dos terrenos do Sítio Brejo Queimado foram avisados das obras, enquanto isso essas continuaram. Com o
tempo, descobriram que se tratava da construção do anel viário da cidade de Juazeiro do Norte, que dá
acesso ao aeroporto da cidade.
O terreno da família Barros tinha 23 metros de largura por 500 metros de comprimento (11.500 m?),
desses 500 metros, 200 foram tomados (no total 4600 m?). O que acabou acontecendo com todos os
outros terrenos.
Os primeiros atingidos mobilizaram os outros moradores para uma reunião onde foram repassados todos
os detalhes da situação. Quando perceberam que a construção do anel e invasão das áreas era inevitável
foram atrás de alguma indenização por parte da prefeitura.
Houve um grande desgaste para conseguir algum retorno da prefeitura quanto à indenização, e nenhum
acordo foi feito. A situação foi denunciada e a única resposta tida foi de uma deputada federal da época,
que informou haver uma verba a ser repassada, porém até agora nenhuma família recebeu nada.
Com as obras, o riacho Timbaúbas foi praticamente morto e grande parte do lençol freático também. Dessa
forma o nível da água disponível para as cacimbas diminuiu muito. Em 2020, sete anos após a invasão e
início da construção, ainda não teve indenização e nem as obras foram concluídas, trazendo muitas perdas
para os moradores.
8. CONCLUSÃO
Por ser uma área em processo de transição agroecológica, muita coisa ainda precisa ser feita, mas é
verdade que a biodiversidade e a relação homem-natureza está cada vez melhor. Existem muitos desafios,
no momento o principal é saber lidar com a área depois dos impactos sofridos e repassar todos os
conhecimentos agroecológicos para os outros moradores do Sítio Brejo Queimado, já que muitos não tem
o mesmo cuidado com a biodiversidade local, promovendo queimadas e jogando lixo.
É importante que mais pessoas saibam como lidar com a terra vendo exemplos onde todo o processo está
dando certo, e também é preciso difundir essas práticas. Mostrar a agricultores e profissionais das ciências
agrárias alternativas que substituam práticas convencionais que fazem mal a natureza e [so )
consequentemente ao ser humano.
Agroecologia em Foco - Volume 5
REFERÊNCIAS
[1] JUSTINO, R. B.; DANTAS, M. A. A.; SILVA, M. M. de S.; CAVALCANTE, D. L. Transição agroecológica,
potenciais e desafios: caso do Sítio Brejo Queimado - Juazeiro do Norte/CE. In: VI Congresso Latino-
americano de Agroecologia; X Congresso Brasileiro de Agroecologia; V Seminário de Agroecologia, 2017,
Brasília/DF. Cadernos de Agroecologia (anais) VI CLAA, X CBA e V SEMDF - Vol. 13, Nº 1, Jul. 2018.
Capítulo 10
Pronatec Campo: Produção de alimentos de base
agroecológica em Assentamento de Reforma Agrária
de Andradina (SP)
Rosilva Brito Rodrigues
Fernando Christiano Morelli
Karem Cristine Pirola Narimatsu
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo relatar sobre a possibilidade de
produção, de base agroecológica promovido pelo Curso Horticultor Orgânico, realizado
junto ao grupo de agricultores (as) residentes no Projeto de Assentamento Timboré,
localizado no Município de Andradina (SP), por meio do Programa Pronatec Campo, na
modalidade de qualificação profissional. Esse curso foi articulado pelo CODETER -
Colegiado de Desenvolvimento Territorial ProfCory de Andradina. Durante o curso
levantaram-se as potencialidades de produção e expectativas dos (as) produtores (as)
no que se refere à produção de alimentos nos princípios da Agroecologia. Demonstra
neste relato a ênfase da intervenção pedagógica da Educação do Campo, alinhada aos
anseios dos produtores (as) quanto à melhoria da qualidade de vida baseado na
produção de alimentos saudáveis, na perspectiva da transformação da realidade
ambiental, social, cultural e econômica.
Palavras-Chave: educação no campo; agricultura familiar; sustentabilidade; políticas
públicas agrícolas.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. CONTEXTO
A realidade do Planeta apresenta um panorama assustador sobre as crises ambientais, econômicas,
sociais, culturais e políticas. No Campo Brasileiro, muitos estudos mostram que o movimento chamado
“Revolução Verde”, entre outros danos, foi o que mais contribuiu com a destruição ambiental. Diante
disso, segundo RAMÃO (2010), uma nova consciência nos é ofertada: a mudança nas relações de produção e
consumo se faz necessária para sobrevivência de nossa espécie sobre o Planeta Terra. Assim, o MDA -
Ministério Desenvolvimento Agrário - com a política de Desenvolvimento Territorial Sustentável,
promove a constituição de CODETER para do desenvolvimento dos territórios.
Os colegiados são compostos por representantes da sociedade civil e, representantes do poder público,
tendo como objetivos coordenar as atividades de gestão do PDTRS-Plano de Desenvolvimento Territorial
Rural Sustentável e Solidário.
Nesta direção, o CODETER Prof. Cory aprovou os Cursos do Programa Pronatec Campo para atender uma
demanda existente da população assentada, no que se refere à Qualificação Profissional. O Pronatec
Campo faz parte do PRONACAMPO - Programa Nacional de Educação do Campo se destina a diversos
públicos da agricultura familiar, da Reforma Agrária (assentados (as) e acampada (as)) e outros, tendo
como objetivo o fortalecimento dessa categoria, buscando a integração entre a qualificação profissional e
desenvolvimento rural sustentável e solidário.
O MDA é o demandante da ação do Pronatec Campo, que em parceria com MEC - Ministério da Educação-
realiza a Bolsa-Formação. A parceria prevê a oferta gratuita de cursos de FIC - Formação Inicial e
Continuada (ou Qualificação Profissional, por meio da Bolsa-Formação Trabalhador,). Os Cursos de
Qualificação Profissional e o procedimento de elaboração da proposta pedagógica foram discutidos
coletivamente pelos integrantes do CODETER, juntamente com a direção e corpo docente da ETEC
“Sebastiana Augusta de Moraes” de Andradina. Desta forma, conseguiu-se construir uma proposta
integrada aos valores e costumes, conforme as demandas dos produtores (as) assentados (as). Assim foi
viabilizado o Curso “Horticultor Orgânico”. Para efetivar o referido curso foi indicado um gestor territorial
de demandas. Foi eleito para a função o representante da Fundação ITESP - Instituto de Terras do Estado
de São Paulo - que manteve constante diálogo com o grupo de produtores (as) e com a coordenação
pedagógica. Foi um importante elo entre Colegiado e Comitê Estadual, que respondeu por todo o processo
da pré-matrícula e manutenção do sistema de acompanhamento até a conclusão do curso. O fato de ser um
trabalhador da Fundação ITESP e estar em contato com os produtores (as) facilitou muito o desempenho
da função. A escolha do curso se deu considerando o anseio da comunidade em melhorar a produção de
alimentos saudáveis para consumo e comercialização e aprender novas técnicas de cultivo sem agredir o
meio ambiente visto que, atualmente, a monocultura da cana de açúcar se espalha pela região
comprimindo as áreas de produções da agricultura familiar. Dados do censo de 2006 deixam claro que a
concentração de terra continua grande no Brasil, entretanto a agricultura familiar, mesmo ocupando
pequenas áreas, é a principal fornecedora de alimentos básicos no país (MPA, 2010)-Movimento dos
Pequenos Trabalhadores.
Frente a essa realidade, há alguns anos vários estilos de agricultura vêm surgindo em oposição ao modelo
convencional. Em alguns assentamentos da região de Andradina foram implantados dois tipos de cultivos,
sendo: os Projetos PAIS - Produção Agroecológica Integrada e Sustentável - Implantado pela Fundação
Itesp parceria MDA/SDT - Secretaria Desenvolvimento Territorial e o SAFs - Sistema Agroflorestal. Essas
iniciativas motivaram muitos os agricultores (as).
Dessa maneira, de agosto a novembro de 2014, na Escola Municipal Educador “Paulo Freire”, situada no
Projeto de Assentamento Timboré, em Andradina, reuniram-se agricultores (as) e a professora para
discutirem sobre a metodologia a ser adotada para iniciarem as atividades do referido Curso, bem como
diagnosticar o perfil produtivo dos interessados (as), tendo em vista ainda a pecuária leiteira ser o ponto
forte da região. Como melhor estratégia para ministrar as aulas teóricas, decidiu-se por aulas noturnas em
sala da referida escola e as práticas nos lotes dos alunos (as).
Agroecologia em Foco - Volume 5
2. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Inicialmente, para despertar a visão critica e motivar os produtores (as), foi realizada uma aula inaugural,
como dinâmica de sensibilização, que tratou dos temas sobre a luta pela conquista da Terra, Educação do
Campo, Sustentabilidade, Agroecologia e Pronatec Campo. Participaram deste encontro todas as famílias
interessadas no curso, além das instituições ofertantes (MDA/SDT), a demandante (ETEC), bem como as
instituições de ATER - Fundação ITESP e COATER - Cooperativa de Extensão Rural, instituição de apoio
como Prefeitura Municipal de Andradina e ainda os membros do Colegiado. Os palestrantes, através de
uma análise de conjuntura, atrelado à reforma agrária, agricultura familiar, Agroecologia, e educação do
campo iam tecendo em suas falas todo histórico de lutas do povo do campo, contra concentração da terra e
renda que gerou grande impacto social e ambiental. Assim, deixavam claro que o Curso de Capacitação do
Pronatec Campo era voltado para o desenvolvimento sustentável em que se levava em conta a educação
ambiental, incorporando aspectos vinculados à saúde, economia e ao desenvolvimento social humano.
Deste modo, o grupo de alunos (as) foi constituído por 30 (trinta) pessoas, entre jovens e adultos, todos
pertencentes à agricultura familiar e residente em Projeto de Assentamento de Reforma Agrária.
A dinâmica adotada para efetivar o curso foi a divisão, em parte teórica e prática. As discussões teóricas
foram ministradas na sala de aula à noite, onde discutiam toda a cadeia produtiva, problematizando forma
de produção e de consumo dos alimentos. Assim, refletiam sobre a sua própria realidade, entendiam seus
pontos fortes e fracos, dificuldades e facilidades encontradas em todo o processo produtivo. Durante esse
período percebeu-se a grande aceitação por parte dos agricultores na utilização das práticas
agroecológicas, pois entre eles estavam os produtores do Projeto PAIS e SAFs que faziam relatos de suas
vivencias. No que se refere à comercialização, foi proporcionado pelo curso as palestras sobre os
programas de comercialização governamental, como: PAA - Programa de Aquisição de Alimentos, PNAE -
Programa de Alimentação Escolar e PPAIS - Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social. Nesta
oportunidade os produtores (as) assistiram e discutiram sobre o documentário “O Veneno Está na Mesa 7”.
Para a realização da parte prática foi adotado um rodízio nos lotes dos alunos (as), visitas técnicas e
excursões (figura 1, 2 e 3). Nas referidas visitas nos lotes conferiram formas de produção que fugiam da
convencional, tais como: manejo do solo em sistema de preservação, diversificação e rotação de culturas,
aproveitamento de recursos naturais, uso de compostagem, defensivos naturais utilizados para o controle
de insetos, enfim, um sistema de manejo que respeita a natureza e utiliza o máximo de recursos locais. Em
cada lote visitado foi realizada a prática já comentada teoricamente em sala de aula, como: adubação
verde, compostagem e defensivos naturais. As práticas iam acontecendo conforme a necessidade de cada
local. Neste contexto Finatto et al (2011) diz: A “Agroecologia valoriza o conhecimento local e empírico dos
agricultores, a socialização desse conhecimento e sua aplicação ao objetivo comum da sustentabilidade”
Em várias propriedades não havia hortas e em outras que já tinham, os produtores (as) conseguiram
ampliar seus conhecimentos e melhoraram suas técnicas de cultivos.
Em excursão no Sítio “Cata Vento” tiveram oportunidade de conhecerem e dialogarem com o Agricultor
Fernando Ataliba, proprietário do sítio, que há muito tempo vem transformando sua área de produção.
Deste modo, conheceram a produção simultânea de variedades de espécies vegetais, bem como a
associação entre árvores frutíferas, árvores nativas, plantas medicinais, entre outras. Viram a troca de um
sistema de produção que degrada, agride e esgota por um sistema que promove a criação dos recursos
naturais.
Em visitas técnicas nos locais de entrega de produção para atender o PAA e PNAE reforçaram o
entendimento do objetivo dos programas e que a união pode ser uma estratégia para resolver uma das
principais dificuldades enfrentadas por eles: o transporte.
Figura 1 Lotes dos Alunos (as).
Figura 2 Visita técnica ao PAA Figura 3 Excursão Sítio Catavento.
N DS
Agroecologia em Foco - Volume 5
Seguindo os princípios da Educação do Campo, a professora trabalhava a realidade trazida pelos seus
alunos (as) através da metodologia participativa e interativa favorecendo a participação efetiva dos
produtores (as). Esse constante diálogo entreeles, acrescidas das trocas de experiências com público
externo, possibilitou a formação e integração de conhecimentos. Conforme ressaltado por Caporal et al
(2006) reconhecer que, nas relações do homem com outros homens e destes com outros seres vivos e com
meio ambiente, estamos tratando de algo que requer um novo enfoque paradigmático, capaz de unir saberes
populares com os conhecimentos criados por diferentes disciplinas cientificas, de modo de dar conta da
totalidade dos problemas e não do tratamento isolado de suas partes.
3. RESULTADOS
O interesse inicial dos alunos (as) pelo curso era de aprimorarem os seus conhecimentos para implantação
de horta orgânica e ampliarem a produção de hortaliças com a adoção de novas técnicas de cultivos.
Porém, esse curso foi muito além de suas expectativas, visto a incorporação sobre os princípios de
produção de base Agroecológico.
Todos fizeram horta com os princípios aprendidos durante essa convivência de 160 horas, sendo que 8
(oito) deles (as) ampliaram e diversificaram a área de cultivo, mantendo um manejo importante de base
agroecológica conforme constatado nos depoimentos.
Depoimentos: “Depois de tudo que vimos temos o dever de produzir em harmonia com a natureza, sentimos
melhor” - Aurenize da Silva Souza.
“Fiz o curso para aprender produzir alimentos, preocupada com saúde das pessoas e da minha família.
Apreendi mais que isso, estou fazendo as práticas para melhorar o solo, preservar e modificar a forma de
produzir” - Andréia da Silva Pires Lima.
“Minha produção entrego no PAA. Fiz economia não comprando mais nenhum produto químico para cultivar
meu lote. Estou feliz por comercializar e comer produtos saudáveis, já até ampliei minha área de cultivo” -
Leny P. da Silva Lima.
“Nós, eu e Cafeo, já fazíamos as práticas agroecológicas através do SAFs e PAIS. Esses momentos que tivemos
de trocas de experiências só reforçaram meus conhecimentos e fiquei contente em contribuir com meus
companheiros. Não tenho dúvida que estamos no caminho certo” - Luzia Aparecida Ferraiolo.
Portanto, o curso desde a primeira atividade já despertou a consciência ligada à responsabilidade pelos
problemas sociais, ambientais e ainda gerou um pensamento coletivo de cidadania, de construir novos
caminhos de produção e consumo, referenciados ao compromisso ético e de formação cidadã, visto a
preocupação demonstrada com a saúde das pessoas. Portanto, foi constatado que o Programa Pronatec
Campo, através do curso de capacitação Profissional, é um componente efetivo para promover uma
produção sustentável, consequentemente uma mudança de paradigma de produção e consumo, bem como
o fortalecimento das relações sociais de um grupo. Porém, destaca-se como desafio o déficit de técnicos no
campo habilitados para promover a produção saudável de alimentos. Sugere-se às instituições de ATER-
Assistência Técnica e Extensão Rural promover capacitaçõespara alimentar essa ideia, como também
fomentar a sua viabilização e manutenção no campo.
REFERÊNCIAS
[1] CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A.; PAULUS, G. Agroecologia: matriz disciplinar ou novo paradigma para o
desenvolvimento rural sustentável. In: CONTIN, I. L.; PIES, N.; CECCONELLO, R. (Org.). Agricultura familiar: caminhos e
transições. Passo Fundo: IFIBE, 2006. p. 174-208.
[2] MPA: Movimento dos Pequenos Agricultores. Censo Agropecuário confirma: agricultura camponesa é a
principal produtora de alimentos do país. 18 Fev. 2010 Disponível em:
<https://mpabrasiles.wordpress.com/2010/02/18/censo- agropecuario-confirma-agricultura-camponesa-e-a-
principal-produtora-de-alimentos- do-pais-> Acesso em: 05 abr. 2015.
[8] RAMÃO, M.M. Produção agroecológica integrada e sustentável (PAIS), uma tecnologia social para construção
da segurança alimentar. In: MORAIS, L.; BORGES, A. Novos paradigmas e produção e consumo: experiências
inovadoras. São Paulo: Instituo Pólis, 2010. p.55-97.
[4] FINATTO, R.A; CORRÊA, W. A organização da agricultura familiar de base agroecológica em Pelotas/RS.
Revista de geografia agrária, v. 6, n. 11, p. 280-311, 2011.
Capítulo 11
Vulnerabilidade social e ambiental, ações em busca
de soluções
Simone Ceccon
Wéliton Perez da Silva Matos
Juliana Cristina Ribeiro
Resumo: O presente trabalho trata de um relato que visa compartir experiências, desde
abril de 2018 até o presente momento, no Instituto Agrícola do Menor - IAME, localizado
Rod Cel. Juca de Matos, Km 15, Distrito da Picadinha, Dourados - MS. O IAME é uma
associação civil, de direito privado, de fins filantrópicos, sem fins lucrativos e de duração
por tempo indeterminado. Sua finalidade estatutária é acolher crianças e adolescentes
de oito a dezessete anos, do sexo masculino que se encontra em situação de risco e
vulnerabilidade ou são órfãos, oferecer acolhimento provisório e excepcional sob
medida de proteção. As ações desenvolvidas no IAME têm por objetivo de colaborar na
implantação da horta, a partir de práticas orgânicas e envolvendo os menores internos
neste processo, e partir destas práticas transformar a ação de construção da horta em
uma oportunidade de desenvolverem habilidades e competências para a prática da
agricultura orgânica, mais saudável para eles e menos agressiva ao meio, além de torná-
los aptos a trabalharem por seus sustentos, buscando contribuir para a promoção de
suas emancipações não apenas econômica, mas também psicoemocional. Os resultados
ainda que parciais, demonstram que os objetivos estão sendo atingidos.
Palavras-chave: Instituto Agrícola do Menor de Dourados-MS, Agroecologia,
Sustentabilidade.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. CONTEXTO
O presente trabalho trata de um relato que visa compartilhar experiências, desde abril de 2018 até o
presente momento, no Instituto Agrícola do Menor - IAME, localizado Rod Cel. Juca de Matos, Km 15,
Distrito da Picadinha, Dourados - MS. O IAME é uma associação civil, de direito privado, de fins
filantrópicos, sem fins lucrativos e de duração por tempo indeterminado. Sua finalidade estatutária é
acolher crianças e adolescentes de oito a dezessete anos, do sexo masculino que se encontra em
situação de risco e vulnerabilidade ou são órfãos, oferecer acolhimento provisório e excepcional para
crianças e adolescentes do município de Dourados sob medida de proteção.
O IAME foi fundado em 16 de maio de 1980, possui uma área de 17 hectares, sendo que a metade é
usada para atividades agropecuárias, tendo em visita a produção de alimentos para consumo próprio e
também para aumentar a renda da entidade. Além das instalações nessa área também há açudes,
pomares e hortas. A entidade tem uma nascente de água e um poço que abastece toda a estrutura.
Por muitos anos a instutição dependeu de promoções sociais (churrascos, bingos, etc.) realizadas em
busca de recursos para a construção da sede do IAME, graças ao esforço pessoal de vários integrantes
da sociedade. Seis anos mais tarde, em 1986, surgiu o interesse de Igrejas Evangélicas de a Alemanha
em assumir a administração da entidade, investindo recursos para o seu desenvolvimento. Assim, a
partir de 1987 o IAME recebeu da Alemanha uma grande injeção de recursos, propiciando o
melhoramento na infraestrutura, com construções novas, aquisição de veículos, investimentos para
aumento da produção agropecuária. Mas esta ajuda financeira cessou e nos anos subsequentes a
entidade vive lutando querendo se adequar financeiramente. Em função disso, encontrou como saída
o errendamento de sua área agricultável com consequencias ambientais desastrosas.
Atualmente o IAME continua com problemas financeiros, com um passivo ambiental pela derruba da
sua reserva legal. Antes do projeto a instituição se encontrava em situação vulnerável, pois onde a
área que deveria qualificar o instituto como agrícola, estava abandonada por falta de mão de obra e
orientação técnica.
O instituto que hoje abriga 15 internos, está sob nova direção por indicação jurídica, e vive de
doações. A atual direçao luta em busca de parcerias não apenas para sanar questões financeiras, mas
na recuperação do pomar (perdido por doenças fitosanitárias), recuperação da horta, da reserva legal
e na educação dos menores internos. Ao conversar com a nova diretora (Kelly Gavioli) esta se
demonstrou aberta para parcerias e cheia de vontade reconstruir a história do lugar, recuperar a
horta, criar animais, recuperar o pomar, o tanque de pscicultura e a reserva legal que foi derrubada
desde o período que parte da área vem sendo arrendada.
A aproximação do instituto teve com o objetivo de colaborar na reestruturação da horta a partir de
práticas agroecológicas e/ou orgânicas e envolvendo os menores internos neste processo. Um
segundo objetivo foi transformar a ação de construção da horta em uma oportunidade de
desenvolverem habilidades e competências para a prática da agricultura orgânica, mais saudável para
eles e menos agressiva ao meio, e mais autônoma no aspecto do conceito de produção agroecológica
além de torná-los aptos a trabalharem por seus sustentos, buscando contribuir para a promoção de
suas emancipações não apenas econômica, mas também psicoemocional.
2. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA
Nossas ações ainda são incipientes, porém já foi implantado o conceito de coleta seletiva do lixo, para
a separação dos resíduos orgânicos que são utilizados na compostagem, fornecendo adubo orgânico
para a horta. Estão sendo implementadas idéias relacionadas à conscientização e cuidados com os
resíduos produzidos por cada um e que a responsabilidade do lixo é de quem os produz, para
implementar, de forma organizada, a separação dos resíduos sólidos que possam ser reciclados,
através desses trabalhos, as crianças passaram agir de maneira mais ecológica. Temos como proposta a
realização do projeto de coleta seletiva formar parceria com a Associação de Agentes Ecológicos -
AGECOLD, para inserir a entidade na rota de coleta de materiais para reciclagem.
Para que se tornasse viável a produção da horta, foi efetuada uma limpeza na área, retirando todos os
materiais (lixos) que estavam espalhados. Após a demarcação dos canteiros, todos com im de largura
e 0,25m de altura, para o preparo do solo e formação dos mesmos, foi utilizado um conjunto trator e
rotocanteirador, disponibilizado pela Faculdade de Ciências Agrárias - FCA, da UFGD. A horta foi
cercada com pedaços de telas (reaproveitados), que estavam à disposição nas redondezas do
Agroecologia em Foco - Volume 5
instituto.
Para implantação da produção, tem sido utilizadas principalmente mudas em sistema de transplantio. Os
tratos culturais são feitos sem adição de componentes químicos, para uma melhor qualidade da
produção e consequentemente da alimentação, tornando-a mais saudável.
A adubação é feita com cama de frango, pó de rocha e a partir da produção de compostos vegetais,
através do tratamento dos materiais orgânicos residuais, procedentes da cozinha. O material da
decomposição e reciclagem de resíduos vegetais junto com o adubo é incorporado no solo e tem
favorecido o desenvolvimento das plantas, além de garantir segurança alimentar e aliviar as
preocupações ambientais.
Para o controle de plantas que estão fora do sistema, utiliza-se cobertura vegetal sobre o solo e,
quando necessário, realizamos uma capina seletiva. A matéria orgânica sobre o solo condiciona e
contribui, de maneira muito efetiva, para sua saúde, aumentando a atividade microbiológica, aeração,
estruturação e infiltração e retenção de água.
Com o objetivo de atender a demanda hídrica das culturas, foi implantado um conjunto de irrigação
localizada, por gotejamento. Este sistema permite fornecer água nos momentos corretos, reduzindo a
superfície do solo a ser molhada, em razão de a aplicação ser diretamente sobre a zona radicular das
culturas e em pequenas quantidades, evitando consumo excessivo de água, através das percas por
evaporação e, resultando em produções mais efetivas. Os equipamentos utilizados no sistema, como:
canos, conexões e fitas gotejadoras, foram obtidos pelo reaproveitamento de materiais disponíveis na
entidade e os faltantes foram comprados ou doados pela UFGD.
Tem sido cultivado e produzido na horta as seguintes plantas, alfaces lisa, crespa e crespa roxa,
salsinha, cebolinha, brócolis, couve-manteiga, couve-flor, rabanete, cenoura, batata-doce, abacaxi,
cana caiana, mandioca, maxixe, coentro, abóbora paulista e melancia.
Foi planejado e está programado, no início de 2019, implantar em uma área adjacente um sistema de
produção agroflorestal, a utilização de árvores será fundamental para a recuperação das funções
ecológicas, e propiciar maior restabelecimento das crianças com as relações da natureza.
Para amenizar a situação vivida pelas crianças o projeto visa melhorar a qualidade da alimentação;
criar oportunidade para que os meninos aprendam cuidar das plantas; orientação no plantio, cultivo
e colheita do próprio alimento e de maneira diversificada, e ainda que façam exercícios físicos e
tenham prazer durante o trabalho; alem da possível geração de rendas.
A proposta deste projeto não se reduz apenas a produção agroecológica, para melhorar a qualidade
da alimentação destes meninos, e sim, em ensiná-los a produzir seu alimento. Como o acolhimento do
IAME é provisório e excepcional para crianças e adolescentes em risco social, o objetivo é torná-los
aptos, capazes e autosuficientes para seguir suas vidas como cidadãos com competências e de lutar
por suas sobrevivências.
Desse modo, a construção de horta orgânica transcorre agregando ideias e situações que interligam
as condições de existência no campo. Ainda que futuramente não venham a viver em um cenário
rural, as condições de trabalho, sempre em equipe, e a responsabilidade do cuidado na irrigação,
adubação entre outros, caminha em direção e inserções destes meninos no meio em que vivem, “eles
passam a fazer parte do ambiente e não apenas estar nele”.
Segundo Marx (1999, p.70), o homem é um ser repleto de possibilidades, e a partir disso, ele constrói
o mundo e a si próprio, ou seja, ao transformar a natureza em busca de satisfazer suas necessidades
ele transformar o mundo e a si mesmo. No entanto, esta capacidade de transformar ao mundo pelo
trabalho em busca de satisfação das necessidades humanas, precisa ser acompanhada de um
contexto reflexivo sobre a produção sustentável, ou seja, que exploração do meio possa garantir que
as necessidades atuais sejam atendidas desde que, não se comprometa o ambiente (recursos
naturais) de atender as necessidades das gerações futuras.
Nada mais adequado para um Instituto educacional agrícola, trabalhar produção de alimentos
baseados na agroecologia com vistas a sustentabilidade, ou seja, uma produção agrícola que vise
viabilidade econômica, ser socialmente justa e correta ecologicamente, afinal o público alvo do
instituto são meninos em vulnerabilidade social, que são acolhidos por um período provisório e
excepcional. Neste período, estes meninos precisam de orientação, entre outras para a vida
profissional em busca de suas emancipações econômicas, e por estar em um Instituto agrícola, a
produção de alimento é, sem dúvidas a melhor opção. Outro forte motivo para se trabalhar em busca
Agroecologia em Foco - Volume 5
de sustentabilidade é o fato do IAME, ter um histórico de degradação de sua APP - Área de Proteção
Ambiental, durante o período que vem tendo suas terras arrendadas. Nesta área, encontra-se uma
grande nascente que aflora em diversos pontos. Da qualidade desta água, depende o futuro da horta
que esta foi implantada, o abastecimento da residência dos meninos e até a sedentação dos animais.
Ou seja, a vulnerabilidade ambiental da área põe em risco a sobrevivências de muitos seres, entre eles,
meninos em vulnerabilidade social.
Freitas e Maia (2009) apontam a percepção pela educação ambiental como uma tomada de
consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que se está inserido,
aprendendo a proteger e cuidar do mesmo. Por isso, enquanto estamos ensinando-os técnicas de
produção orgânica, vamos conversando sobre os cenceitos, tecnicas e objetivos desta forma de
produção, que visa produzir alimentos, produzindo um menor impacto ambiental possível.
3. RESULTADOS
As mudanças no local após a implantação da horta, não é percebida apenas fisica e ambientalmente,
mas, psico e socialmente nos 15 meninos, futuros caboclos atuantes no campo, que revezam a nos
acompanhar (sempre no contraturno escolar).
Outro resultado interessante observado é a dedicação e comprometimento dos meninos com as
tarefas, além dos aspectos de socialização, pois esses têm se mostrado ativos, motivados e
descontraídos nas atividades realizadas durante a execução do projeto.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Figura 2. Crianças fazendo manejo agroecológico na horta.
S VER 2a
Figura 4. Horta do IAME, plantas em desenvolvimento e sistema irrigação.
>
Agroecologia em Foco - Volume 5
Apesar destes resultados, e estarmos contanto com a mão de obra de um estagiário que está
concluindo sua graduação em agronomia, temos muitas dificuldades financeiras e falta de mão de
obra para darmos continuidade ao sonho de tornar o IAME em uma instituição autossustentável.
Esperamos que a implantação futura de uma agrofloresta possa contribuir com um impacto maior
ainda na educação dessas crianças, isto será possível através de mais ações voluntárias e trabalhos
extensão.
REFERÊNCIAS
[1] FREITAS, J. R. S.R; MAIA, K.M.P. Um estudo da percepção ambiental entre alunos do ensino de jovens e
adultos e 1º ano do ensino médio da fundação de ensino de Contagem (FUNEC) - MG. Rev. Sinapse Ambiental, p.
52-77, dez. 2009.
[2] KUHNEN, A. Meio Ambiente e vulnerabilidade. A percepção ambiental de risco e o comportamento
humano. Cad.Geografia (Londrina), v. 18, n. 2, p.37-52, 2009.
[3] MARX, K.; ENGELS, F. Ideologia Alemã (Feuerbach). 11.ed. Trad. do alemão por José Carlos Brunni e
Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Hucitec, 1999.
Capítulo 12
O processo de aquisição de alimentos praticado pelo
Programa Nacional de Alimentação Escolar no
Município de Marapanim, Pará
Tahnity Haarad Moura Chaves
Amanda Rayana da Silva Santos
Rosana Quaresma Maneschy
Wagner Luiz Ramos Barbosa
Resumo: A pesquisa se desenvolveu no município de Marapanim a partir de um estudo
de caso com a gestão municipal e a agricultura familiar local, tendo como objeto, o
fornecimento de alimentos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para
as escolas do município. Este estudo se dividiu em três etapas: (1) Levantamento de
dados secundários sobre o PNAE; (2) Levantamento de dados sobre a agricultura
familiar local e o fornecimento de alimentos ao PNAE; (3) Levantamento sobre o
processo de compra dos alimentos via PNAE pelo município de Marapanim. O PNAE
atende no município de Marapanim 58 escolas da rede municipal e duas (2) escolas da
rede estadual, distribuídas em 44 comunidades. Em 2017 foi realizada a primeira
chamada pública do PNAE para aquisição de produtos da agricultura familiar para serem
inseridos na alimentação escolar. A agricultura local é bastante diversa, além do cultivo
de raízes, hortaliças folhosas, fruticultura, criação de animais de pequeno porte e a
pesca, foi identificado que não existe uma frequência destes produtos inseridos no
cardápio da alimentação escolar, conforme os aspectos de sazonalidade e demanda de
acordo com o período de “época” de algumas frutas. Uma variedade de produtos
inseridos na alimentação escolar, estimulará os alunos ao consumo de hábitos
alimentares saudáveis por meio da elaboração diversificada e atrativa dos cardápios
elaborados pela responsável técnica. É importante que os cardápios sejam elaborados
tomando como referência a produção, a sazonalidade agrícola do município e as
necessidades nutricionais de cada categoria escolar para promover a valorização aos
hábitos alimentares locais como está previsto na legislação. O PNAE é uma proposta de
ferramenta ao desenvolvimento local a partir da inserção da agricultura familiar como
fornecedora de alimentos saudáveis para a alimentação dos alunos e de municípios
como o de Marapaniml
Palavras-chave: Agricultura Familiar, PNAE, Desenvolvimento Local.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), é executado e gerenciado pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), que “é a mais antiga política pública de segurança alimentar e
nutricional do Brasil” (FNDE, 2017a) e completou 63 anos em 2018 atendendo mais de 42 milhões de
alunos (MEC, 2018). O PNAE é uma das políticas públicas do Brasil mais atuante no combate à fome e à
insegurança alimentar nas escolas. Dessa forma o PNAE exerce a responsabilidade compartilhada entre o
Estado e a sociedade, assegurando os direitos assistidos na Constituição de 1988 (SANTOS, 2016). É um
dos maiores programas de alimentação escolar do mundo em atividade, sendo referência para os países da
América Latina. O programa tem uma participação muito importante para os 17 Objetivos ao
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda de 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Os recursos repassados para o PNAE provêm do Fundo de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que é
direcionado a todos os municípios do país com valores que são proporcionais à quantidade de alunos
matriculados nas escolas. O repasse é feito mensalmente, em dez parcelas, acompanhando o calendário
letivo do município e pode ser acompanhado no site do FNDE no portal da transparência.
A Prefeitura, juntamente com a nutricionista da Secretaria municipal de Educação elaboram o cardápio da
alimentação escolar. A partir da formulação do cardápio é que deve ser realizada a compra dos alimentos
que serão utilizados para a alimentação escolar, via chamada pública ou compra direta com os
agricultores. É exigido que no mínimo 30% dos alimentos adquiridos para a alimentação dos alunos sejam
produzidos pela Agricultura Familiar (AF), por comunidades tradicionais, associações, cooperativas ou
grupos organizados, de preferência no âmbito municipal (FNDE, 2012).
Nos últimos anos, em Marapanim, município do estado do Pará, se tem verificado uma dificuldade em
relação às características, quantidade e demanda dos gêneros alimentícios provenientes da agricultura
familiar, para abastecer a alimentação escolar no município.
Este estudo teve como objetivo destacar como tem ocorrido a aquisição de alimentos, via PNAE, no
município de Marapanim, levando em consideração a categoria produtiva Agricultura Familiar (AF) local.
2. METODOLOGIA
2.1. ÁREA DE ESTUDO
Essa pesquisa teve como lócus o município de Marapanim no estado do Pará (Figura 1), que tem sua
economia centrada no turismo, cultura, pesca e agricultura. O município se localiza na região nordeste do
estado, com predominância da agricultura familiar com uma produção diversificada de produtos tais
como: frutas, raízes e verduras, provenientes do cultivo de hortas agrícolas de quintais com a
predominância de hortaliças folhosas: couve, cheiro verde, cebolinha (CHAVES; MANESCHY; BARBOSA,
2017).
A extensão territorial do município é uma das maiores do nordeste paraense com 795,987 km? de área
territorial (IBGE, 2017). O município apresenta uma geografia assimétrica com a presença de uma zona
costeira com manguezais e toda a fauna e flora deste ecossistema, assim como a influência dos rios e todo
o bioma diversificado.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Figura 1 - Mapa de localização do município de Marapanim, no estado do Pará.
Localização da Área de estudo: Marapanim-PA
Mestosnda Toeaioy Misael Mora Chaves
Orsectador: Pror. Eh". Posama Mamewcdry
Eduçãos Choingrafo Me. Ducil Sombes NUMA UFPA
sines de Covebemadas Chnsgráficas
Projeção Docorormal Trasmerçrns do Morcans
SIA
Porte: INCL JOS; SEMASA, JO18 ITEINFA, JO14
« Dos dnação Maguisaca: 2P XP W
Prenbato clube dos vs E aborabiris de Anglaç Arebigrta!
« Wepreventação Cartográfica (LAMCUNUMA VIRA)
.| Legenda:
dd Sodo Municpal de Marapaven
DD Area do Municipio de Marapanim
Limito Municipal
Limeto Estacual
> Hisrograta Principal
Fonte: Mapa elaborado pelo Laboratório de Análise Ambiental e Representação Cartográfica
(LARC/NUMA/UFPA), 2017.
2.2. PASSOS DA PESQUISA
A pesquisa se desenvolveu a partir de um estudo de caso, que teve como lócus a gestão municipal, como
categoria produtiva, a agricultura familiar do município de Marapanim e como objeto, o fornecimento de
alimentos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para as escolas do município. Essa
estratégia, na pesquisa empírica, segundo Yin (2010), deve ser empregada para investigar “um fenômeno
contemporâneo, em seu contexto real, possibilitando a explicação de ligações causais de situações
singulares”. Dessa forma, descreveu-se a cadeia estruturante do fornecimento de alimentos até os alunos e
a gestão municipal desse processo, a partir da abordagem qualitativa. Essa análise objetivou a “[...]
descrição completa da situação investigada [...] com a perspectiva de apresentar novos olhares, novas
perspectivas de compreensão [...]” (ARAÚJO, 2008) sobre a agricultura familiar e o PNAE no município.
Este estudo se constitui em um levantamento exploratório da agricultura familiar e o fornecimento de
alimentos do Programa Nacional de Alimentação, no município de Marapanim, dividido em três etapas: (1)
Levantamento de dados secundários sobre o PNAE; (2) Levantamento de dados sobre a agricultura
familiar local e o fornecimentos de alimentos ao PNAE; (3) Levantamento sobre o processo de compra dos
alimentos via PNAE pelo município de Marapanim.
2.2.1. LEVANTAMENTO DE DADOS SECUNDÁRIOS
Na primeira fase, se procedeu a um levantamento prévio de dados secundários, a partir de 2009, a saber:
foram analisados os documentos oficiais no Portal da Transparência e das duas Chamadas Públicas do ano
de 2017 e 2018 para a compra de gêneros alimentícios da Agricultura Familiar do município de
Marapanim, disponibilizado pelo técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER)
do município e das pautas da Nutricionista referentes ao edital da chamada pública da agricultura familiar;
relatório do FNDE com prestação de contas, aos recursos financeiros para a alimentação escolar, repasse
para o PNAE no município de Marapanim, Censo agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Instituto de Terras do Pará (ITERPA), Secretaria de Estado de Meio Ambiente e
Sustentabilidade (SEMAS/PA).
Agroecologia em Foco - Volume 5
No levantamento de campo e documental, foram identificadas as organizações sociais ativas e presentes
no município. Foi identificado a participação de uma Cooperativa - Cooperativa Agroindustrial de Vila
Maú (COOPVIMA) que ganhou a primeira Chamada Pública do município para a compra de gêneros
alimentícios da agricultura familiar para a alimentação escolar. A COOPVIMA foi selecionada em 2017, mas
já havia fornecido produtos da agricultura familiar através de venda direta a prefeitura.
A pesquisa de campo foi realizada de março de 2017 a fevereiro de 2018 para caracterização dos sujeitos
envolvidos na atividade, a observação das práticas agrícolas e levantamento da produção agrícola. Na
ocasião das entrevistas com informantes chave (Gestores municipais da secretaria de agricultura e
agricultores familiares indicados pela prefeitura), foram utilizadas questões abertas para colher
informações dos sujeitos a partir do seu discurso livre e consentido.
2.3. LEVANTAMENTO EXPLORATÓRIO DA AGRICULTURA FAMILIAR E A FUNCIONALIDADE NO
MUNICÍPIO
Nesta etapa, foi realizada um levantamento exploratório no mês de março de 2017 com a Secretaria de
Agricultura para compreender o funcionamento da agricultura do município e relacionar os sujeitos
envolvidos no PNAE em Marapanim. Para identificar as principais culturas cultivadas no município pelos
agricultores familiares e os entraves para a comercialização dos produtos da agricultura familiar no
município, acesso às políticas públicas e venda na feira municipal.
A partir desse levantamento exploratório, foram elaborados roteiros específicos para realização de
entrevistas e questionários com perguntas abertas e fechadas com coleta in loco no período de dezembro
de 2017 a fevereiro de 2018. Foram 4 roteiros, a saber: a) Agricultor Familiar, b) Instituições: Secretaria
de Agricultura, EMATER, Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, Cooperativa da agricultura
familiar, Associação da agricultura familiar, Secretário de Educação e a Nutricionista.
As questões dos roteiros foram elaboradas a partir das Cartilhas do PNAE e versaram sobre gestão
municipal, participação no PNAE, quantidade e produtos fornecidos para a alimentação escolar,
elaboração de cardápio.
Com as informações obtidas no levantamento de dados secundários e de campo, foram elaborados mapas
temáticos pelo Laboratório de Análise Ambiental e Representação Cartográfica (LARC) do Núcleo de Meio
Ambiente (NUMA) - Universidade Federal do Pará (UFPA). Os mapas foram elaborados com o Software
ArcGIS 10.2, a partir dos dados vetoriais (shapefiles) disponibilizados em repositório institucionais (IBGE,
ITERPA, SEMAS-PA) bem como dados vetoriais construídos a partir de informações levantadas em campo
(localização das comunidades e rotas de abastecimento). Os dados vetoriais foram trabalhados na escala
1:300.000, sob a orientação do datum SIRGAS-2000, com a projeção cilíndrica simples e sistemas de
coordenadas geográficas. Os mapas temáticos versaram sobre a localização do município, a localização das
comunidades onde estão inseridas as escolas que recebem a alimentação via PNAE.
2.4. O PNAE EM MARAPANIM
No estado do Pará os valores de repasse do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) via
PNAE tem diminuído nos anos de 2011 a 2014. Sendo que o percentual de aquisição de produtos da
agricultura familiar aumentou de 3% para 15%, respectivamente (FNDE, 2016).
De acordo com as diretrizes do PNAE, a compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar para
abastecer o programa deve ser de no mínimo 30%, porém, grande parte dos municípios no Brasil não
atingem a meta por não ter contingente de produção, sendo necessário a compra ser realizada em outros
municípios (FNDE, 2017b).
O PNAE tem envolvido mais de 34 mil agricultores familiares no Brasil. O número de agricultores
familiares que destinam a sua produção para a venda ao PNAE cresceu 63% entre os anos de 2012 e 2016
(BRASIL, 2017).
O PNAE atende no município de Marapanim 58 escolas da rede municipal e duas (2) escolas da rede
estadual, distribuídas em 44 comunidades (Figura 2), em sua grande maioria estão organizadas às
margens do principal rio que dá o nome a cidade, o Rio Marapanim e também no limite com outros
municípios como o de Magalhães Barata e Maracanã. Em média existem 11.396 alunos/ano distribuídos
nas categorias escolares: Creche, Pré-escolar, Ensino fundamental, Educação de Jovens e Adultos (EJA),
Ensino Médio e Educação Especial (FNDE, 2017c).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Figura 2: Mapa de localização das comunidades (44) onde estão inseridas as escolas que recebem a
alimentação via PNAE, Marapanim, Pará.
d& Sodo Munkipal
E + mão Murscigal
Hidrograta Principal
Hidrografa Secundária
Ásca do Macapa
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Fonte: Mapa elaborado pelo Laboratório de Análise Ambiental e Representação Cartográfica (LARC/NUMA/UFPA) e
Conhecimento Popular Local, 2018.
2.5. A AGRICULTURA FAMILIAR LOCAL
Agricultura Familiar é primordial para o fornecimento de alimentos as mesas das famílias em todas as
regiões do Brasil e do mundo. Os alimentos são consumidos de acordo com a demanda na sazonalidade de
produção, de clima e da cultura. A comida une as pessoas, cria laços de afetos, trocas de experiências, e é
nessa relação com a terra, que os agricultores familiares possuem a sua identidade, se veem
territorializados, se identificam com sujeitos integrantes e importantes para a produção de alimentos e
vida.
A Lei Federal nº 11.947/09 “estabelece que pelo menos 30% dos recursos dos programas de aquisição de
alimentos sejam aplicados na compra de produtos da agricultura familiar”. No âmbito municipal, verifica-
se que na região Norte do Brasil o Programa de Aquisição de alimentos (PAA) e o PNAE tem sido um
incentivo à produção agrícola, a geração de renda e ao desenvolvimento local (HONDA et al. 2016;
SANTANA et al. 2017; SCHRÓDE, 2010). Porém, existem municípios com dificuldades em utilizarem esse
recurso, que vai desde entraves referentes a falta de políticas intersetoriais na gestão municipal, até a
participação e organização da sociedade civil (BRAGA; AZEVEDO, 2012).
As políticas públicas federais para a Agricultura Familiar (AF) têm sido importantes na promoção do
desenvolvimento local, sobretudo na Amazônia. Uma vez que visam à melhoria de vida dos agricultores,
que além dos aspectos produtivos, e segundo Gavioli (2001), tem se voltado para o uso de práticas
agroecológicas e à conservação dos recursos naturais. Dentre as políticas de aquisição de alimentos estão
as ações de Segurança Alimentar Nacional para que as pessoas tenham acesso à alimentação adequada.
A agricultura familiar no Censo Agropecuário IBGE (2006), ocupava em média 84% dos estabelecimentos
agropecuários em relação a agricultura não familiar (DIEESE, 2011). Com isso, a AF é primordial para o
abastecimento dos alimentos que chegam as mesas da população brasileira (BRASIL, 2017).
Agroecologia em Foco - Volume 5
Santos (2016), afirma que o fornecimento de alimentos para o PNAE no contexto da agricultura familiar às
vezes pode ser a única alternativa para escoar a produção dos alimentos, ocasionando dificuldade na
inserção destes produtos aos mercados. Todas as funções da agricultura convergem para o território. A
própria função econômica dá cada vez mais importância aos produtos locais e à sua referência ao
território.
Para Grisa e Schneider (2014) o PNAE tem contribuído para a valorização dos produtos locais, regionais,
de produção orgânica, agroecológica, e de comunidades quilombolas e indígenas.
Silva et al (2015) ressalta que a busca por hábitos mais saudáveis vem crescendo nas últimas décadas, com
isso deve levar em consideração a importância de valorizar o resgate, e o incentivo ao consumo por
alimentos que venham da floresta, do campo. A sociobiodiversidade das comunidades tradicionais traz a
proposição do fornecimento de alimentos saudáveis, da inserção de tecnologias sociais locais e os saberes
para a alimentação das pessoas de forma saudável (SECRETARIA ESPECIAL DE AGRICULTURA FAMILIAR
E DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2018). Nessa perspectiva, tem se buscado o fortalecimento de uma
agricultura voltada aos princípios agroecológico, orgânico, de resgate aos hábitos alimentares locais.
2.6. O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS EM MARAPANIM
No município de Marapanim, somente a partir do ano de 2017 foi realizada a primeira chamada pública do
PNAE para que os produtos da agricultura familiar fossem inseridos na alimentação escolar. Segundo as
informações obtidas no portal do FNDE (Figura 3), em relação ao repasse financeiro para o município a
partir do ano de 2008 (quando ainda não era obrigatório os 30% do repasse para a compra da AF) até o
ano 2017, é possível examinar a evolução dos valores liberados do FNDE para o PNAE no município de
Marapanim entre 2008 a 2017, de R$ 280.684,00 e R$ 960.608,00 respectivamente, conforme também
relatou Pizio (2013) no município de Porto Alegre no anos de 2006-2011.
Dessa forma, os recursos para a alimentação escolar são determinantes para que o PNAE continue sendo
instrumento para promover a segurança alimentar e o desenvolvimento local a partir do incentivo à
produção de alimentos da agricultura familiar local (TUGOZ, LEISMANN e BRANDALISE, 2015).
Figura 3 - Recursos financeiros do PNAE em Marapanim, anos de 2008- 2017.
Repasse ao PNAE em Marapanim nos anos de 2008-
2017
R$968,4 R$960,6
20.00 R$854,9
dao Re?
R$sm, $ R$603,9 R$617,4 :
Er ei
3600 60.00
R$410,0
84.80 ei]
H 2009 2010 201 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: FNDE, 2018. Adaptado pela autora, 2018. Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/pnae/pnae-
consultas /pnae-dados-fisicos-e-financeiros-do-pnae>.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Nos anos de 2009 a 2016, a compra era realizada através de licitações na forma de pregão com o menor
preço e/ou contratos, e/ou compra direta da Prefeitura com os agricultores e associações, porém a
legislação prevê que a forma de Chamada Pública é a mais recomendada pois é a ferramenta mais
adequada que cumpre com as diretrizes do PNAE, pois possibilita uma maior abrangência de beneficiários,
que são os agricultores familiares no fornecimento de produtos que valorizam os hábitos alimentares
locais, que utilizam e respeitam os recursos naturais de forma mais equilibrada (FROEHLICH, 2010; FNDE,
2016a).
As licitações anteriores a 2017 realizadas pela prefeitura, eram organizadas com as informações do
cardápio elaboradas pela nutricionista do município. A cada ano era convocada uma comissão para a
licitação, todavia o edital não era publicado “em jornal de circulação local, nem na forma de mural em local
público de ampla circulação” (FNDE, 2016a).
No ano de 2013 a gestão municipal havia comprometido em realizar a chamada pública, porém, a compra
de alimentos não seguiu os trâmites legais de uma chamada pública, uma vez que o pregoeiro organizou
cotas de compras de alimentos por associação. Todavia, em outubro de 2013 o prefeito foi substituído e
não realizou a compra de alimentos dos agricultores para as escolas.
No ano de 2014 o setor jurídico da prefeitura elaborou uma chamada pública, e somente um agricultor foi
contemplado, o edital não foi publicado em veículos de ampla circulação e tampouco divulgado “para
organizações locais da agricultura familiar” (FNDE, 2016a).
Assim como analisado na pesquisa de Siqueira (2014) existe uma dificuldade ao acesso público as
informações do PNAE em Marapanim, durante a pesquisa de campo não foi facilitado o acesso à
documentação dos editais anteriores na Prefeitura ou na Secretaria de Educação. Foram contatados
agricultores e pesquisados publicações em meio impresso e digital, não sendo disponibilizada de forma
pública nenhuma informação sobre o edital de Chamada Pública para este ano de 2014. Descumprindo o
que está previsto nas diretrizes do PNAE em que devem ser publicados em veículos de ampla circulação
local como jornal, rádios, mural em local público, endereço na internet, nas organizações sociais e
entidades de assistência técnica e extensão rural (FNDE, 2017b).
Ressalta-se que nas compras realizadas no período anterior ao edital de 2017 existiu uma predominância
de gêneros alimentícios não perecíveis. Como, por exemplo, carnes congeladas, arroz, macarrão, leite,
açúcar e biscoitos industrializados adquiridas através de licitações e chamadas públicas em que os
contemplados foram empresas e não existia uma preocupação na gestão municipal em atender a demanda
de 30% de aquisição de produtos da agricultura familiar, como previsto na Lei.
Na elaboração do edital é imprescindível que a nutricionista do município informe quais alimentos e
quantidades serão necessárias para atender a demanda da alimentação escolar dos alunos regularmente
matriculados (CHAVES et.al, 2009). Essa informação é produzida a partir da concepção do cardápio,
conforme orienta a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009 que dispõe sobre o programa de alimentação
escolar. O cardápio “é o instrumento que dá objetividade e materialidade à demanda dos gestores
públicos, [...] sendo o processo de elaboração crucial na conexão entre agricultura familiar e alimentação
escolar” (WAGNER, GEHLEN e SCHULTZ, 2016), além de ser um instrumento fundamental para atender as
necessidades nutricionais e incentivar os hábitos alimentares locais (GABRIEL et.al, 2012).
Assim como verificado nos estudos de Costa et.al (2017), em Marapanim o cardápio é padronizado para
todas as modalidades de ensino municipal. Este modelo de cardápio centralizado direciona as exigências
nutricionais para todas as categorias de ensino. O modelo de cardápio descentralizado tem o intuito de
“alcançar uma maior aproximação com os beneficiários do programa, indicam planejamento de cardápios
diferenciados seguindo as distintas realidades” (GABRIEL et.al, 2012), com várias opções de refeições nas
diferentes faixas etárias e localidades.
Embora não seja desempenhada uma frequência semanal do que está previsto no cardápio, a nutricionista
relata que de acordo com a quantidade de produtos da agricultura familiar é verificado a possibilidade do
que pode ser atendido e previsto no cardápio da alimentação dos alunos. A substituição de alimentos
previstos nas preparações indicadas no cardápio planejado tem ocorrido com frequência durante a
semana nas escolas.
Agroecologia em Foco - Volume 5
À preocupação em garantir uma alimentação adequada seguindo as exigências nutricionais, ressalta a
importância que o PNAE tem para os alunos de baixa renda, tendo em vista que muitos destes saem de
suas casas às vezes mal alimentados buscando nas refeições das escolas a sua única fonte alimentícia do
dia, este incentivo em muitos casos fazem com que os alunos permaneçam e frequentem mais as escolas
(RABELO et al. 2012)
Os repasses do FNDE para a aquisição de alimentos ao Programa Nacional de Alimentação escolar em
Marapanim, tem tido uma média de recursos nos anos de 2011 e 2014, variando entre R$ 680.760,00 e
R$ 774.736,00 respectivamente (Figura 4). Segundo as informações nas contas on line do FNDE, por meio
do Sistema de Gestão de Contas, do portal da Transparência, os valores repassados para a aquisição das
compras dos gêneros alimentícios da agricultura familiar têm sofrido uma variação relativamente grande.
Segundas as informações obtidas pelos informantes chaves grande parte dessa variação dos repasses de
recursos para a compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar tem se dado pela falta de prestação
de contas do município ao governo federal, ocasionando com que a falta de prestação das contas
contribuam para a diminuição dos repasses dos recursos, além de ser uma especificidade de cada gestão,
que varia de acordo com o entendimento da importância que a agricultura familiar tem em fornecimento
de alimentos para os alunos por parte do gestor. Como já ocorreu em gestão passada em que alguns
gestores possuíam vínculo com a agricultura.
No ano de 2012 o repasse foi de R$294.824,97, sendo que no ano seguinte, de 2013, o repasse foi de
R$33.383,70, havendo uma diminuição de mais de R$200 milhões que não foram gastos na compra da
agricultura familiar do ano de 2012 para o de 2013. Refletindo consequentemente na alimentação dos
alunos e na produção dos agricultores, tendo em vista, que através de Políticas Públicas que fomentam a
produção agrícola, o agricultor realiza um planejamento da sua produção para poder vender aos
programas de acesso a sua categoria, aos mercados institucionais, como o PNAE e PAA e para as vendas
diretas as feiras.
Figura 4 - Repasse do FNDE para a compra de gêneros alimentícios da Agricultura familiar nos anos de
2011-2014 em Marapanim-Pa.
Repasse do FNDE para aquisição de gêneros alimentícios
da agricultura familiar em Marapanim
R 00
00
os 0
294,824.97
103,108.20 09.081.28
R$33,383.70
E Valor total Transferido do F NDk u BB Valor aquisiçes da Agricultura familiar
Fonte: Sistema de Gestão de Contas (SigPC), Contas Online do FNDE, 2017. Adaptado pela autora, 2018. Disponível em:
http://www .fnde.gov.br/programas /pnae/pnae-consultas /pnae-dados-da-agricultura-familiar.
Com os repasses para a aquisição de alimentos da AF, foi identificado que entre os anos de 2011 e 2014,
somente no ano de 2012 o município atingiu 48,82% do percentual acima do estabelecido na legislação,
que é de no mínimo 30% para a compra de produtos da AF (Figura 5). O ano de 2013, o percentual foi de
5%, muito abaixo do valor de referência. Dessa forma, o que se tem analisado pelas informações contidas
no FNDE, é que o município não tem atendido com os valores de compras da agricultura familiar e muito
desta variação de porcentagem está relacionada com a gestão que estava atuando nos respectivos anos
relatados.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Não foi possível analisar a quantidade exata do percentual da aquisição dos produtos da AF para o PNAE
em Marapanim a partir do ano de 2010 (ano que de fato iniciou a compra da AF, pois em 2009 foi
legitimado a lei) até o ano de 2017. Os percentuais e valores de repasses do FNDE para o PNAE-
Agricultura familiar nos anos de 2010, 2015, 2016 e 2017 não estavam disponíveis no FNDE, pois os
valores ainda estão sendo atualizados de acordo com as prestações de contas das prefeituras e do
Conselho de Alimentação Escolar (CAE) a cada ano. Para isso, a importância do CAE na fiscalização e
acompanhamento do funcionamento do PNAE no município.
Figura 5 - Percentual de aquisição de gêneros alimentícios da Agricultura familiar ao PNAE nos anos de
2011-2014, Marapanim-Pa.
Percentual de aquisições da Agricultura familiar do
PNAE em Marapanim, anos de 2011-2014
60.00%%
48.82%%
50.00%%
40.00%%
30,00%
20,00%
10.00%%
0.00%
Fonte: Sistema de Gestão de Contas (SigPC), Contas Online do FNDE, 2017. Disponível em:
http://www.fnde.gov.br/programas/pnae/pnae-consultas/pnae-dados-da-agricultura-familiar. Adaptado pela autora,
2018.
A agricultura local é bastante diversa, além do cultivo de raízes, hortaliças folhosas, fruticultura, criação de
animais de pequeno porte e a pesca, foi identificado que não existe uma frequência destes produtos
inseridos no cardápio da alimentação escolar, conforme os aspectos de sazonalidade e demanda de acordo
com o período de “época” de algumas frutas. Segundo a nutricionista do município e gestores locais, essa
inserção de alimentos locais tem tido dificuldades de serem incorporados no cardápio dos alunos pela
justificativa da segurança alimentar e falta de organização social para pressionarem a gestão municipal a
obter providências de órgãos competentes como a ADEPARÁ (Agência de Defesa Agropecuária do estado
do Pará) e a própria Prefeitura de Marapanim, para liberarem a certificação aos grupos ou pessoas que
trabalhem com o beneficiamento destes alimentos.
No município não existem grupos locais que fazem beneficiamento de pescados, frutas segundo as normas
técnicas de segurança alimentar e sanitárias. Com isso, muito das frutas, dos pescados que existem no
município e que fazem parte dos hábitos alimentares locais acabam que não são inseridos na alimentação
escolar, descumprindo um dos principais objetivos do PNAE. É importante que a comunidade local se
organize e pressione a gestão do município para que possa auxiliar de forma técnica e esclarecida os
procedimentos para implantação de beneficiamento atendendo as exigências sanitárias e boas práticas de
manejo.
Segundo os informantes chave e agricultores antigos, o município já teve grande produção de arroz, com
destaque para a variedade vermelha, e que pouco é cultivado na região, ocorrendo o risco de desaparecer,
embora ele seja encontrado e utilizado ainda nas comidas de dias festivos (manicuera), como o que
acontece no dia 2 de novembro (dia de finados), conhecido pela comunidade local de “Iluminação”.
Agroecologia em Foco - Volume 5
À partir do ano de 2009, alguns itens da agricultura familiar foram inseridos para compor o cardápio da
alimentação dos alunos, apesar de o município possuir uma diversidade de produtos, muitos dos itens
destes agricultores não são incorporados na alimentação escolar, seja por meio da falta de
desconhecimento da gestão, da organização social e/ou pelos critérios previstos no edital da prefeitura.
Conforme as informações obtidas, a nutricionista do município tem se esforçado para inserir itens no
cardápio que proponham resgatar os hábitos locais como o consumo de leguminosas, raízes, frutas, sucos
de frutas, biscoitos caseiros com sabores regionais e a farinha de mandioca e tapioca, item de extremo
consumo nas comunidades amazônicas.
O Quadro 1 aponta os principais itens inseridos pela nutricionista para elaborar o cardápio nas escolas no
período de 2013 a 2018, esses anos correspondem aos períodos ao qual a nutricionista tem estado na
gestão municipal.
Os cardápios elaborados são enviados através das pautas com as informações do levantamento de
produtos da agricultura familiar para o comitê que organiza a chamada pública.
Quadro 1- Produtos da agricultura familiar inseridos no cardápio escolar no período de 2013 a 2017.
Variedade/Ano 2013 2014 2015 2016 2017 |
Produto in natura
Abóbora (Cucurbita)
Batata doce (Ipomoea batatas)
Cariru (Talinum triangulare (Jacg.) Willd.)
Cebola (Allium cepa)
Cheiro verde (Coriandrum sativum)
Couve (Brassica oleracea)
Feijão verde (Phaseolus vulgaris)
Jerimum (Cucurbita)
Laranja (Citrus X sinensis)
Macaxeira (Manihot esculenta)
Mamão (Carica papaya)
Maxixe (Cucumis anguria)
Melancia (Citrullus lanatus)
Produto processado
Polpa de fruta (acerola, goiaba, caju, abacaxi)
Biscoito caseiro sabor castanha do Pará
Biscoito caseiro sabor coco
Biscoito caseiro sabor limão
Biscoito caseiro sabor maracujá
Biscoito caseiro sabor milho
Ovos de galinha
Fonte: Nutricionista do município. Adaptado pela autora, 2018.
Com as informações levantadas, foi identificado que houve avanço nos itens que compõem a alimentação
escolar provenientes da agricultura familiar como ovos caipira, goma de tapioca e frutas in natura (Tabela
1). Esse avanço segundo Froehlich (2010) se deu a partir da inserção da agricultura familiar ao PNAE,
pois antes da lei que fundamenta o percentual mínimo de compra, os produtos alimentícios eram
predominantemente de grandes empresas que forneciam do modelo de grande escala.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Tabela 1- Gêneros alimentícios da Agricultura Familiar solicitado via chamada pública no município de
Marapanim para o atendimento de 11.396 alunos em 56 escolas no ano de 2018.
Variedade Quantidade
Produto (in natura)
Abóbora (Cucurbita)
Acerola (Malpighia emarginata)*
Alface (Lactuca sativa)
Banana (prata) (Musa acuminata 'Dwarf Cavendish”
Cariru (Talinum triangulare (Jacq.) Willd.)
Cheiro Verde (Allium cepa)
Chicória do Pará (Eryngium foetidum)*
Couve (Brassica oleracea)
Feijão da colônia (caupi) (Vigna unguiculata)*
Feijão verde (Phaseolus vulgaris)
Goiaba (Psidium guajava)*
Laranja (Citrus X sinensis)
600 Kg
5.000 Kg
5.000 maço
70.000 un.
5.000 maço
6.000 maço
4.000 maço
5.000 maço
7.000 Kg
5.000 Kg
7.000 Kg
70.000 un.
Produto de origem animal
Ovo de galinha caipira
Produto processado
30.000 un.
Biscoito caseiro
Farinha (mandioca)
Farinha (tapioca)
Goma de tapioca*
Polpa de caju
Polpa de acerola
Polpa de goiaba
Polpa de abacaxi
6.000 Kg
8.000 Kg
6.000 Kg
6.000 Kg
1.000 Kg
1.000 Kg
1.000 Kg
1.000 Kg
TOTAL: R$ 685.105,00
Fonte: Edital de chamada pública da Prefeitura do município de Marapanim, 2018. Adaptado pela autora, 2018. *
Produtos que foram inseridos que anos anteriores não foram solicitados da agricultura familiar, colocando como
destaque as frutas in natura, a goma de tapioca, ao feijão caupi e o quiabo, variando o cardápio nas escolas, grande
avanço com a criação do Selo de Inspeção Municipal (SIM).
Com os produtos tanto da agricultura familiar, quanto das empresas que fornecem a maior quantidade dos
gêneros alimentícios é possível que os cardápios sejam elaborados para atender os alunos nos 20 dias
letivos do mês (Tabela 2). Os alimentos provenientes da agricultura familiar presentes nos preparos dos
cardápios são: abóbora, cariru, maxixe, macaxeira, farinha de tapioca, couve, laranja, suco de fruta, quiabo,
alface, pepino, tapioquinha, melancia e a banana.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Tabela 2 - Cardápio do ano de 2018
CARDÁPIO
para a Alimentação Escolar via PNAE em Marapanim
Frequência em
20 dias
Sopa de legumes (abóbora + cariru+ maxixe + macaxeira)
Mingau de farinha de tapioca
Baião de dois (acompanha couve) + Sobremesa: laranja
Suco de fruta com biscoito
Frango com quiabo e arroz + salada de alface com pepino
Achocolatado com tapioquinha e margarina +Sobremesa: Melancia
Macarronada com carne moída + Sobremesa: Banana
Fonte: Nutricionista de Marapanim, 2018. Adaptado pela autora, 2018.
Embora alguns alimentos tenham sidos solicitados por meio da Chamada pública, o feijão, compõe o
cardápio com mínima frequência (duas vezes por mês) e somente no cardápio do “baião de dois”, não
ocorrendo uma variação deste item em outros cardápios. O feijão juntamente com o arroz “contêm boas
fontes de aminoácidos, além de serem muito populares no território brasileiro” (COSTA et al., 2017).
Outros itens como as frutas: manga, a goiaba in natura e o ovo caipira não estão presentes nos cardápios,
embora alguns itens respeitem a sazonalidade, ou seja, a disponibilidade de frutas durante a época de
produtividade, é importante que os cardápios sejam elaborados respeitando a sazonalidade dos produtos,
para que possam atender a demanda da produção da agricultura familiar (SOUZA, 2012; SILVA SA et al.
2017; FNDE, 2017a).
Pela Resolução/CD/FNDE nº 26, de 17 de junho de 2013 nº 26/2013, “os cardápios deverão oferecer, três
porções de frutas e hortaliças por semana (200g/aluno/semana) nas refeições ofertadas”. Em relação a
ofertas de frutas no cardápio, não foi possível identificar a periodicidade durante a semana destes itens,
tendo em vista que a frequência prevista no cardápio no município é para os 20 dias letivos do mês.
Nota-se que no cardápio apresentado, contêm inseridas poucas preparações regionais e resgate dos
hábitos alimentares locais, embora exista produtos da agricultura familiar inseridas em todas as refeições
apresentadas no cardápio. A nutricionista relatou que nem sempre o cardápio é seguido com fidelidade,
ocorrendo de as vezes na mesma semana serem oferecidas refeições repetidas, ou adaptadas com a
disponibilidades dos alimentos, ocasionando em grande frequência o não atendimento dos 20 dias letivos
durante o mês de refeições aos alunos.
É verificado que não existe dentro do cardápio escolar a presença de pescados e mariscos, produtos com
abundância no município e que fazem parte da cultura alimentar da região norte brasileira, assim como a
presença de frutas in natura locais da agrobiodiversidade da Amazônia, como o bacuri, o muruci. Como
confirma Chaves et.al. (2009) “há ainda regiões que não estão preservando e difundindo a cultura
alimentar do País”, a região Norte apresenta 38% de cardápios com preparações típicas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a legislação que legitima as diretrizes do PNAE, a gestão do município de Marapanim não
complementa com recursos próprios da prefeitura para a compra de gêneros alimentícios para o PNAE,
pois os valores dos repasses do FNDE não são atualizados de acordo com a subida da inflação dos preços
dos produtos que são inseridos na compra da alimentação escolar.
Diante disso, o que se tem analisado no município, é o não cumprimento do cardápio da alimentação
escolar pois, além do recurso não atender a demanda da compra dos produtos, a responsável técnica se
esforça para utilizar o artifício da “criatividade” na adaptação do cardápio de acordo com os itens que a
gestão municipal compra da chamada pública ou compras diretas através de contratos.
Outro fator determinante para a efetividade de execução do PNAE está relacionado aos modelos de
chamada pública que têm sido realizadas no município, ao qual poucos agricultores e organizações sociais
têm sido beneficiados, seja pela falta de informação da chamada pública, seja por meio da burocratização
dos documentos.
Agroecologia em Foco - Volume 5
É importante por parte da gestão, das secretarias e de assistências técnicas envolvidas com a agricultura
familiar para realizar um esclarecimento aos agricultores sobre as diretrizes, ações e objetivos do PNAE
no município e o papel da agricultura familiar como sujeito para a promoção do desenvolvimento local na
inserção de produtos saudáveis, respeitando os aspectos sociais, culturais na alimentação dos alunos.
A produção de alimentos da agricultura familiar de Marapanim é diversificada, por ser um município
privilegiado por estar em duas áreas de bastante biodiversidade, uma zona costeira marítima, e uma parte
banhada por bacias hidrográficas com a predominância do rio Marapanim. No município foi identificado
que existe uma agricultura bastante presente no município com uma diversificação de produtos para
abastecer o programa de alimentação escolar com produtos do extrativismo vegetal e o cultivo de frutas,
hortaliças, raízes. Por ser também uma região com variedade de mariscos e pescados, ricos em fontes
nutritivas, é importante que esta cadeia seja estimulada para fornecer produtos para a alimentação
escolar.
A gestão municipal, a Secretaria de Agricultura e a EMATER devem estar mais presentes com os
agricultores para fortalecerem a cadeia produtiva com o objetivo ao fornecimento de alimentos aos
mercados institucionais, dando relevância ao PNAE, que além de promover o desenvolvimento local,
contempla os alunos com uma alimentação adequada, nutritiva, de base agroecológica e orgânica.
Uma variedade de produtos inseridos na alimentação escolar, estimulará os alunos ao consumo de hábitos
alimentares saudáveis por meio da elaboração diversificada e atrativa dos cardápios elaborados pela
responsável técnica. É importante que os cardápios sejam elaborados tomando como referência a
produção, a sazonalidade agrícola do município e as necessidades nutricionais de cada categoria escolar
para promover a valorização aos hábitos alimentares locais como está previsto na legislação.
O PNAE é uma proposta de ferramenta ao desenvolvimento local a partir da inserção da agricultura
familiar como fornecedora de alimentos saudáveis para a alimentação dos alunos e de municípios como o
de Marapanim, para isso, é imprescindível que a gestão municipal e os sujeitos envolvidos com o PNAE
tracem perspectivas de caminharem juntos para mudar a realidade do município, seguindo as diretrizes e
os objetivos estabelecidos no Programa Nacional de Alimentação Escolar e o direito assegurado na
Constituição Federal de 1988 que é o direito à Alimentação adequada, saudável e com quantidades
suficientes à todos.
REFERÊNCIAS
[01] AGÊNCIA PARÁ. Secretaria de Estado de Comunicação- Governo do Pará. Gestão da bacia hidrográfica de
Marapanim é discutida na Semas. 2017. Disponível em: <http://www.agenciapara.com.br/>. Acesso em 31 maio de
2017. ARAUJO, €. et al. Estudo de caso. Braga, Universidade do Minho, Instituto de Educação e Psicologia, 2008.
[02] ARAÚJO, C. et al. Estudo de caso. Braga, Universidade do Minho, Instituto de Educação e Psicologia, 2008.
[03] BRASIL. Número de agricultores familiares na alimentação escolar sobe 63%. 2017. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br /cidadania-e-justica/2017/07/numero-de-agricultores-na-alimentacao-escolar-sobe-
63/0Onitf galleria>. Acesso em 13 mar. De 2018.
[04] BRAGA, E. M. F.; AZEVEDO, H. S. Segurança alimentar e nutricional: os desafios da intersetorialidade. Revista
Aval, v. 2,n. 10, p. 57-71, Jul/Dez, 2012.
[05] CHAVES, L. G.; MENDES, P. N. R.; BRITO, R. R. de; BOTELHO, R. B. A. O programa nacional de alimentação
escolar como promotor de hábitos alimentares regionais. Rev. Nutr., Campinas, v. 22, n.6, p.857-866, nov./dez., 2009.
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Agroecologia em Foco - Volume 5
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[81] YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 4º Ed. São Paulo: BOOKMAN, 2010. 212 p.
Capítulo 13
Hereditariedade do uso das plantas medicinais. Que
caminho estas informações trilham até os dias atuais?
Estudo de caso no Povoado Juá, município de Paulo
Afonso-BA
Ana Elisabeth Cavalcanti Santa Rita
Carlos Henrique Brandão Gomes
David Fernandes Lima
Márcia Bento Moreira
Lara Izabel Pires Cândido
Caroline Cruvinel de Souza
Resumo: O presente estudo pretende esclarecer como as informações ancestrais do uso
das plantas medicinais chegam aos dias de hoje. Trata-se de pesquisa descritiva do tipo
estudo de caso que se caracteriza por ser espécie de análise qualitativo, através da
análise de dados coletados como parte do Projeto de Dissertação de Mestrado sob título
“ Análise do declínio do uso de fitoterápicos (cultura local) frente ao uso de alopáticos:
Um estudo de caso na Unidade Básica de Saúde do Povoado Juá, no município de Paulo
Afonso - BA”, no qual foram aplicados questionários direcionados a uma população
previamente selecionada tendo como fator de inclusão o tempo de residência no
Povoado Juá. Após análise dos dados apurados observa-se na oralidade o principal meio
para que as informações sobre o uso das plantas medicinais cheguem aos dias atuais. As
informações ancestrais que versam a respeito do manuseio das plantas medicinais, corre
risco de desaparecer com o passar dos anos.
Palavras-chave: Planta; Medicina; Fitoterápico; Hereditariedade.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
Como maior parte do estado baiano, o Juá é uma comunidade rural organizada em meio à Caatinga que,
apesar do clima semiárido, é considerado um bioma abastado em biodiversidade, o qual contribui para o
sustento agrícola da população no território. Por essa razão, tem-se o estabelecimento de uma construção
íntima no relacionamento homem e natureza que influencia diretamente na cultura local (NASCIMENTO,
2014).
A formação da tradição trata-se de uma relação criativa com o passado do espaço que contribui para seu
modus operandi (BORDIGNON, 2011) e faz parte imprescindível da formação da identidade social e
individual dos que o integram. No caso da comunidade supracitada, os elementos mais observados são a
oralidade e valorização do saber popular, principalmente na utilização dos elementos locais para própria
sobrevivência.
Tal conhecimento no uso de plantas medicinais pode contribuir e direcionar nas pesquisas, nos
esclarecimentos da medicina tradicional ou no fornecimento de prática terapêutica alternativa aos modos
convencionais, favorecendo um diálogo reflexivo com o saber científico (BORDIGNON, 2011).
Diante do exposto, o atual trabalho busca avaliar a importância da hereditariedade do saber na sua
perpetuação e indicar como o domínio das plantas medicinais ocupa o espaço cotidiano dos indivíduos
envolvidos, permitindo a valorização da cultura do povoado, o resgate e preservação da sabedoria acerca
do manuseio das plantas medicinais.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se um levantamento dos principais meios de divulgação do saber tradicional sobre plantas
medicinais utilizados pela população do povoado do Juá, situado a 27,3 quilômetros do centro de Paulo
Afonso - BA (9º.45'S; 38º.4167'W). O município de Paulo Afonso possui uma população de 120.706
habitantes, onde 1.150 são residentes do Povoado Juá. Este, localizado no sertão da Bahia, onde
predomina o clima tropical semiárido e a vegetação da Caatinga (IBGE, 2017).
A referida pesquisa utilizou-se de entrevista semiestruturada (perguntas abertas e fechadas), dentro do
período de junho a julho de 2018. Visitou-se 30 casas escolhidas por conveniência, priorizando famílias
residentes há mais de 10 anos no território, pois essas têm maior conhecimento sobre a construção da
comunidade.
Foi construído um banco de dados com as informações obtidas, utilizando o programa Microsoft Excel
versão 2016 e, para a análise estatística, utilizou-se o programa STATA 12.0. Foi realizada uma análise
descritiva e calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram entrevistadas 26 pessoas, com predominância do sexo feminino (22 mulheres/ 84,62%),
semelhante ao estudo de Pinto et al. (2006), realizado em Itacaré-BA, no qual obteve-se 21 mulheres e 5
homens, também observado no estudo de Oliveira (2012).
No que tange à faixa etária, 42,31% dos interrogados possuíam idade entre 30 e 59 anos, 42,31% maior ou
igual a 60 anos e 3 dos entrevistados (11,54%) possuíam idade igual ou acima de 80 anos (Gráfico 1).
Resultado similar ocorreu no estudo de Pinto et al. (2006), em que a faixa era de 35 a 64 anos.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Gráfico 1: Distribuição por sexo e faixa etária dos entrevistados do povoado de Juá, Paulo Afonso-BA.
= Masculino
= Feminino
80 ou mais
Observou-se um baixo nível de escolaridade entre os entrevistados, sendo a maioria (53,85%) com Ensino
Fundamental incompleto, 19,23% com Ensino Médio completo e 4 (15,38%) eram analfabetos, como
aponta o Gráfico 2. Essa realidade também apareceu nos estudos de Pinto (2006), Nascimento (2014) e
Oliveira (2012), o que revela ser uma realidade em algumas comunidades rurais do Brasil, visto que esses
autores realizaram suas pesquisas em diferentes regiões brasileiras.
Gráfico 2: Grau de escolaridade dos entrevistados do povoado de Juá. Paulo Afonso-BA.
: Analfabeto
Fundamental completo
m Fundamental incompleto
= Médio completo
No tocante à renda mensal, a maioria dos entrevistados (23/ 88,46%) mostrou-se ter entre 1 e 2 salários
mínimos, resultado similar foi encontrado no estudo de Nascimento (2014), que também foi realizado na
comunidade do Juá, porém, com outras finalidades. Esses dados sugerem existir uma baixa renda fixa
dessa população em geral.
Levando-se em conta os dados qualitativos, ao serem questionados sobre como adquiriram os
conhecimentos sobre as plantas medicinais a maioria, 23, mencionou que os antepassados e/ou pessoas
“mais velhas” os ensinaram. Desses, 10 (43,47%) disseram ter aprendido com as mães e/ou avós,
revelando a importância da passagem de conhecimento de geração em geração. Corrobora-se a esse
resultado o adquirido por Pinto (2006), em que 58% dos entrevistados disseram ter aprendido com os
mais idosos. No estudo de Giraldi (2010), também se observou que 54% adquiriu conhecimento com
pais/avós.
Outro ponto importante encontrado foi o uso de fitoterápicos em “tempos de dificuldade”, pelos
entrevistados e por seus antepassados. Uma das pessoas entrevistadas disse ter adquirido parte de seu
conhecimento com a televisão. Outra, afirma ter aprendido com a própria natureza e com “sua cabeça”, ou
seja, com a utilização intuitiva, como também observado no estudo de Pinto (2006).
Quando questionados sobre a importância de o conhecimento sobre as plantas ser repassado e o porquê,
24 responderam que acham importante que esse conhecimento seja repassado e apenas um disse que não
acha importante e não repassa seu conhecimento devido à falta de interesse de algumas pessoas. Outra
pergunta que foi feita: “O que você faz para preservar esses conhecimentos?”, 6 pessoas expressaram que
o preservam apenas na memória; 3 disseram preservam na memória e repassam para familiares e
Agroecologia em Foco - Volume 5
conhecidos. Outros afirmaram que apenas repassam para filhos, netos e vizinhos e um revelou que faz os
remédios e pratica com vizinhos.
Comparando os resultados do estudo de Pinto e colaboradores (2006), revela-se que 85% dos
entrevistados estudo disseram repassar seus conhecimentos para pessoas interessadas, porém apenas
27% revelou repassar para os mais jovens de suas famílias.
No presente estudo, 69,23% diz repassar esses conhecimentos, contudo 26,92% revelou repassar para
filhos, netos e pessoas mais novas. Isso sugere existir uma maior troca de conhecimentos entre pessoas de
uma mesma faixa etária e uma menor transferência para os mais novos. Um dos entrevistados disse que
tenta ensinar os mais jovens, mas que esses relutam em aprender, pois acham muito trabalhoso e
acreditam que os alopáticos são mais facilmente adquiridos. O estudo de Oliveira (2012) também revelou
que pessoas mais jovens se interessam muito pouco pelo tratamento com as plantas medicinais.
Nesse sentido, pode-se perceber que a preservação do conhecimento se restringe ao conhecimento
empírico sem registros formais, o que pode ser facilmente perdido ao longo do tempo. Isso revela a
importância de se continuar repassando “boca a boca” os saberes adquiridos ao longo da vida. Em dado
momento, foi questionado acerca das plantas utilizadas comumente e como essas eram adquiridas. Foram
citadas 99 plantas, sendo 47 (47,47%) cultivadas nas casas dos entrevistados, 22 (22,22%) obtidas da
vizinhança, 20 (20,2%) compradas e 10 (10,1%) são exóticas (adquiridas da vegetação do local). Esse
resultado diverge do encontrado por Pinto et al. (2006), em que 74% das 98 espécies citadas eram
cultivadas. Isso pode ser relacionado à facilidade em obter partes das plantas no comércio e à maior
dificuldade no cultivo delas.
4. CONCLUSÃO
Resta claro a importância do legado das plantas medicinais para o Povoado Juá. O legado fitoterápico da
comunidade Juá chega aos dias de hoje por meio da experiência e pode ser facilmente perdido, na medida
em que vai se reduzindo a transmissão vertical das informações e o conhecimento acadêmico vai
adentrando essa comunidade. Contudo, o estudo encontrou uma taxa significativa de transmissibilidade
de saberes acerca das plantas medicinais para as novas gerações, o que pode diminuir as chances de o
legado ser esquecido.
REFERÊNCIAS
[1] BORDIGNON, C.. Plantas medicinais e raízes culturais: prática dialógica de saberes. 2015.
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[3] Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico. Brasília: 2017.
[4] NASCIMENTO, Eliene Urbano Alves; SANTOS, Carlos Alberto Batista. Educação e percepção ambiental na
comunidade sertaneja do Juá, Paulo Afonso/BA. Opará: Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação, Paulo Afonso, v.
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[5] OLIVEIRA, E.R; MENINI NETO, L. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais utilizadas pelos
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[6] PINTO, E.P.P.; AMOROZO, M.C.M.; FURLAN, A. Conhecimento popular sobre plantas medicinais em
comunidades rurais de mata atlântica - Itacaré, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 4, p. 751-762, 2006.
Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/69131>.
Capítulo 14
Cultivo de plantas medicinais em Arari, Maranhão
Renata da Silva Bomfim Gomes
João Flávio Bomfim Gomes
José dos Santos Benício
Resumo: Foram entrevistados 15 produtores de plantas medicinais do município de
Arari, Maranhão; visando efetuar um levantamento de espécies cultivadas, produtos
químicos aplicados etc. As espécies medicinais mais plantadas são Mentha X villosa L.,
Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreg., Ocimum basilicum L., Ocimum gratissimum L.,
Origanum vulgare L., Ruta graveoleons L. Os principais problemas técnicos são o ataque
de pulgões, cochonilha e formiga e excesso de chuva no primeiro semestre do ano. Sobre
a aplicação de produtos químicos, oito produtores afirmaram aplicar o produto
Barrage (inseticida piretroide), dois aplicam uréia e calcário e um aplica BaygonQ
(inseticida contêm piretroides, ciflutrina e transflutrina e os carbamatos propoxures e
clorpirifós). Sobre o último questionamento, seis produtores afirmaram já terem ouvido
falar em Agroecologia, outros sete nunca ouviram falar e dois não quiseram responder. E
do total de 15 agricultores, cinco querem participar de curso sobre o tema.
Palavras-Chave: Entrevista; levantamento.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
A experiência foi realizada no período de junho e julho de 2014, no município de Arari, Maranhão; que se
localiza a uma latitude de 03º27'13" sul e a uma longitude de 44º46'48" oeste, estando a uma altitude de
sete metros da Ilha de São Luís.
A região é denominada de Baixada Maranhense, formada por grandes planícies baixas que alagam na
estação das chuvas, criando enormes lagoas entre os meses de janeiro e julho. Na região existe um
movimento de mães agricultoras que é muito ativo, de forma que necessitam de que parte de sua
produção agrícola seja certificada como orgânica, para que tenham acesso a recursos oriundos de projetos
do governo.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Esta experiência é a primeira parte de um projeto de pesquisa conduzido pela Embrapa Cocais na região,
denominado “Levantamento e cultivo orgânico de espécies medicinais, para a agricultura familiar, na
Baixada Maranhense”.
A fase de levantamento refere-se à execução de entrevistas feitas com 15 produtores(as) de plantas
medicinais no município. Foi feita a identificação dos produtores(as), com nome endereço e foram
realizadas as seguintes perguntas: a) cite as espécies que você planta e os problemas técnicos de cultivo
que você identifica?; b) quais as espécies de maior demanda?; c) quais espécies não plantam mais, e por
quê?; d) qual é o tipo de solo de seu terreno?; e) quais os produtos químicos que costumam aplicar”; f) já
ouviu falar em Agroecologia? Gostaria de participar de cursos sobre o tema e adotar o cultivo de base
ecológica? A partir das respostas, as informações foram tabuladas e foram construídos gráficos para
melhor visualização das respostas.
3. RESULTADOS
As espécies foram apontadas em seus nomes populares ou comuns. Assim, com o auxílio do livro Plantas
Medicinais no Brasil (Lorenzi & Matos, 2002), e analisando as plantas “in loco”, foi possível identificar os
nomes científicos. As espécies medicinais mais plantadas são hortelãzinho (Mentha X villosa L.), hortelã-
grosso (Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreg.), manjericão (Ocimum basilicum L.), alfafavaca grande
(Ocimum gratissimum L.), manjerona (Origanum vulgare L.), arruda (Ruta graveoleons L.) Os principais
problemas técnicos são o ataque de pragas (pulgões, cochonilha e formiga) e excesso de chuva no primeiro
semestre do ano.
Quanto às espécies de maior demanda, destacaram-se as seguintes: hortelâzinho (Mentha X villosa L.),
hortelã-grosso (Plectranthus barbartus Andrews) e cravo de defunto (Tagetes minuta L.). A maioria dos
produtores(as) não cultivam mais confrei (Symthytum officinale L.) e losna (Artemisia absinthium L.), pois
não encontraram sementes ou mudas. Quanto ao tipo de solo, 80% dos produtores(as) possui terreno
argiloso (12 produtores(as)) - que são muito comuns na região -; dois produtores(as) (13,3%) afirmaram
que seus terrenos são argilosos, e um (6,66%) desconhece a estrutura física do seu terreno.
Questionados sobre a aplicação de produtos químicos, 53,33% (oito) dos produtores(as) afirmaram
aplicar o produto BarrageQ (inseticida piretroide), dois aplicam uréia e calcário (13,3%) e um aplica
BaygonQ (6,7%) (inseticida contêm piretroides, ciflutrina e transflutrina e os carbamatos propoxures e
clorpirifós). Os inseticidas são adquiridos sem receituário agronômico e aplicados conforme a decisão e
dosagem escolhida pelo produtor, sem a utilização de Equipamento Proteção Individual (EPI). Apenas
quatro agricultores (26,7%) não aplicam produtos químicos.
Sobre o último questionamento, seis (40%) produtores(as) afirmaram já terem ouvido falar em
Agroecologia, outros sete (46,7%) nunca ouviram falar e dois (13,3%) não quiseram responder. E do total
de 15 agricultores(as), cinco (33,3%) querem participar dos cursos sobre o tema. Dos que nunca ouviram
falar, dois afirmaram estarem velhos para mudanças. Agradecimentos Agradecemos à Fundação de
Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), pelo apoio
financeiro à execução do trabalho.
Agroecologia em Foco - Volume 5
REFERÊNCIAS
[1] LORENZI, H.; MATOS, F.A. Plantas Medicinais do Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Plantarum, 2002.
512p.
Capítulo 15
Atributos microbiológicos do solo em área de
pastagem degradada e em áreas reabilitadas sob
manejo agroecológico
Vicente Paulo da Costa Neto
Delânio Brasil de Siqueira
Cyro Henrique Lima dos Santos
Lucas Alexandre Ribeiro Carvalho
Valdinar Bezerra dos Santos
Flávio Luiz Simões Crespo
Resumo: Indicadores microbiológicos são úteis para avaliar o efeito do manejo do solo e
o seu impacto na sustentabilidade dos agroecossistemas. O objetivo deste trabalho foi
comparar a respiração basal, o carbono da biomassa microbiana e o quociente
metabólico em áreas de pastagem degradada e em áreas sob manejo agroecológico em
processo de reabilitação, comparados à vegetação nativa mediante avaliação de
atributos considerados indicadores de qualidade do solo. O estudo foi realizado em áreas
de agricultura familiar no Pé da Ladeira zona rural do município de Esperantina-PI. As
amostras de solo (0-0,05cm) foram obtidas em áreas com diferentes épocas de adoção
do sistema agroecológico (2 e 3 anos) e em áreas sob pastagem degrada, além de uma
área de vegetação nativa usada como referência. Foram avaliados o carbono da biomassa
microbiana, a respiração basal e a respiração basal induzida acumulada por substrato e
quociente metabólico. Como resultado o carbono da biomassa microbiana e a respiração
basal induzida foram maiores nos sistemas agroecológicos. O quociente metabólico foi
mais eficiente nas áreas sob manejo agroecológico seguida pela área de vegetação nativa.
Com relação à respiração basal acumulada não houve diferença estatística, mas há uma
tendência de que a respiração seja mais eficiente nas áreas sob o manejo agroecológico.
De modo geral, os sistemas de manejo agroecológico do solo com 2 e 3 anos
influenciaram de forma positiva os atributos relacionados com a biomassa microbiana
respiração basal e quociente metabólico.
Palavras-chave: Agroecossistemas, manejo agroecológico, indicadores de qualidade.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
A chegada da “agricultura moderna”, que ocorreu na metade do século XX, trouxe grandes inovações, como
a utilização de fertilizantes, agrotóxicos e de variedades de plantas geneticamente modificadas. Isso
proporcionou grandes aumentos de produtividade, redução de preços e superávits na produção de
alimentos e, consequentemente, aumento da economia de países com grande disponibilidade de áreas
agricultáveis. Mas a mesma “agricultura moderna” promoveu efeitos negativos, como o aumento da
desigualdade social, do êxodo rural e a implantação da monocultura, aumentando, assim, a degradação do
solo, o desperdício e o uso exagerado de água, a poluição do ambiente, a dependência de insumos externos
e a perda da diversidade genética, além de impactos sobre a saúde humana.
No Brasil, a monocultura, as práticas culturais inadequadas, o uso inadequado de insumos, a utilização de
áreas de terras impróprias e o desmatamento indiscriminado - resultantes da falta de políticas públicas
adequadas, responsáveis pela assistência técnica precária, de pesquisas voltadas na sua maioria para o
agronegócio, de políticas de créditos por meio das quais o agricultor familiar recebe o crédito, mas não
adquire uma assistência de como e onde seria melhor investir - determinaram esse verdadeiro caos que
se instalou em muitas áreas agrícolas brasileiras.
Esse cenário passou a exigir, em âmbito mundial, a busca de parâmetros capazes de mostrar e atestar que
um agroecossistema está sendo perturbado ou que não é sustentável do ponto de vista ambiental,
econômico e social.
Em vista disso, a qualidade do solo pode ser avaliada através dos atributos físicos, químicos e biológicos.
Os indicadores biológicos são sensíveis e evidenciam rapidamente as mudanças no ambiente do solo em
função do sistema de manejo adotado. A qualidade do solo, em relação à matéria orgânica, varia conforme
o sistema de manejo adotado e a quantidade e qualidade do material depositado sobre o solo.
Ademais, os microrganismos do solo são os principais componentes do sistema, pois atuam na ciclagem de
energia e nutrientes, regulando as transformações da matéria orgânica e atuando na manutenção da
estrutura do solo bem diferentes ecossistemas. Essa dinâmica tampouco é vista no que se chama hoje de
“agricultura moderna”, com intenso revolvimento do solo, com uso de monoculturas, de práticas culturais
inadequadas, do uso inadequado de insumos e da utilização de áreas de terras impróprias.
De tal modo, as medidas da atividade microbiana (Respiração basal do solo - RBS, carbono da biomassa
microbiana - C-BMS e quociente metabólico do solo - qCO?) são de grande utilidade como indicadoras da
qualidade biológica do solo. Tais indicadores respondem rapidamente às mudanças no ambiente do solo,
tornando sua análise uma importante ferramenta preditiva do efeito das práticas de manejo sobre os
ecossistemas.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi comparar a respiração basal, o carbono da biomassa microbiana e o
quociente metabólico em áreas de pastagem degradada e em áreas sob manejo agroecológico em processo
de reabilitação, comparados à vegetação nativa mediante avaliação de atributos considerados indicadores
de qualidade do solo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado em dezembro de 2012, utilizando amostras coletadas de um LATOSOLO
AMARELO Distrófico Típico, área da propriedade do agricultor familiar Raimundo Rêgo, localizado no Pé
da Ladeira zona rural do município de Esperantina, Norte do Estado do Piauí, com 03º 45' 49.9” latitude S
e 042º 07' 10.0” de longitude W, a uma altitude 57 m. O clima da região, de acordo com a classificação de
Kóppen, é do tipo Aw”, tropical com estação seca Aw, apresentando temperaturas mínimas de 26% e
máximas de 34ºC, e precipitação média anual de 1.500 mm, porém concentradas entre fevereiro, março e
abril (AGUIAR, 2004).
Nesse estudo, foram selecionadas 4 áreas: 3 SMA - Área com 3 anos sob manejo agroecológico; 2 SMA -
Área com 2 anos sob manejo agroecológico; APDR - Área com pastagem degradada; AVN - Área
vegetação nativa, que foi considerada como referência. Uma caracterização completa do histórico das
áreas estudadas é descrita na Tabela 1.
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Tabela 1. Descrição dos cultivos das áreas com 2 e 3 anos sob sistemas de manejo agroecológico e
pastagem degradada. 3º SMA - 3 anos sob sistema de manejo agroecológico, 2º SMA 2 anos sob sistema de
manejo agroecológico, APDR - Área de pastagem degradada, AVN - Áreas de vegetação nativa
Descrição
o 2009 e 2010 - milho, feijão, abóbora melancia, batata doce,
macaxeira, quiabo, fava. Sem uso de inseticida. Uso da folha de caju
e palha de arroz como cobertura do solo. Deixou as espécies
nativas da região Mororó, Sabiá, Araçá, Ipê, e outras espécies,
fazendo sempre seu manejo e incorporando ao solo os restos
culturais.
o 2011 - milho, três variedades de feijão, abobora, melancia, batata
doce, macaxeira, quiabo, fava, gergelim, quatro variedades de
macaxeira, mandioca. Já não colocou palha de arroz.
o 2012 - cinco variedades de milho, feijão, abobora, melancia,
batata doce, macaxeira, três variedades de quiabo, fava, gergelim.
Diminui a aquisição de sementes, pois já está conseguindo produzir
suas próprias sementes.
2) 2010 — iniciou-se a recuperação com o coquetel de leguminosas,
com revolvimento mínimo do solo, não utilizou calcário.
2 2011 - cobertura morta com a bagana (palha de carnaúba),
milho, três variedades de feijão, abobora, melancia, batata doce,
macaxeira, quiabo, fava, gergelim, macaxeira, mandioca.
2 2012 - milho, três variedades de feijão, melancia, batata doce,
macaxeira, quiabo, macaxeira, mandioca.
2 Cultivado por 10 anos com capim andropogon, para criação de
gado de corte e caprino.
pI A área com vegetação nativa consiste em uma transição
Cerrado /Caatinga/Floresta decidual mista (Fundação CEPRO, Piauí
- Informações Municipais - 2000 - Anuário Estatístico do Piauí —
2001). As vegetações predominantes são: Ipê (Pau d'arco),
Sambaíba, Besouro, Grão de galo, Catanduva, Sabiá, Mororó,
Guabiraba, Araçá e dentre outras espécies.
Para a coleta das amostras de solo foram abertos, aleatoriamente, quatro mini trincheiras de 0,30 x 0,30 m
em cada área, numa profundidade de amostragem de 0-0,05 m. As amostras coletadas foram
acondicionadas em sacos plásticos com suspiros, protegidas da luz, e transportadas ao laboratório e
mantidas em geladeira por 7 dias a temperatura de 4 ºC.
Para a determinação do carbono da biomassa microbiana duas amostras equivalentes de 20 g à base de
solo seco foram retiradas de cada tratamento e colocadas em Erlenmeyer de 125 mL, sendo uma para ser
irradiada em formo micro-ondas e a outra a não ser irradiada. Para esse trabalho foi calculado o tempo de
exposição de cada amostra ao forno micro-ondas, considerando a potência real do aparelho. A potência
real do micro-ondas foi obtida pelo conhecimento da variação de temperatura em um litro de água após
exposição ao artefato por 120 segundos.
A potência real do aparelho micro-ondas foi calculada pela equação 1.
— CpoxkKx4txm
E t
P (1)
Sendo:
P = Potência real do aparelho, em Watts (W);
Cp = capacidade da água de receber calor (1 ]) mL1 ok);
K = 4,184, fator de correção de calm! SK1 para W (]) s1);
At = Variação de temperatura de 1L de água em 2 minutos de exposição em ºC;
m = massa da água, em g - 1000 g;
t= tempo de exposição da água ao micro-ondas, em segundos (s), 120.
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O tempo em que as amostras ficaram sob irradiação foi determinado a partir do conhecimento da potência
real do forno micro-ondas, utilizando a equação 2.
o rXmt
t= (2)
Sendo:
t= tempo real de exposição das amostras ao micro-ondas;
r= 800) g! de solo, quantidade de energia necessária para a exposição;
mt = peso total das amostras a serem irradiadas, 8 g;
P = potência real do aparelho em Watts (W).
Para a extração do carbono da biomassa microbiano (CBM) foi utilizado 50 mL da solução de sulfato de
potássio (K,S04) 0,5 mol L -1. Posteriormente, adicionou-se as amostras de solo e levaram-nas até ao
agitador onde ficou sob agitação por 30 minutos. Após a agitação, as amostras ficaram 30 minutos em
repouso, o sobrenadante foi filtrado em papel filtro e reservado para quantificação do carbono. O carbono
liberado da biomassa foi determinado pela digestão de 10 mL do filtrado com 5mL de dicromato de
potássio (K>Cr>,07) 0,042 mol L'! e 10 mL de ácido sulfúrico (H,S04) concentrado em Erlenmeyer de 125
mL. Em seguida, foram colocados na estufa a 100ºC por 30 minutos, deixando esfriarem-se e adicionando-
se 50 mL de água deionizada. O carbono dos extratos foi determinado por titulação com sulfato ferroso
amoniacal (Fe (NH,)2(SO*)? 0,03 mol L'1), utilizando-se o “Ferroin” como indicador. Ao final da titulação, a
coloração da solução foi do verde para o marrom tijolo. Para saber a quantidade de dicromato consumido
fez-se uma digestão em branco, utilizando todo o processo sem extrato.
O carbono presente na biomassa microbiana foi calculado conforme as equações 3, 4 e 5, respectivamente.
(Vpb-Vam)x NSFA x 0,003 x Vextrator x 10º
COextrato(IR, NIR) = 5 (3)
NSFA = (Vdicromato)x 0,042 x 10"6 (4)
Vpb
EmicE COextrator(IR)- COestrator(NIR) (5)
kp
Sendo:
CO extrator (IR, NIR) = carbono orgânico dos extratos de amostras irradiadas e não irradiadas, em mg Kg -
1, respectivamente;
Vpb = volume do sulfato ferroso amoniacal, em mL, gasto na titulação da prova em branco (mL);
Vam = volume do sulfato ferroso amoniacal, em mL, gasto na titulação da amostra (mL);
NSFA = normalidade do sulfato ferroso amoniacal corrigida em (mol L'!);
0,003= [(0,001.12)/4]: onde 12 é a massa molar do carbono (g.mol-19, 0,001 é o fator para transformar em
g mmol e 4 é o número de elétrons na oxidação do carbono [C(0)>C(IV), na forma de CO,];
V extrator = volume, em mL, do extrato de digestão;
10% = fator para converter g para mg;
Valiquota = Volume, em mL, usado na quantificação do carbono;
Pçoto = peso do solo em g;
Cmic = carbono microbiano, em mg kg'!;
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Cmic = carbono presente na biomassa microbiana (mg kg-?);
COextrato(ir) € COextrato(nr) = representam o carbono presente nas amostras
irradiadas e não irradiadas, respectivamente;
Kc = 0,33 (fator de correção proposto por SPARLING & WEST, 1988).
A respiração basal do solo foi determinada pela quantificação do dióxido de carbono (CO) liberado no
processo de respiração microbiana, conforme metodologia proposta por STOTZKY (1965). Para isso, 50 g
de solo de cada amostra foram incubadas em frascos respirométricos de vidro, herméticos com
capacidade de 0,575 L, juntamente com um copo de polietileno de 50 mL contendo 20 mL de hidróxido de
sódio (NaOH) 1 mol L'1, para captar o CO; liberado do solo. O CO; foi quantificado pela coleta de uma
alíquota de 10 mL do NaOH 1 mol L -1 do copo de polietileno, sendo transferido para um erlenmeyer de
125 mL contendo 5 mL de uma solução de cloreto de bário (BaCl;) 0,25 molL -1 e 3 gotas de fenolftaleína
(1%). A quantidade de CO, liberado foi determinada após titulação do excedente de NaOH com solução
padronizada de ácido clorídrico (HCI) 1 mol L'1. As quantificações foram realizadas aos 7, 14, e 21 dias
após incubação, até a constatação do processo de bioestabilização. A cada determinação, as soluções de
NaOH foram trocadas por soluções recém-preparadas e, como prova em branco necessária a esta análise,
foram instalados dois frascos contendo apenas a solução de NaOH 1 mol L-1.
Para a respiração basal induzida o mesmo processo foi realizado, adicionando-se apenas 1g de D-glicose
nas amostras de solo.
O cálculo do C-CO> desprendido do solo foi realizado utilizando equação 6.
(VPB-VA)x Mácido x 22 x FC
a Ri SE Saia se e
mgC CO2g Es (6)
Sendo:
VPB = volume de HCl], em mL, gasto com a prova em branco;
VA = volume de HCl, em mL, gasto na titulação do NaOH que recebeu o
CO; desprendido do solo;
M ácido = concentração do HCl = 1 mol L'!;
Eq.g.C-CO; = equivalente grama do C-CO; = 22g;
FC = fator de correção (molaridade do ácido/ molaridade da base) = 1,0;
MSS = massa de solo usada considerada a base seca (g).
O quociente metabólico foi calculado pela razão entre a respiração basal e o carbono da biomassa
microbiana, conforme a equação 7 (ANDERSON & DOMSCH, 1990).
RB ugC02h"-—1 de solo
qCO, =—
C-BMS ug"-—1 de solo
0)
Sendo:
qCO2= quociente metabólico;
RB = respiração basal ugC02h'! de solo
C-BMS = carbono da biomassa microbiana ug"! de solo
As análises estatísticas foram processadas por meio de software RStudio, pacote agricolae (R Core Team
(2020). As variáveis Carbono da biomassa e Quociente metabólico foram transformados em log1º e raiz
quadrada, na devida ordem. Os dados das variáveis analisadas foram submetidos à análise de variância e
realizada a comparação entre os tratamentos pelo teste de Tukey (P<0,05).
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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os maiores valores de carbono da biomassa microbiana do solo (C-BMS) foram encontrados nas áreas com
2 e 3 anos sob sistema de manejo agroecológico (2 SMA e 3 SMA), superiores a APDR e AVN. (Figura 1).
Figura 1. Teores de carbono da biomassa microbiana (C-BMS) em amostras de solo em áreas de pastagem
degradada, áreas sob sistema de manejo agroecológico área de vegetação nativa, no Pé da Ladeira
Esperantina-PI. Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o
Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
[)
s
S
1
de solo
=
[e]
[e2)
a
Os maiores valores de carbono da biomassa encontrados nas áreas com 2 SMA e 3 SMA podem ser
atribuído pela melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo proporcionado pela cobertura
vegetal, o que acarretou em uma maior retenção de água, menor variação e níveis mais adequados de
temperatura e umidade do solo, pelos os maiores aportes de matéria orgânica oriundo da incorporação
dos restos culturais com diferentes graus de suscetibilidade à decomposição e renovadoras. Estes valores
diferem dos resultados encontrados por Lourente et al. (2008) que verificaram em estudos com sistemas
de cultivos agrícolas e florestais, em que se observou que os maiores teores de carbono da biomassa
microbiana do solo (C-BMS) foram obtidos no sistema sob mata nativa. Souza (2010) estudando BMS com
adubos verdes, na avaliação realizada em dezembro/2009, os maiores valores de carbono da biomassa
microbiana do solo (C-BMS) foram detectados no sistema sob mata nativa. Catellan e Vidor (1990)
identificaram que as coberturas vegetais possibilitaram em uma maior retenção de água e estimularam o
desenvolvimento da biomassa microbiana do solo, e dentre estas, o campo nativo foi o que mais se
sobressaiu.
Outro fator importante e contribuinte da maior disponibilidade de carbono da biomassa microbiana nas
áreas cultivadas sob manejo agroecológico pode estar relacionado com cultivo diversificado realizados nas
áreas utilizando espécies de adubos verdes, como as leguminosas de espécies nativas (mororó, ipê, sabiá e
dentre outras) e as exógenas (feijão de porco, guandu, mungi e entre outras). O potencial de plantas
leguminosas em promover o aumento da biomassa microbiana foi constatado em diversos trabalhos como
os de Favero et al. (1998), Balota et al. (1998), D'Andrea et al. (2002) e Marchiori e Melo (1999).
Resultados semelhantes foram encontrados por Silva et al. (2007 a), quando estudaram o efeito de
sistemas agroflorestais. Os autores constataram que a presença de plantas de diferentes espécies
favorecera a biomassa microbiana pelo aporte de resíduos orgânicos e pelo efeito rizosférico. Matias et. al.
(2009) estudando plantio direto observou também que a deposição de resíduos vegetais em cobertura
favoreceu o aumento no carbono microbiano do solo, principalmente, em superfície, sendo reflexo do
aumento no carbono orgânico do solo. Conforme Roldán et al. (2003), o aumento da BMS do solo está
correlacionado com o aumento da adição de resíduos culturais na superfície do solo.
A área de pastagem degrada apresentou os menores valores de C-BMS, devido ao uso intensivo do solo, a
falta de práticas conservacionistas como calagem, adubação e dentre outras, ao super pastejo ao longo de
dez anos, aplicação de herbicidas, o que pode ter contribuído para os menores resultados. De acordo com
Carneiro (2010) o plantio convencional obteve os menores resultados, indicando que as características
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desse sistema de manejo (alto revolvimento e apenas uma espécie de cultura anual) contribuem para
reduzir a quantidade e, possivelmente, a diversidade dos microrganismos, com grande impacto na
microbiota do solo.
Não houve diferenças estatísticas na respiração basal acumulada. Estes resultados podem estar
relacionados ao período de coleta das amostras que foram no verão. Supõe-se que os microrganismos
estavam em estado latente nesse período, ao passo que, nas áreas sob manejo agroecológico, há uma
tendência de maiores valores numéricos da atividade respiratória (2 SMA e 3 SMA), indicando que estes
manejos favoreceram mais a atividade microbiana no solo (Figura2).
Figura 2. Respiração basal acumulada em amostras de solo em áreas de pastagem degradada, áreas sob
sistema de manejo agroecológico e área de vegetação nativa, no Pé da Ladeira Esperantina-PI. As médias
seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de
5% de probabilidade.
p=]
o
a
o
o
hr?
[e]
T
É ==
q
o)
Q
[=]
=
Segundo Bradford & Peterson (2000), sistemas agrícolas que não utilizam a movimentação de solo tendem
a apresentar maior atividade microbiana, tendo em vista o aporte gradual de carbono, menores
amplitudes térmicas em função da cobertura do solo e a manutenção da umidade na camada superficial.
Pôrto et al. (2009), por sua vez, verificaram um maior valor de RBS na mata nativa quando comparado a
sistemas de sucessão e de consorciação de cultivos. Pereira et al. (2008) avaliando o efeito de diferentes
coberturas vegetais num LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico, de textura muito argilosa, observaram
que a atividade microbiana do solo (respiração basal) foi mais elevada no sistema de mata nativa, quando
comparada aos demais sistemas avaliados com feijão-de-porco.
O valor da respiração basal acumulada obtida na área com 2 SMA pode ser devido à cobertura vegetal de
palha de carnaúba, com uma menor relação C/N quando comparado com o da folha do cajueiro e da casca
de arroz que cobrem o solo da área 3 SMA (Tabela 1), além de uma maior acumulação de matéria orgânica
na área 2 SMA pela incorporação dos restos culturais e uso do coquetel de adubos, o que pode ter
contribuído para uma maior liberação de exsudados pelos diferentes sistemas radiculares, estimulando
com isso a atividade microbiana do solo. De acordo com Chander et al. (1997), em estudo no qual
avaliaram diferentes sistemas de rotação de culturas em termos de parâmetros biológicos e bioquímicos, o
fator principal que estimulou a atividade respiratória da microbiota do solo foi o emprego da adubação
verde com a leguminosa herbácea, diferentemente dos outros sistemas que utilizavam apenas culturas
comerciais. Resultados encontrados por COSTA et al. (2008) detectaram que a acumulação de material
vegetal na superfície do solo aumentou a respiração basal. Santos (2010) observou que a influência da
cobertura do solo com palhas de carnaúba sob a copa das plantas foi fator decisivo para o acúmulo de
matéria orgânica em frações lábeis, promovendo maior atividade biológica sobre esse material.
A maior eficiência da biomassa microbiana (BM) na utilização de carbono (C) e energia - quociente
metabólico (qCO>) - foi observada nas áreas com 3 e 2 anos sob o manejo agroecológico, seguido pela área
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de vegetação nativa. Isso indica que o solo dessas áreas apresenta menor susceptibilidade a perdas de
carbono e tem uma maior presença de carbono incorporado a biomassa microbiana. (Figura 3).
Figura 3. Quociente metabólico em amostras de solo em áreas de pastagem degradada, áreas sob sistema
de manejo agroecológico e área de vegetação nativa, no Pé da Ladeira Esperantina-PI. As médias seguidas
pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de
probabilidade.
Esses menores valores de gCO» (Figura 4) indicam economia na utilização de energia, refletindo em um
ambiente mais estável e mais próximo ao seu equilíbrio. Os valores mais baixos de qgC0; observados
nessas áreas refletem também menor condição de estresse da biomassa microbiana. Pragana et.al. (2012),
que comparam o sistema de plantio direto e campo nativo, obtiveram os menores valores de qCO> no
sistema plantio direto e justificaram isso pela menor condição de estresse. Silva (2007 b), também
estudando o efeito da cobertura vegetal com braquiária consorciada com milho, obteve os menores
valores de qCO;. Xavier et al. (2006) estudando sistemas orgânicos observaram um menor gCO; nas áreas
orgânicas e mata nativa.
O alto qCO; da área de pastagem degrada é um indicativo de um ambiente com menor aporte de materiais
orgânicos e um ambiente em estresse, apesar de a área estar há seis anos sem manejo. Segundo Matias et.
al. (2009), um estresse na biomassa microbiana provoca um direcionamento de mais energia para a
manutenção celular, em lugar do crescimento, de forma que uma proporção de carbono da biomassa será
perdida como CO,. Acredita-se que seria interessante realizar coleta de amostras nos períodos secos e
chuvosos para melhor observação dos parâmetros estudados, pois ocorre uma grande diferença de
volume de matéria orgânica no solo, e consequentemente, de atividade microbiana entre esses dois
períodos.
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4. CONCLUSÕES
Os sistemas de manejo agroecológico do solo com 2 e 3 anos influenciaram, de forma positiva, os atributos
relacionados com a biomassa microbiana respiração basal e o quociente metabólico.
Nas áreas sob manejo agroecológico há significativa melhoria das condições mais favoráveis a microbiota
do solo, responsáveis pela reciclagem de matéria orgânica do solo, pois toda a área do presente trabalho
era inicialmente de pastagem degradada.
O manejo de áreas sob cultivo agroecológico também contribuiu para a manutenção e recuperação dos
conteúdos do carbono da biomassa microbiana, constituindo estratégias de manejo importantes a serem
consideradas para a conservação e, ou, aumento da matéria orgânica do solo e, consequentemente, para a
melhoria da qualidade do solo.
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Capítulo 16
Morfoanatomia de Mentha x villosa Huds. em
diferentes sistemas de cultivo
Ana Carolina Bezerra
Luana da Silva Barbosa
José Flávio Cardoso Zuza
Adjair José da Silva
Kaline Lígia do Nascimento
Camila Firmino de Azevedo
Resumo: A hortelã-da-folha-miúda (Mentha x villosa Huds.) é muito cultivada no Brasil
devido às suas propriedades medicinais e aromáticas. Objetivou-se analisar as
características morfoanatômicas desta espécie produzida em diferentes sistemas de
cultivo. As análises foram feitas com caules e folhas provenientes de plantas adultas
cultivadas nos sistemas orgânico com manejo, orgânico sem manejo, área urbana e
convencional. Os dados foram analisados segundo DIC com 4 tratamentos, utilizando-se
teste de Tukey a 5% de probabilidade para comparação das médias. A produção da
hortelá-da-folha-miúda nos sistemas orgânico com manejo e convencional proporciona
maior desenvolvimento da folha em tamanho e dos seus feixes vasculares, bem como do
diâmetro do caule, resultando em melhoria da fotossíntese e transporte de seiva. No
entanto, o sistema convencional não é recomendado para plantas medicinais, uma vez
que os agrotóxicos podem comprometer a qualidade dos princípios ativos e causar
danos ambientais.
Palavras-chave: hortelã-da-folha-miúda; produção orgânica; análise estrutural;
Lamiaceae.
Agroecologia em Foco - Volume 5
1. INTRODUÇÃO
Mentha x villosa Huds. (Lamiaceae), também conhecida como hortelã-da-folha-miúda e hortelã-comum, é
muito utilizada pelas indústrias de alimentos, químicas e farmacêuticas e bastante cultivada no Brasil
devido às suas propriedades medicinais e aromáticas. Por apresentarem atividades biológicas e óleos
essenciais em suas folhas, várias espécies de Mentha L. estão sendo investigadas em relação à bioatividade,
toxinas, formas de cultivo, entre outros aspectos (PAULUS et al., 2005; GRISI et al., 2006).
A hortelã-da-folha-miúda possui grande potencial de mercado, pois já se encontram na literatura vários
estudos na área fitoquímica, consideravelmente bem avançados sobre esta espécie, além disso, aspectos
fitotécnicos também vêm sendo pesquisados, identificando-se fatores que comprometem a qualidade
química, a exemplo de nutrição, intensidade luminosa, solo, presença de outras plantas (MAIA et al. 2009)
e de substâncias químicas, como agrotóxicos e outros poluentes (CHABOUSSOU, 2006), bem como
acontece com outras espécies medicinais.
No entanto, os efeitos que os agrotóxicos exercem sobre a morfologia e anatomia das plantas ainda são
pouco estudados, especialmente quando se trata de espécies medicinais (AZEVEDO et al. 2014; PESSOA et
al. 2014). Diante disso, estudos de morfoanatomia vegetal têm se constituído numa importante estratégia
para se determinar a qualidade de grandes culturas produzidas sob os mais diferentes sistemas, que visam
aumentar o rendimento sem reduzir a qualidade (SANTOS et al. 2005). Diante disto, o objetivo deste
trabalho foi analisar as características morfoanatômicas de Mentha x villosa Huds. em diferentes sistemas
de cultivo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A hortelã-da-folha-miúda foi adquirida em diferentes localidades que representaram os sistemas de
cultivo: convencional (Alagoa Nova - PB), orgânico com manejo (Alagoa Nova - PB), orgânico sem manejo
(Lagoa Seca - PB) e área urbana (Campina Grande - PB).
A coleta no sistema orgânico com manejo foi realizada num sítio de produção familiar. As plantas eram
produzidas em policultivos com hortaliças, árvores frutíferas e outras espécies medicinais, sendo os
canteiros adubados com estercos caprino, ovino e bovinos. A irrigação era feita manualmente uma vez por
dia e o cultivo era à sombra. Já a coleta no sistema orgânico sem manejo foi realizada em uma estação
experimental de pesquisa agropecuária, onde também eram cultivadas outras espécies medicinais. A
adubação do canteiro foi feita com húmus apenas na preparação do substrato, aproximadamente um ano
antes do dia da coleta. A irrigação era realizada manualmente uma vez por semana. Já em relação à
luminosidade, o cultivo era em ambiente protegido com sombrite (50%). A coleta que representou a área
urbana foi feita em um quintal produtivo, onde a hortelã-da-folha-miúda era cultivada na sombra
(embaixo de árvores) e no que se refere à irrigação, as plantas eram regadas manualmente 1 vez ao dia. No
sistema convencional, a coleta das amostras foi realizada em uma propriedade rural, onde era produzida
em policultivo com hortaliças e com outras plantas medicinais. A adubação era feita com ureia,
fertilizantes minerais (Super Fish) e Brugam Protect RSO 380, aplicados a lanço. Também era pulverizado
Lorsban 480 BR uma vez por semana para controle de insetos e ácaros. A irrigação era feita por aspersão
duas vezes ao dia e o cultivo era em pleno sol.
As análises foram feitas com caules e folhas provenientes de plantas adultas e sadias produzidas em cada
sistema de cultivo, que apresentaram padrões morfoanatômicos gerais uniformes. Foram avaliadas as
seguintes características morfológicas: comprimento da parte aérea (CPA); diâmetro do caule (DC);
comprimento (CF), largura (LF) e espessura da folha (EF). As avaliações anatômicas foram: espessura da
epiderme do caule (EEC); espessura da epiderme abaxial (EEAbF) e adaxial da folha (EEAdF); e diâmetro
do feixe vascular da folha (DFVF).
As avaliações morfológicas foram realizadas com paquímetro digital e régua graduada. Para a avaliação do
caule, foi retirada uma porção a 4 cm da gema apical e para a avaliação foliar, foram retiradas folhas do 3º
nó, considerando a distância deste para a gema apical. As análises referentes à avaliação morfológica
foram feitas em dez repetições.
Os materiais selecionados para as análises anatômicas foram fixados em FAA (5% de formaldeído a 10%,
5% de ácido acético e 90% de álcool a 70%) por 24 horas e conservados em álcool a 70%. Posteriormente
foram seccionados transversalmente à mão livre com lâmina cortante, utilizando-se isopor (poliestireno
expandido) como suporte. Foram usados hipoclorito de sódio a 1% e o corante safranina a 10% nas
análises das secções. O material foi montado em lâminas semipermanentes, com glicerina, e observado em
Agroecologia em Foco - Volume 5
fotomicroscópio. A espessura da epiderme e o diâmetro do caule foram determinados com lâmina
milimétrica (câmara de Neubauer). Para tal, foram utilizadas 4 lâminas contendo material vegetal, onde
cada uma representou uma repetição (calculada pela média de cinco medições na mesma lâmina).
Os dados foram analisados segundo delineamento experimental inteiramente casualizado (DIC) com
quatro tratamentos, que representaram os sistemas de cultivo (orgânico com manejo, orgânico sem
manejo, área urbana e convencional), sendo as médias comparadas através do teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 estão presentes os dados referentes à morfologia do caule e da folha da folha da hortelã-da-
folha-miúda submetidas a diferentes sistemas de cultivo (orgânico com manejo, orgânico sem manejo,
área urbana e convencional). Estes causaram influência altamente significativa nos resultados. O maior
desenvolvimento da parte aérea foi observado no sistema orgânico sem manejo (35,6 cm). Já com relação
ao diâmetro do caule, os melhores sistemas observados foram o orgânico com manejo (1,9 mm) e o
convencional (1,8 mm). As folhas apresentaram maior desenvolvimento, em relação ao comprimento
(35,2 mm), à largura (19,6 mm) e à espessura (0,60 mm) no sistema convencional, contudo os dados de
comprimento e largura da folha não diferiram estatisticamente dos dados do sistema orgânico sem
manejo (29,5 e 18,2, respectivamente).
Tabela 1. Comprimento da parte aérea (CPA), diâmetro do caule (DC) e comprimento (CF), largura (LF) e
espessura da folha (EF) de plantas de Mentha x villosa Huds. provenientes de diferentes sistemas de
cultivo.
Tratamentos | CPA (cm) DC (mm) CE (mm) LF (mm) EF (mm)
Orgânico com manejo 24,7 b 1,9a 27,5b 16,5 ab 0,40 b
Orgânico sem manejo 35,6 a 1,0 c 29,5 ab 182 a 0,37 b
Área urbana 24,6b 1,6b 22,6b 13,3 b 0,25 c
Convencional 16,8 c 1,8a 352 a 19,6 a 0,60 a
CV% 20,42 10,70 21,31 22,41 16,23
Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Em pesquisa feita por Saraiva & Alvim (2013), comparando o crescimento do Solanum gilo Raddi com e
sem agrotóxico, observou-se que o comprimento da parte aérea apresentou redução significativa nas
plantas tratadas com Thiamethoxam (inseticida), em comparação às plantas borrifadas com água. Com
este mesmo inseticida, Martins et al. (2011) observaram redução no crescimento e sintomas de fitotoxidez
no café conilon.
A aplicação de fertilizantes para o cultivo de plantas aromáticas normalmente afeta a produção de óleos
essenciais e, portanto, há necessidade de se avaliar as exigências de cada espécie, bem como, o manejo
adequado da adubação (SANGWAN et al. 2001). Além disso, os agrotóxicos promovem os mais diferentes
efeitos tóxicos nos tecidos vegetais, a curto e a longo prazo (CHABOUSSOU, 2006).
Na Tabela 2 estão presentes os dados referentes à espessura da epiderme (folha e caule) e do diâmetro do
feixe vascular da folha de Mentha x villosa produzida nos diferentes sistemas de cultivo. Estes causaram
efeito altamente significativo na espessura da epiderme adaxial da folha. Contudo, o sistema convencional
proporcionou os maiores resultados na epiderme adaxial (163 um), mas esse resultado não diferiu
estatisticamente do encontrado no sistema orgânico com manejo (132,2 um). A espessura da epiderme
abaxial não sofreu influência dos tratamentos.
Agroecologia em Foco - Volume 5
Tabela 2. Espessura da epiderme adaxial da folha (EEAdF), espessura da epiderme abaxial da folha
(EEAbF), espessura da epiderme do caule (EEC) e diâmetro do feixe vascular da folha (DFVF) de Mentha x
villosa Huds. proveniente de diferentes sistemas de cultivo.
Tratamentos EEA (um) EEB (um) | EEC (um) DFVF (um)
Orgânico com manejo 132,2 ab 83,7 101,5 a 262,5 a
Orgânico sem manejo 117,7 b 74,2 79,7 b 137,5 c
Área urbana 107,7b 65,0 855b 143,7 c
Convencional 163,0 a 83,0 90,7 ab 206,2 b
CV% 13,13 13,61 8,10 10,54
Médias seguidas pelas mesmas letras minúsculas não diferem entre si, pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.
Com relação à espessura da epiderme do caule, houve influência altamente significativa dos sistemas de
cultivos, com resultados superiores no sistema orgânico com manejo (101,5 um), contudo esses resultados
não diferem estatisticamente do convencional (90,7 um). O diâmetro do feixe vascular da folha também
sofreu influência altamente significativa dos sistemas de cultivo, apresentando resultados superiores no
sistema orgânico com manejo (262,5 um).
Em muitos trabalhos, alterações anatômicas na presença de defensivos agrícolas são associadas à
diminuição ou aumento de crescimento. Estudos como os de Tuffi (2009) e Zobiole (2010) mostram
alterações no limbo foliar, bem como na taxa de fotossíntese e de proteínas da Eucaliptus grandis e soja RR
respectivamente, quando estas são submetidas a agrotóxicos, comprometendo assim o seu crescimento e
desenvolvimento.
4. CONCLUSÃO
A produção da hortelã-da-folha-miúda nos sistemas orgânico com manejo e convencional proporciona
maior desenvolvimento da folha em tamanho e dos seus feixes vasculares, bem como do diâmetro do
caule, resultando em melhoria da fotossíntese e transporte de seiva. No entanto, o sistema convencional
não é recomendado para plantas medicinais, uma vez que os agrotóxicos podem comprometer a qualidade
dos princípios ativos e causar danos ambientais.
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p.643-653, 2010.
Autores
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EZEQUIEL REDIN (ORGANIZADOR)
Professor Adjunto do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação
Interdisciplinar em Estudos Rurais). Membro da Academia Centro Serra de Letras, ocupando a
cadeira n. 21. Membro dos Comitês de avaliação da FAPERGS/RS, FAPESC/SC e FAPITEC/SE. Editor
do Periódico Extensão Rural (Santa Maria). Tesoureiro da Associação Riograndense dos
Tecnólogos (ARTECNOL). Formado na licenciatura do Programa Especial de Graduação de
Formação Pedagógica de Professores (PEG/UFSM - 2012-2013). Formado no curso de Filosofia -
Licenciatura (UFSM - 2016-2019). Formado no Mestrado em Extensão Rural (2009-2011).
Formado na Pós-graduação em Gestão Pública Municipal (2010-2011). Formado na Pós-graduação
em Tecnologias de Informação e Comunicação aplicadas à Educação (UFSM - 2013-2014). Formado
na Pós-graduação em Ensino de Sociologia no Ensino Médio (2014-2015). Formado na Pós-
graduação em Ensino de Filosofia no Ensino Médio (2017-2018). Doutorado em Extensão Rural
pelo Programa de Pós-graduação em Extensão Rural (2011-2015). Foi o criador da Pós-graduação
Lato Sensu e Coordenador do Curso de Pós-graduação em Agronegócios da Faculdade Metodista de
Santa Maria (2017-2018). Foi Coordenador do Curso de Administração (2018-2018). Foi
Coordenador do Curso de Ciências Contábeis (2018-2018). Foi Assessor da Pós-graduação da
Faculdade Metodista de Santa Maria (2017-2018).
ADJAIR JOSÉ DA SILVA
Técnico em Agroindústria pelo IFPE no ano 2010, Técnico em Agricultura também pelo IFPE no
ano de 2011. Bacharel em Agronomia pelo Instituto Federal de Pernambuco Campus Vitória de
Santo Antão. Atualmente, atua como Engenheiro Agrônomo no Instituto Melhores Dias.
AILSA CRISTIANE ARCANJO SOARES
Graduação em Agroecologia pela Universidade Estadual da Paraíba (2014), técnico em Nutrição e
Dietética e especialização em Soberanía Alimentaría e Agroecologia Emergente pela Universidade
Internacional de Andalucía (2015). Atualmente, é mestranda no Programa de Pós Graduação em
Agroecologia e Desenvolvimento Rural (PPGADR) pela Universidade Federal de São Carlos.
AILTON CEZAR ALVES DA SILVA
Engenheiro Agronomo pela Universidade Federal do Cariri.
ALINE PIROLA ROSSETTO
Bióloga e terapeuta ayurveda. Educadora ambiental. Formada pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro
AMANDA RAYANA DA SILVA SANTOS
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local
na Amazônia (PPGEDAM) do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA), da Universidade Federal do Pará.
Especialista em Agroecologia pelo IFPA- Campus Cametá. Graduada em Agronomia pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - Campus Castanhal. Consultora em
Agroecologia e Agricultura Familiar; Atuou na Secretaria da Rede Jirau de Agroecologia Território
do Baixo Tocantins; Quando estudante foi bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico do Núcleo de Estudos em agroecologia e Fortalecimento da Agricultura
Familiar Camponesa - NEA e também como bolsista do Programa Incubadora Tecnológica de
Desenvolvimento e Inovação de Cooperativas e Empreendimentos Solidários- INCUBITEC.
ANA BRAGA DORNELES
Graduação em Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília (UNB), graduação sanduiche
pela Ecole Nationale Superieure de Sciences Agronomiques Bordeaux. Mestrado pelo Programa de
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Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB), Linha de Pesquisa Educação
Ambiental e Educação do Campo, com bolsa CAPES. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa "Educação,
Saberes e (De)Colonialidades (CNPqg)". Atualmente desenvolve pesquisa em Educação, Economia
Solidária e Decolonialidades. Tem interesse em Agroecologia, relações entre cultura e natureza e
processos de aprendizagens com a Natureza.
ANA ELISABETH CAVALCANTI SANTA RITA
Graduada em Medicina pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (1998).
Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Nefrologia e Membro Efetivo da Sociedade
Internacional de Nefrologia. Professora Titular da Cadeira de Nefrologia na Universidade Federal
do Vale do São Francisco (UNIVASF), Campus Paulo Afonso-BA.Membro Titular do Núcleo Docente
Estruturante da UNIVASF. Membro da Comissão de Internato da UNIVASF. Membro do Comitê de
Políticas de Estágios na UNIVASF. Mestra em Extensão Rural pela UNIVASF. Doutoranda em
Agroecologia e Desenvolvimento Territorial pela Universidade Federal do Vale do São francisco.
Especialista em Preceptoria de Residência Médica no SUS. pelo Hospital Sírio-Libanês.
ANA LUCIA MONTEIRO DE SOUSA
Graduada em agronomia pela Universidade Federal Rural do Semi árido - UFERSA. Especialista em
educação ambiental pela Universidade Regional do Cariri- URCA. Mestre em extensão rural e
desenvolvimento local pela universidade federal rural de Pernambuco- UFRPE.
ANA MARIA COELHO BEZERRA
Pós graduada em Psicopedagogia (2012) Faculdades Integradas de Patos. Graduada em Pedagogia
(2009) Universidade Vale do Acaraú. Experiência de 15 anos na área da educação, atuando como
gestora escolar na rede municipal de ensino em Lagoa Seca-PB.
ANA TEREZA REIS DA SILVA
Atua no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (PPGE/UnB) e no
Mestrado Profissional em Sustentabilidade Junto a Povos e Terras Tradicionais (MESPT/UnB). Pós-
doutorado em Filosofia da Ciência pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo. Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade
Federal do Paraná. Líder do Grupo de Pesquisa "Educação, Saberes e (De)Colonialidades (CNPqg)”.
Desenvolve pesquisas em: Relações entre saberes tradicionais e Ciência. Saberes, identidades.
territorialidades e sustentabilidade em contextos de povos e comunidades tradicionais.
Pensamento decolonial e práticas educativas decoloniais: Pluralismo epistêmico. Educação
Intercultural. Currículo e Diversidade. Educação em Direitos Humanos. Educação, Ambiente e
Sociedade. Relações entre cultura e natureza. Atualmente é coordenadora adjunta do MESPT,
membro do Comitê Gestor do Pacto Nacional Universitário pela Promoção do Respeito à
Diversidade, da Cultura de Paz e membro do Conselho de Direitos Humanos na UnB.
ANDRÉ LUIZ TELES AGUIAR
Bacharel em Administração Pública pela Universidade Federal do Cariri- UFCA. Especialista em
Gestão e Elaboração de Projetos Sociais- UCAM.
ANTÔNIA DO SOCORRO ALEIXO BARBOSA
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Mestra em
Agronomia pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). E CEO da Agroplan Consultoria
em Agronegócios e Desenvolvimento Sustentável.
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ANTONIA JULLIANA SARAFIM BEZERRA
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela
Universidade Federal do Ceará- UFC. Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentável pela
Universidade Federal do Cariri- UFCA Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Cariri-
Utfca. Licenciatura em Biologia pela Universidade Regional do Cariri- URCA. Tecnóloga em Recursos
Hídricos pelo Instituto Centro de Ensino Tecnológico- CENTEC.
ANTONIO WAGNER PEREIRA LOPES
Possui graduação em Biologia pela FESURV - Universidade de Rio Verde-GO, (2000), mestrado em
Agronomia (Produção e Tecnologia de Sementes) pela UNESP - Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho (2007). Doutor em Engenharia Agrícola (2015), na área de concentração de
Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável - Unicamp/Feagri Campinas-SP. Tem
experiência como pesquisador e extencionista na área da agricultura familiar e transição
agroecológica em projetos da esfera federal. Membro do Núcleo de Agroecologia da UNIARA,
Centro Universitário de Araraquara. Atua principalmente nos seguintes temas: Meio Ambiente,
Agroecologia, Hortaliças Orgânicas, Agricultura Familiar, Fisiologia Vegetal, Adubação Orgânica,
Fitopatologia em Hortaliças Folhosas.
CAIO CEZAR FERREIRA DE SOUZA
Engenheiro Ambiental, graduado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Especialista em
Geoprocessamento Aplicado à Agroecologia e ao Uso dos Recursos Naturais pela Universidade
Federal do Pará (UFPA). Mestre em Agronomia pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia da
Universidade Federal Rural da Amazônia (PGAGRO-UFRA). Bolsista CAPES de doutorado pelo
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da
Amazônia (UNAMA).
CAMILA FIRMINO DE AZEVEDO
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual da Paraíba (2006), mestrado
(2009) e doutorado em Agronomia pela Universidade Federal da Paraíba (2012). Tem experiências
nas áreas de plantas medicinais, anatomia e morfologia vegetal e ecofisiologia de plantas da
Caatinga. Além disso, atua nas áreas de educação ambiental e bem estar animal.
CARLOS HENRIQUE BRANDÃO GOMES
Advogado regularmente inscrito na OAB/BA sob o nº 44.165, possui graduação em DIREITO pela
Faculdade Sete de Setembro, atual Centro Universitário do Rio São Francisco - UNIRIOS, da Cidade
de Paulo Afonso-BA. Especialista em Direito Médico pelo Centro Universitário de Araraquara -
UNIARA. Mestrando em Extensão Rural pela Universidade Federal do Vale do São Francisco -
UNIVASF.. Professor do Curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário do Rio São
Francisco - UNIRIOS, em Paulo Afonso-BA. Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica Rui Barbosa,
vinculado ao Curso de Bacharelado em Direito da UNIRIOS.
CAROLINE CRUVINEL DE SOUZA
Graduanda em Medicina na Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Paulo Afonso-
BA.
CESAR AUGUSTO FELICIANO
Possui graduação em Ciências Biológicas - Bacharelado pela Universidade de Araraquara (2007) e
graduação em Ciências Biológicas - Licenciatura pela Universidade de Araraquara (2007) pela
Universidade de Araraquara - UNIARA. Mestre em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente
pela Universidade de Araraquara - UNIARA. Doutorando em Desenvolvimento Territorial e Meio
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Ambiente pela Universidade de Araraquara - UNIARA. Atualmente é Técnico em química da
UNIARA.
CÉSAR GIORDANO GÊMERO
Possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual de Londrina- UEL (2009). Mestrado
(2013) e Doutorado (2019) em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente pela Universidade
de Araraquara - UNIARA, área de concentração: Dinâmicas Territoriais e Alternativas de
Sustentabilidade. É pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural -NUPEDOR e do
Núcleo de Estudos e Extensão em Agroecologia -NEEA, ambos vinculados a Universidade de
Araraquara/SP.
CYNTIA MEIRELES MARTINS
Engenheira Agrônoma, graduada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Mestra em
Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Doutora em Ciências Agrárias pela
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Professor do Programa de Pós-Graduação em
Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia (PGAGRO-UFRA).
CYRO HENRIQUE LIMA DOS SANTOS
Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do Piauí (1999), mestrado em
Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2002). É professor do quadro efetivo com
Dedicação Exclusiva desde 2003. Terminou o doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2010). Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase a fertilidade e adubação, manejo ecológico do solo, atuando principalmente
nos seguintes temas: agroecologia, cultivo orgânico e no aprendizado para a adoção de conceitos e
práticas agroecológicas por agricultores familiares de comunidades rurais do Estado do Piauí, com
vistas à sustentabilidade econômica, ambiental e social, além de possibilitar a autonomia do
sistema agrícola e do produtor, a fim de torná-lo sujeito político pleno para uma sociedade
democrática e sustentável.
DAVID FERNANDES LIMA
Graduado em Farmácia pela Universidade Federal do Ceará (1999). Doutorado em Biotecnologia
pela Rede Nordeste de Biotecnologia RENORBIO - Universidade Federal do Piauí (2016). Mestrado
em Farmacologia pela Universidade Federal do Piauí (2011). Especialização Lato Sensu em Plantas
Medicinais pela Universidade Federal de Lavras - UFLA (2008). Atualmente é Professor Adjunto de
Farmacologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco do Colegiado Acadêmico de
Medicina do Campus de Paulo Afonso - BA (CMED-PAV), Docente permanente do Doutorado
Profissional em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial UNIVASF- Campus Petrolina.
DEIZIANE LIMA CAVALCANTE
Engenheira Agrônoma com mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, ambas pela
Universidade Federal do Ceará, atualmente é doutoranda em Agroecologia e Desenvolvimento
Territorial e docente na Universidade Estadual do Ceará, atuando também nas áreas de
Agroecologia, meio ambiente e educação.
DELÂNIO BRASIL DE SIQUEIRA
Graduado em Agronomia pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI (2017). Mestrado em
Agronomia - Produção Vegetal pela Universidade Federal do Piauí - UFPI (2019).
EDUARDO TELES BARBOSA MENDES
Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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FABRÍCIO KHOURY REBELLO
Economista, graduado pela Universidade da Amazônia (UNAMA). Mestre em Ciências Agrárias,
área de concentração em Agriculturas Amazônicas pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Doutor em Ciências Agrárias, área de concentração em Agroecossistemas da Amazônia pela
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Professor do Programa de Pós-Graduação em
Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia (PGAGRO-UFRA).
FERNANDO CHRISTIANO MORELLI
Possui Graduação em Medicina Veterinária pela UNESP - Universidade Estadual Paulista - Campus
de Botucatu; Especialização pela FCAA - Faculdades Ciências Agrárias de Andradina; Mestrado
pela UNESP - Universidade Estadual Paulista - Campus de Araçatuba; e Especialização pela
Universidade de Liége - Bélgica. Atualmente é extensionista do ITESP - Instituto de Terras do
Estado de São Paulo, em Andradina e professor da FEA - Fundação Educacional de Andradina,
ministrando aulas no curso de Medicina Veterinária.
FLÁVIO DUARTE DA FONSECA
Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1989). Atualmente é
Diretor de Wxtensão do Intituto Agronômico de Pernambuco. Tem experiencia prática em trabalho
com organizações sociais, atuando como facilitador em diversas atividades para elaboração de
planos de ação para as organizações e para a elaboração do Planos Territoriais de
Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS). Tem experiência em implantação e manejo de
agroflorestas, produtor agroecológico e experimentador de alternativas produtivas sustentáveis
para a agricultura familiar orientadas pela Agroecologia e Permacultura. Desenvolveu por 12 anos
atividades de produção, agroindustrialização e comercialização de produtos agroecológicos no
Sitio Nova Canaã em Olinda/PE. Foi coordenador pedagógico e professor do Curso Técnico de Nível
Médio de Agropecuária com ênfase em Agroecologia da Escola Técnica Estadual Justulino Ferreira
Gomes; Coordenador Pedagógico do Curso de Qualificação Profissional para técnicos de nível
médio e superior promovido pelo Instituto Cidadania do Nordeste(ICN) em parceria com o
Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Vice-presidente Nordeste da Associação Brasileira de
Agroecologia. Participa do Núcleo de Agroecologia e Campesinato da UFRPE como colaborador.
Atua principalmente nos seguintes temas: agricultura de base ecológica, implantação e manejo de
SAF's e implantação e manejo de sistemas de produção agroecológicos.
FLÁVIO LUIZ SIMÕES CRESPO
Graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1993),
Mestre em Agronomia/ Produção Vegetal pela Universidade Federal do Piauí (2011). Atuou como
Professor substituto do curso de agronomia da Universidade Estadual do Piauí campus de
Parnaíba (- 2013), consultor do projeto de fruticultura orgânica nos Tabuleiros Litorâneos do Piauí
- Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (- 2012), técnico em incubação de cooperativas
populares da ITCP/COPPE/UFRJ (2007-(2009), consultor JEF Mangue/PNUD (2011-2012 e 2014).
Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agroecologia e Fitotecnia. Membro dos
Grupos: de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia Cajuí e da ONG Comissão Ilha Ativa.
Atualmente é professor efetivo do curso de Agricultura do Instituto Federal do Piauí, campus Cocal.
GERALDO BARROS JUSTINO
Residente na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará. Graduado em Serviço Social pelo Centro
Universitário Dr Leão Sampaio UNILEÃO, também em Juazeiro do Norte. Atualmente trabalha no
Centro de Referência da Assistência Social - CRAS do bairro Seminário na cidade do Crato, além de
trabalhar na área cultural, principalmente com teatro, onde, no momento, atua no grupo de teatro
Trupe dos Pensantes, com sede na cidade do Crato. Possui atividades junto a movimentos sociais e
culturais da região.
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GUSTAVO SILVA CARREIRO DE SOUZA
Engenheiro Agrônomo. Licenciado em Ciências Agrícolas. Bolsista CNPq. Grupo de Pesquisa
Agroecologia. Universidade Federal Rural de Pernambuco.
JAIANE DA SILVA BARBOSA EVANGELISTA
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Ceará. Mestre em Agronomia pelo Programa
de Pós Graduação em Agronomia/Fitotecnia Da Universidade Federal do Ceará.
JOÃO FLÁVIO BOMFIM GOMES
Analista de Transferência de Tecnologia na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
EMBRAPA, lotado na Embrapa Tabuleiros Costeiros. Possui mestrado em Desenvolvimento
Socioespacial e Regional pela Universidade Estadual do Maranhão (2016), Especialização em
Gestão de Cidades e Planejamento Urbano e Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Tiradentes (2002), com experiência na área de Planejamento Urbano e
Regional/Demografia, com ênfase em Desenvolvimento Regional e Territorial. É graduando em
Geografia. Vem desenvolvendo atividades nos seguintes temas: agroecologia, agricultura familiar,
agricultura urbana, desenvolvimento de mercados e territórios, sistemas agroalimentares, análise
territorial, análise econômico-ecológica de agroecossistemas (Método LUME/AS-PTA) e avaliação
de Políticas Públicas (J-PAL).
JONATTA SOUSA PAULINO
Graduado (Bacharel e Licenciado), Mestre e Doutor em Ciências Sociais, tendo concluído sua Pós-
Graduação na Universidade Federal de Campina Grande, atuou, em sua carreira acadêmica,
principalmente nas áreas de Sociologia Ambiental, Sociologia Rural e Sociologia da Ciência, tendo
pesquisado mais a fundo o discurso agroecológico e sua institucionalização no Brasil. Atualmente é
professor de Sociologia na Secretaria de Educação, Ciência e Tecnologia do estado da Paraíba,
tendo atuado também enquanto Coordenador Pedagógico, Consultor de Tecnologia de Gestão
Educacional e Especialista em Gestão a serviço da Comissão Executiva de Educação Integral
paraibana.
JORGE LUIZ SCHIRMER DE MATTOS
Coordenador do Doutorado Profissional em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial - UFRPE.
Graduado em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo (1993). Mestre em Zootecnia pela
Universidade Federal de Larvas (1995). Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa
(2001). Realizou estágio pós-doutoral na Universidade Pablo de Olavide, Sevilha - Espanha (2014).
É professor Associado III da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Coordenou o Núcleo de
Agroecologia e Campesinato/UFRPE. Membro da CPOrg-PE. Lider do Grupo de Pesquisa
Agroecologia. Tem experiência em Agroecologia, atuando principalmente nos seguintes temas:
transição agroecológica, manejo de agroecossistemas, sistemas de produção de base ecológica,
metabolismo social agrário, assentamentos de reforma agrária, extensão rural agroecológica e
educação agroecológica.
JORGE ROBERTO TAVARES DE LIMA
Engenheiro Agronômo pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (1971). Doutor em
Agroecologia pela Universidad de Córdoba (UCO-Espanha). Atualmente é Professor Associado II na
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Participa da área de Educação Agrícola e Extensão
Rural do Departamento de Educação e do Núcleo de Agroecologia e Campesinato (NAC) da
Universidade Federal Rural de Pernambuco. Tem experiência nos seguintes temas: Agroecologia,
Educação, Extensão Rural e Associativismo.
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JOSÉ DOS SANTOS BENÍCIO
É técnico agrícola, gestor do Campo Experimental de Arari, da Embrapa Cocais. Possui experiência
em cultivo de arroz, milho, melancia e plantas medicinais.
JOSÉ FLÁVIO CARDOSO ZUZA
Possui curso técnico em Aquicultura pelo Colégio Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN/UFPB), com
habilitação em piscicultura, graduação em Ciências Agrárias pela UFPB, mestrado no Programa de
Pós-graduação em Ciência do Solo (PPGCS/UFPB) e doutorando no Programa de Pós-graduação em
Ciência do Solo (PPGCS-UFSM). Atualmente faz parte do grupo de pesquisas relacionadas a
biotransformações do carbono e nitrogênio durante decomposição de resíduos. Além disso, possui
experiencia na área de Fitotecnia, manejo e conservação do solo e água.
JOSÉ NUNES DA SILVA
Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró(1998), Mestrado em
Extensão Rural pela Universidade Federal de Viçosa (2001) e Doutorado em Sociologia, pela
Universidade Federal de Pernambuco (2008). Tem experiência na área de Extensão Rural,
Agroecologia e Sociologia, com ênfase em Sociologia Rural e Sociologia da Juventude, atuando
principalmente nos seguintes temas: Educação em Agroecologia; Agricultura Familiar,
Agroecologia e Campesinato; Campesinato negro, Reforma Agrária, Assentamentos Rurais,
Juventude Rural, Povos Indígenas do nordeste brasileiro e Políticas Públicas para o rural brasileiro.
JOYCE APARECIDA TAVARES DE MIRANDA
Doutora em ciências farmacêuticas, com complementação pedagógica em biologia. Atualmente é
investigadora pós-doutorado na Universidade do Porto, atuando determinação de contaminantes
em amostras de pescado marinho.
KALINE LÍGIA DO NASCIMENTO
Graduanda em Bacharelado em Agroecologia pela Universidade Estadual da Paraíba. Atualmente é
bolsista do projeto de extensão de Bem Estar Animal e voluntário no projeto de pesquisa de
Avaliação Estrutural de Plantas Medicinais, pela mesma instituição.
KAREM CRISTINE PIROLA NARIMATSU
Possui Graduação, Mestrado e Doutorado em Agronomia pela UNESP - Universidade Estadual
Paulista - Campus de Ilha Solteira; Licenciatura em Pedagogia pela Estácio Uniseb de Ribeirão
Preto (SP); Especialização em Docência no Ensino Técnico e Superior pela FIU- Faculdades
Integradas Urubupungá de Pereira Barreto (SP); e Especialização em Agricultura Orgânica pela
Faculdade Futura de Votuporanga (SP). Atualmente é professora do CPS - Centro Paula Souza
(ETEC - Escola Técnica Estadual de Andradina), ministrando aulas nos cursos técnicos em
Agropecuária e em Agronegócio e professora da FEA - Fundação Educacional de Andradina,
ministrando aulas no curso de Agronomia.
LARA IZABEL PIRES CÂNDIDO
Graduanda em Medicina na Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Paulo Afonso-
BA.
LUCAS ALEXANDRE RIBEIRO CARVALHO
Graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1993),
Mestre em Agronomia/ Produção Vegetal pela Universidade Federal do Piauí (2011). Atuou como
Professor substituto do curso de agronomia da Universidade Estadual do Piauí campus de
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Parnaíba (- 2013), consultor do projeto de fruticultura orgânica nos Tabuleiros Litorâneos do Piauí
- Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (- 2012), técnico em incubação de cooperativas
populares da ITCP/COPPE/UFRJ (2007-(2009), consultor JEF Mangue/PNUD (2011-2012 e 2014).
Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Agroecologia e Fitotecnia. Membro dos
Grupos: de Estudo, Pesquisa e Extensão em Agroecologia Cajuí e da ONG Comissão Ilha Ativa.
Atualmente é professor efetivo do curso de Agricultura do Instituto Federal do Piauí, campus Cocal.
MÁRCIA BENTO MOREIRA
Graduada (1995) em Medicina Veterinária pela Universidade de Marília; Mestre (2001) em
Técnicas Operatórias e Cirurgia Experimental pela Universidade Federal de São Paulo - Escola
Paulista de Medicina (UNIFESP - EPM); Doutora (2006) em Cirurgia e Experimentação pela
UNIFESP - EPM. Em 2011 titulada médica veterinária hiperbarista pela Sociedade Brasileira de
Medicina Hiperbárica. Na Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASE - possui as
seguintes funções e cargos: Professora Adjunta III, ministra aulas na Graduação e na Pós-
Graduação em Extensão Rural e no de Agroecologia e Desenvolvimento Territorial.
MARCIVANIA MASCARENHAS OLIVEIRA
Graduada em Recursos Hídricos pela Faculdade de Tecnologia do Cariri- FATEC.
Pós Graduada em Manejo dos Recursos Naturais do Semiárido pelo Instituto Federal do Ceará-
IFCE Crato.
MARCOS ANTÔNIO SOUZA DOS SANTOS
Engenheiro Agrônomo, graduado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA).
Especialista em Administração Rural pela Universidade Federal de Lavras (UFLA). Mestre em
Economia pela Universidade da Amazônia (UNAMA) e Doutor em Ciência Animal - Economia e
Gestão de Sistemas Pecuários - pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor do Programa
de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia (PGAGRO-UFRA).
MARIA ADRIANA ALVES DANTAS
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Educadora Popular e
integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Atualmente presta serviços como
mobilizadora social em Brasília. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Extensão
Rural, Agroecologia e Desenvolvimento Rural, atuando principalmente nos seguintes temas:
associativismo e cooperativismo, meio ambiente, sustentabilidade e políticas públicas.
MARIA DO SOCORRO ALVES BEZERRA XAVIER
Pós graduada em Psicopedagogia (2012) Faculdades Integradas de Patos. Graduada em Pedagogia
(2009) Universidade Vale do Acaraú. Experiência na área da educação infantil e jovens e adultos.
Atualmente leciona o ensino fundamental I na rede municipal de ensino de Lagoa Seca e Pocinhos,
PB.
MARIA LÚCIA BAHIA LOPES
Economista, graduada pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestra em Economia pela
Universidade da Amazônia (UNAMA) e Doutora em Economia Aplicada pela Universidade Federal
de Viçosa (UFV). Economista do Banco da Amazônia. Professora do Programa de Pós-Graduação
em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano da Universidade da Amazônia (UNAMA).
MARIANA COELHO BEZERRA
Mestre em Tecnologia Agroalimentar (2018) Universidade Federal da Paraíba. Especialista em
Educação Ambiental e Sustentabilidade (2016) Faculdades Integradas de Patos. Graduada em
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bacharel em Agroecologia (2014) Universidade Estadual da Paraíba. Atualmente, é graduanda do
curso superior em Tecnologia em Gastronomia, Centro Universitário Maurício de Nassau.
RAISSA DIAS THEBERGE
Bacharel em Ciências Biológicas - modalidade Ecologia, pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
RAQUEL BARROS JUSTINO
Engenheira Agrônoma formada pela Universidade Federal do Cariri, vivencia e pesquisa sobre
Agroecologia e Extensão Rural, desenvolve trabalhos com mulheres agricultoras e artesãs,
militante do Levante Popular da Juventude.
RENATA DA SILVA BOMFIM GOMES
Pesquisadora A da Embrapa Tabuleiros Costeiros. Graduada em Agronomia pela Universidade
Federal de Uberlândia (2003), mestrado e doutorado em Agronomia/Fitotecnia pela Universidade
Federal de Lavras (2005 e 2008). Tem experiência em Agronomia, com ênfase em Sistemas
Sustentáveis de Produção Vegetal, Agroecologia, Agricultura Orgânica e Agricultura Familiar.
Desde 2014 é Editora Científica da Revista Horticultura Brasileira.
ROSANA QUARESMA MANESCHY
Possui graduação em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (1999), mestrado em
Ciência Animal pela Universidade Federal do Pará (2003) e doutorado em Ciências Agrárias.
Atualmente é Professora Associado II da Universidade Federal do Pará, do Núcleo de Meio
Ambiente (NUMA). É professora do Programa de Pós-graduação Mestrado Profissional em Gestão
de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia, do NUMA/UFPA. É Editora-chefe da
Revista Agroecossistemas. É líder do grupo de pesquisa "Meio Ambiente, Desenvolvimento Rural e
Inovação Tecnológica na Amazônia”.
ROSILVA BRITO RODRIGUES
Possui Graduação em Serviço Social pela FCMT - Faculdades Unidas Católicas do Mato Grosso e
Especialização em Extensão Rural para o Desenvolvimento Sustentável pela UFRPE - Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Atualmente é extensionista do ITESP - Instituto de Terras do Estado
de São Paulo, em Andradina.
SEBASTIÃO SOARES JUNIOR
Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialista em
Ciências e Arte pela IOC - Fiocruz.
SHIRLEYDE ALVES DO SANTOS
Farmacêutica/Bioquímica . Licenciatura especial com habilitação em Ciências Biológicas. Mestre
em Saúde Pública. Professora do Bacharelado em Agroecologia e do Técnico em Agroindústria /
Campus II UEPB. Coordenadora do Programa de Extensão "Agroecologia, saúde e cidadania: ações
do Núcleo de Extensão Rural Agroecológica (NERA) pelo bem viver". Integra a Campanha
Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a Comissão da Produção Orgânica do Estado da
Paraíba- CPOrg/PB, e faz parte da Coordenação Colegiada do GT Saúde da ABA Agroecologia.
SIMONE CECCON
Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Passo Fundo (1997) e mestrado em
Educação Para Ciência - Bauru pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2002).
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Atualmente é professor assistente da Universidade Federal da Grande Dourados. Tem experiência
na área de Educação, com ênfase em ensino de Ciências, atuando principalmente nos seguintes
temas: ensino de ciências e biologia, formação de professores, educação ambiental, cidadania e
gestão de resíduos sólidos.
TAHNITY HAARAD MOURA CHAVES
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal Rural da Amazônia -UFRA (2010-2014).
Mestra em Gestão dos Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia - UFPA (2016-
2018).
VALDINAR BEZERRA DOS SANTOS
Possui graduação em Agronomia pela Universidade Federal do Piauí (1999), mestrado em
Agronomia pela Universidade Federal de Pelotas (2002). É professor do quadro efetivo com
Dedicação Exclusiva desde 2003. Terminou o doutorado em Agronomia (Produção Vegetal) pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2010). Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase a fertilidade e adubação, manejo ecológico do solo, atuando principalmente
nos seguintes temas: agroecologia, cultivo orgânico e no aprendizado para a adoção de conceitos e
práticas agroecológicas por agricultores familiares de comunidades rurais do Estado do Piauí, com
vistas à sustentabilidade econômica, ambiental e social, além de possibilitar a autonomia do
sistema agrícola e do produtor, a fim de torná-lo sujeito político pleno para uma sociedade
democrática e sustentável.
VERA LÚCIA SILVEIRA BOTTA FERRANTE
Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP (1966) e doutorado em Sociologia pela UNESP (1974). Defendeu livre docência na UNESP
(1992), defendeu concurso de Professor Titular em 1998. Atualmente é coordenadora do
Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente e do
PIBIC/CNPq/UNIARA da Universidade de Araraquara - UNIARA. Desde julho de 2016 foi designada
a exercer a função de Pró-Reitora de Pós-Graduação Stricto Sensu e Pesquisa da Universidade de
Araraquara.
VICENTE PAULO DA COSTA NETO
Graduado em Agronomia pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI. Mestrado em Agronomia -
Produção Vegetal pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Doutorando em Agronomia -
Produção Vegetal pela Universidade Federal do Piauí - UFPI.
WAGNER LUIZ RAMOS BARBOSA
Farmacêutico Industrial pela Faculdade de Farmácia da UFRJ (1980); Mestre em Química, IME-RJ
(1980) e Doutor em Ciências Naturais, Universidade de Bonn-Alemanha (1994). Professor Titular
da UFPa, Orientador nos PPG de Ciências Farmacêuticas; de Gestão de Recursos Naturais e
Desenvolvimento Local na Amazônia-PPGEDAM, e no PPG de Inovação Farmacêutica e no
PPGEDAM. Consultor ad hoc da Farmacopeia Brasileira, Acadêmico Titular da Academia de
Ciências Farmacêuticas do Brasil e Membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Marapanim-
PA, do Conselho Deliberativo da RESEX de Maracanã, e da RESEX Mestre Lucindo, Marapanim,
ambas no Estado do Pará. Desde 1997 é professor efetivo da Universidade Federal do Pará Vice-
coordenador do PPGIF/ICS/UFPA.
WÉLITON PEREZ DA SILVA MATOS
Engenheiro Agrícola e mestrando em Engenharia de Sistemas Agrícolas, pela UFGD. Trabalha com
sistemas agroflorestais em base agroecológica, apicultura, meliponicultura e restauração
ambiental. Atualmente, coordenador de reflorestamento e restauração ambiental, na Fabiani
Agropecuária.
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